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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pão Nosso-Francisco Cândido Xavier

Nota do Blog: Apesar de estar integralmente apresentado. Esse livro ainda não está totalmente formatado nesse blog, para uma leitura mais prazerosa.
CARO AMIGO: Caso você tenha gostado do livro e tenha condições de comprá-lo, faça-o, pois os direitos autorais são doados.

Muita Paz

PÃO NOSSO

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

DITADO PELO ESPÍRITO EMMANUEL

NO SERVIÇO CRISTÃO

“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal do Cristo, para que

cada um receba segundo o que tiver feito, estando no corpo, o bem ou o mal.”

— Paulo. (2ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 10.)

Não falta quem veja no Espiritismo mero campo de experimentação

fenomênica, sem qualquer significação de ordem moral para as criaturas.

Muitos aprendizes da Consoladora Doutrina, desse modo, limitam-se às

investigações de laboratório ou se limitam a discussões filosóficas.

É imperioso reconhecer, todavia, que há tantas categorias de homens

desencarnados, quantas são as dos encarnados.

Entidades discutidoras, levianas, rebeldes e inconstantes transitam em toda

parte. Além disso, incógnitas e problemas surgem para os habitantes dos dois

planos.

Em vista de semelhantes razões, os adeptos do progresso efetivo do

mundo, distanciados da vida física, pugnam pelo Espiritismo com Jesus,

convertendo-nos o intercambio em fator de espiritualidade santificante.

Acreditamos que não se deve atacar outro círculo de vida, quando não nos

encontramos interessados em melhorar a personalidade naquele em que

respiramos.

Não vale pesquisar recursos que não nos dignifiquem.

Eis por que para nós outros, que supomos trazer o coração acordado para a

responsabilidade de viver, Espiritismo não expressa simples convicção de

imortalidade: é clima de serviço e edificação.

Não adianta guardar a certeza na sobrevivência da alma, além da morte,

sem o preparo terrestre na direção da vida espiritual. E nesse esforço de

habilitação, não dispomos de outro guia mais sábio e mais amoroso que o

Cristo.

Somente à luz de suas lições sublimes, é possível reajustar o caminho,

renovar a mente e purificar o coração.

Nem tudo o que é admirável é divino.

Nem tudo o que é grande é respeitável.

Nem tudo o que é belo é santo.

Nem tudo o que é agradável é útil.

O problema não é apenas de saber. É o de reformar-se cada um para a

extensão do bem.

Afeiçoemo-nos, pois, ao Evangelho sentido e vivido, compreendendo o

imperativo de nossa iluminação interior, porque, segundo a palavra oportuna e

sábia do Apóstolo, “todos devemos comparecer ante o tribunal do Cristo, a fim

de recebermos, de acordo com o que realizamos, estando no corpo, o bem ou

o mal”.

EMMANUEL

Pedro Leopoldo, 22 de fevereiro de 1950.

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1

MÃOS À OBRA

“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem

doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para

edificação.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 14,

VERSÍCULO 26.)

A igreja de Corinto lutava com certas dificuldades mais fortes, quando

Paulo lhe escreveu a observação aqui transcrita.

O conteúdo da carta apreciava diversos problemas espirituais dos

companheiros do Peloponeso, mas podemos insular o versículo e aplicá-lo a

certas situações dos novos agrupamentos cristãos, formados no ambiente do

Espiritismo, na revivescência do Evangelho.

Quase sempre notamos intensa preocupação nos trabalhadores, por

novidades em fenomenologia e revelação.

Alguns núcleos costumam paralisar atividades quando não dispõem de

médiuns adestrados.

Por quê?

Médium algum solucionará, em definitivo, o problema fundamental da

iluminação dos companheiros.

Nossa tarefa espiritual seria absurda se estivesse circunscrita à freqüência

mecânica de muitos, a um centro qualquer, simplesmente para assinalarem o

esforço de alguns poucos.

Convençam-se os discípulos de que o trabalho e a realização pertencem a

todos e que é imprescindível se movimente cada qual no serviço edificante que

lhe compete. Ninguém alegue ausência de novidades, quando vultosas

concessões da esfera superior aguardam a firme decisão do aprendiz de boavontade,

no sentido de conhecer a vida e elevar-se.

Quando vos reunirdes, lembrai a doutrina e a revelação, o poder de falar e

de interpretar de que já sois detentores e colocai mãos à obra do bem e da luz,

no aperfeiçoamento indispensável.

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2

PENSA UM POUCO

“As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas testificam de mim.”

— Jesus. (JOÃO, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 25.)

É vulgar a preocupação do homem comum, relativamente às tradições

familiares e aos institutos terrestres a que se prende, nominalmente, exaltandose

nos títulos convencionais que lhe identificam a personalidade.

Entretanto, na vida verdadeira, criatura alguma é conhecida por

semelhantes processos. Cada Espírito traz consigo a história viva dos próprios

feitos e somente as obras efetuadas dão a conhecer o valor ou o demérito de

cada um.

Com o enunciado, não desejamos afirmar que a palavra esteja desprovida

de suas vantagens indiscutíveis; todavia, é necessário compreender-se que o

verbo é também profundo potencial recebido da Infinita Bondade, como recurso

divino, tornando-se indispensável saber o que estamos realizando com esse

dom do Senhor Eterno.

A afirmativa de Jesus, nesse particular, reveste-se de imperecível beleza.

Que diríamos de um Salvador que estatuísse regras para a Humanidade,

sem partilhar-lhe as dificuldades e impedimentos?

O Cristo iniciou a missão divina entre homens do campo, viveu entre

doutores irritados e pecadores rebeldes, uniu-se a doentes e aflitos, comeu o

duro pão dos pescadores humildes e terminou a tarefa santa entre dois

ladrões.

Que mais desejas? Se aguardas vida fácil e situações de evidência no

mundo, lembra-te do Mestre e pensa um pouco.

6

3

O ARADO

“E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás

é apto para o reino de Deus.” — (LUCAS, CAPÍTULO 9, VERSÍCULO 62.)

Aqui, vemos Jesus utilizar na edificação do Reino Divino um dos mais

belos símbolos.

Efetivamente, se desejasse, o Mestre criaria outras imagens. Poderia

reportar-se às leis do mundo, aos deveres sociais, aos textos da profecia, mas

prefere fixar o ensinamento em bases mais simples.

O arado é aparelho de todos os tempos. É pesado, demanda esforço de

colaboração entre o homem e a máquina, provoca suor e cuidado e, sobretudo,

fere a terra para que produza. Constrói o berço das sementeiras e, à sua

passagem, o terreno cede para que a chuva, o sol e os adubos sejam

convenientemente aproveitados.

É necessário, pois, que o discípulo sincero tome lições com o Divino

Cultivador, abraçando-se ao arado da responsabilidade, na luta edificante, sem

dele retirar as mãos, de modo a evitar prejuízos graves à “terra de si mesmo”.

Meditemos nas oportunidades perdidas, nas chuvas de misericórdia que

caíram sobre nós e que se foram sem qualquer aproveitamento para nosso espírito,

no sol de amor que nos vem vivifícando há muitos milênios, nos adubos

preciosos que temos recusado, por preferirmos a ociosidade e a indiferença.

Examinemos tudo isto e reflitamos no símbolo de Jesus.

Um arado promete serviço, disciplina, aflição e cansaço; no entanto, não se

deve esquecer que, depois dele, chegam semeaduras e colheitas, pães no

prato e celeiros guarnecidos.

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4

ANTES DE SERVIR

“Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para

servir.” — Jesus. (MATEUS, CAPÍTULO 20, VERSÍCULO 28.)

Em companhia do espírito de serviço, estaremos sempre bem guardados.

A Criação inteira nos reafirma esta verdade com clareza absoluta.

Dos reinos inferiores às mais altas esferas, todas as coisas servem a seu

tempo.

A lei do trabalho, com a divisão e a especialização nas tarefas, prepondera

nos mais humildes elementos, nos variados setores da Natureza.

Essa árvore curará enfermidades, aquela outra produzirá frutos. Há pedras

que contribuem na construção do lar; outras existem calçando os caminhos.

O Pai forneceu ao filho homem a casa planetária, onde cada objeto se

encontra em lugar próprio, aguardando somente o esforço digno e a palavra de

ordem, para ensinar à criatura a arte de servir. Se lhe foi doada a pólvora

destinada à libertação da energia e se a pólvora permanece utilizada por

instrumento de morte aos semelhantes, isto corre por conta do usufrutuário da

moradia terrestre, porque o Supremo Senhor em tudo sugere a prática do bem,

objetivando a elevação e o enriquecimento de todos os valores do Patrimônio

Universal.

Não olvidemos que Jesus passou entre nós, trabalhando. Examinemos a

natureza de sua cooperação sacrificial e aprendamos com o Mestre a felicidade

de servir santamente.

Podes começar hoje mesmo.

Uma enxada ou uma caçarola constituem excelentes pontos de início. Se

te encontras enfermo, de mãos inabilitadas para a colaboração direta, podes

principiar mesmo assim, servindo na edificação moral de teus irmãos.

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5

SALÁRIOS

“E contentai-vos com o vosso soldo.” — João Batista. (LUCAS,

CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 14.)

A resposta de João Batista aos soldados, que lhe rogavam

esclarecimentos, é modelo de concisão de bom senso.

Muita gente se perde através de inextricáveis labirintos, em virtude da

compreensão deficiente acerca dos problemas de remuneração na vida

comum.

Operários existem que reclamam salários devidos a ministros, sem

cogitarem das graves responsabilidades que, não raro, convertem os

administradores do mundo em vítimas da inquietação e da insônia, quando não

seja em mártires de representações e banquetes.

Há homens cultos que vendem a paz do lar em troca da dilatação de

vencimentos.

Inúmeras pessoas seguem, da mocidade à velhice do corpo, ansiosas e

descrentes, enfermas e aflitas, por não se conformarem com os ordenados

mensais que as circunstâncias do caminho humano lhes assinalam, dentro dos

imperscrutáveis Desígnios.

Não é por demasia de remuneração que a criatura se integrará nos

quadros divinos.

Se um homem permanece consciente quanto aos deveres que lhe

competem, quanto mais altamente pago, estará mais intranqüilo.

Desde muito, esclarece a filosofia popular que para a grande nau surgirá a

grande tormenta.

Contentar-se cada servidor com o próprio salário é prova de elevada

compreensão, ante a justiça do Todo-Poderoso.

Antes, pois, de analisar o pagamento da Terra, habitua-te a valorizar as

concessões do Céu.

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6

VALEI-VOS DA LUZ

“Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem.”

— Jesus. (JOÃO, CAPÍTULO 12, VERSÍCULO 35.)

O homem de meditação encontrará pensamentos divinos, analisando o

passado e o futuro.

Ver-se-á colocado entre duas eternidades — a dos dias que se foram e a

que lhe acena do porvir.

Examinando os tesouros do presente, descobrirá suas oportunidades

preciosas.

No futuro, antevê a bendita luz da imortalidade, enquanto que no pretérito

se localizam as trevas da ignorância, dos erros praticados, das experiências

mal vividas. Esmagadora maioria de personalidades humanas não possui outra

paisagem, com respeito ao passado próximo ou remoto, senão essa

constituída de ruína e desencanto, competindo-as a revalorizar os recursos em

mão.

A vida humana, pois, apesar de transitória, é a chama que vos coloca em

contacto com o serviço de que necessitais para a ascensão justa. Nesse abençoado

ensejo, é possível resgatar, corrigir, aprender, ganhar, conquistar, reunir,

reconciliar e enriquecer-se no Senhor.

Refleti na observação do Mestre e apreender-lhe-eis o luminoso sentido.

Andai enquanto tendes a luz, disse Ele.

Aproveitai a dádiva de tempo recebida, no trabalho edificante.

Afastai-vos da condição inferior, adquirindo mais alto entendimento.

Sem os característicos de melhoria e aprimoramento no ato de marcha,

sereis dominados pelas trevas, isto é, anulareis vossa oportunidade santa, tornando

aos impulsos menos dignos e regressando, em seguida à morte do

corpo, ao mesmo sítio de sombras, de onde emergistes para vencer novos

degraus na sublime montanha da vida.

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7

A SEMENTE

“E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o

simples grão de trigo ou de outra qualquer semente.” Paulo. (1ª

EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 15, VERSÍCULO 37.)

Nos serviços da Natureza, a semente reveste-se, aos nossos olhos, do

sagrado papel de sacerdotisa do Criador e da Vida.

Gloriosa herdeira do poder divino, coopera na evolução do mundo e

transmite silenciosa e sublime lição, tocada de valores infinitos, à criatura.

Exemplifica sabiamente a necessidade dos pontos de partida, as

requisíções justas de trabalho, os lugares próprios, os tempos adequados.

Há homens inquietos e insaciados que ainda não conseguiram

compreendê-la. Exigem as grandes obras de um dia para outro, impõem

medidas tirânicas pela força das ordenações ou das armas ou pretendem trair

as leis profundas da Natureza; aceleram os processos da ambição,

estabelecem domínio transitório, alardeiam mentirosas conquistas, incham-se e

caem, sem nenhuma edificação santificadora para si ou para outrem.

Não souberam aprender com a semente minúscula que lhes dá trigo ao

pão de cada dia e lhes garante a vida, em todas as regiões de luta planetária.

Saber começar constitui serviço muito importante.

No esforço redentor, é indispensável que não se percam de vista as

possibilidades pequeninas: um gesto, uma palestra, uma hora, uma frase pode

representar sementes gloriosas para edificações imortais. Imprescindível, pois,

jamais desprezá-las.

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ANSIEDADES

“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem

cuidado de vós.” — (1ª EPÍSTOLA A PEDRO, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO

7.)

As ansiedades armam muitos crimes e jamais edificam algo de útil na

Terra.

Invariavelmente, o homem precipitado conta com todas as probabilidades

contra si.

Opondo-se às inquietações angustiosas, falam as lições de paciência da

Natureza, em todos os setores do caminho humano.

Se o homem nascesse para andar ansioso, seria dizer que veio ao mundo,

não na categoria de trabalhador em tarefa santificante, mas por desesperado

sem remissão.

Se a criatura refletisse mais sensatamente reconheceria o conteúdo de

serviço que os momentos de cada dia lhe podem oferecer e saberia vigiar, com

acentuado valor, os patrimônios próprios.

Indubitável que as paisagens se modificarão incessantemente, compelindonos

a enfrentar surpresas desagradáveis, decorrentes de nossa atitude inadequada,

na alegria ou na dor; contudo, representa impositivo da lei a nossa

obrigação de prosseguir diariamente, na direção do bem.

A ansiedade tentará violentar corações generosos, porque as estradas

terrenas desdobram muitos ângulos obscuros e problemas de solução difícil;

entretanto, não nos esqueçamos da receita de Pedro.

Lança as inquietudes sobre as tuas esperanças em Nosso Pai Celestial,

porque o Divino Amor cogita do bem-estar de todos nós.

Justo é desejar, firmemente, a vitória da luz, buscar a paz com

perseverança, disciplinar-se para a união com os planos superiores, insistir por

sintonizar-se com as esferas mais altas. Não olvides, porém, que a ansiedade

precede sempre a ação de cair.

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HOMENS DE FÉ

“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica,

assemelhá-lo-ei ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.”

— Jesus. (MATEUS, CAPÍTULO 7, VERSÍCULO 24.)

Os grandes pregadores do Evangelho sempre foram interpretados à conta

de expressões máximas do Cristianismo, na galeria dos tipos veneráveis da fé;

entretanto, isso somente aconteceu, quando os instrumentos da verdade,

efetivamente, não olvidaram a vigilância indispensável ao justo testemunho.

É interessante verificar que o Mestre destaca, entre todos os discípulos,

aquele que lhe ouve os ensinamentos e os pratica. Daí se conclui que os

homens de fé não são aqueles apenas palavrosos e entusiastas, mas os que

são portadores igualmente da atenção e da boa-vontade, perante as lições de

Jesus, examinando-lhes o conteúdo espiritual para o trabalho de aplicação no

esforço diário.

Reconforta-nos assinalar que todas as criaturas em serviço no campo

evangélico seguirão para as maravilhas interiores da fé. Todavia, cabe-nos

salientar, em todos os tempos, o subido valor dos homens moderados que,

registrando os ensinos e avisos da Boa Nova, cuidam, desvelados, da solução

de todos os problemas do dia ou da ocasião, sem permitir que suas edificações

individuais se processem, longe das bases cristãs imprescindíveis.

Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e indispensável,

mas aprendiz algum deverá esquecer o sublime valor do silêncio, a seu tempo,

na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a ponderação

se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos.

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SENTIMENTOS FRATERNOS

“Quanto, porém, à caridade fraternal, não necessitais de que vos

escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis

uns aos outros.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES,

CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 9.)

Forte contra-senso que desorganiza a contribuição humana, no divino

edifício do Cristianismo, é o impulso sectário que atormenta enormes fileiras de

seus seguidores.

Mais reflexão, mais ouvidos ao ensinamento de Jesus e essas batalhas

injustificáveis estariam para sempre apagadas.

Ainda hoje, com as manifestações do plano espiritual na renovação do

mundo, a cada momento surgem grupos e personalidades, solicitando fórmulas

do Além para que se integrem no campo da fraternidade pura.

Que esperam, entretanto, os companheiros esclarecidos para serem

efetivamente irmãos uns dos outros?

Muita gente se esquece de que a solidariedade legítima escasseia nos

ambientes onde é reduzido o espírito de serviço e onde sobra a preocupação

de criticar. Instituições notáveis são conduzidas à perturbação e ao extermínio,

em vista da ausência do auxílio mútuo, no terreno da compreensão, do trabalho

e da boa-vontade.

Falta de assistência? Não.

Toda obra honesta e generosa repercute nos planos mais altos,

conquistando cooperadores abnegados.

Quando se verifique a invasão da desarmonia nos institutos do bem, que

os agentes humanos acusem a si mesmos pela defecção nos compromissos

assumidos ou pela indiferença ao ato de servir. E que ninguém peça ao Céu

determinadas receitas de fraternidade, porque a fórmula sagrada e imutável

permanece conosco no “amai-vos uns aos outros”.

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O BEM É INCANSÁVEL

“E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” — Paulo. (2ª

EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 13.)

É muito comum encontrarmos pessoas que se declaram cansadas de

praticar o bem. Estejamos, contudo, convictos de que semelhantes alegações

não procedem de fonte pura.

Somente aqueles que visam determinadas vantagens aos interesses

particularistas, na zona do imediatismo, adquirem o tédio vizinho da

desesperação, quando não podem atender a propósitos egoísticos.

É indispensável muita prudência quando essa ou aquela circunstância nos

induz a refletir nos males que nos assaltam, depois do bem que julgamos haver

semeado ou nutrido.

O aprendiz sincero não ignora que Jesus exerce o seu ministério de amor

sem exaurir-se, desde o princípio da organização planetária. Relativamente aos

nossos casos pessoais, muita vez terá o Mestre sentido o espinho de nossa

ingratidão, identificando-nos o recuo aos trabalhos da nossa própria iluminação;

todavia, nem mesmo verificando-nos os desvios voluntários e

criminosos, jamais se esgotou a paciência do Cristo que nos corrige, amando,

e tolera, edificando, abrindo-nos misericordiosos braços para a atividade

renovadora.

Se Ele nos tem suportado e esperado através de tantos séculos, por que

não poderemos experimentar de ãnimo firme algumas pequenas decepções

durante alguns dias?

A observação de Paulo aos tessalonicenses, portanto, é muito justa. Se

nos entediarmos na prática do bem, semelhante desastre expressará em

verdade que ainda nos não foi possível a emersão do mal de nós mesmos.

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PENSASTE NISSO?

“Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, segundo

o que também nosso Senhor Jesus-Cristo já mo tem revelado.” - (2ª

EPÍSTOLA A PEDRO, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 14.)

Se muitas vezes grandes vozes do Cristianismo se referiram a supostos

crimes da carne, é necessário mencionar as fraquezas do “eu”, as

inferioridades do próprio espírito, sem concentrar falsas acusações ao corpo,

como se este representasse o papel de verdugo implacável, separado da alma,

que lhe seria, então, prisioneira e vítima.

Reparamos que Pedro denominava o organismo, como sendo o seu

tabernáculo.

O corpo humano é um conjunto de células aglutinadas ou de fluidos

terrestres que se reúnem, sob as leis planetárias, oferecendo ao Espírito a

santa oportunidade de aprender, valorizar, reformar e engrandecer a vida.

Freqüentemente o homem, qual operário ocioso ou perverso, imputa ao

instrumento útil as más qualidades de que se acha acometido. O corpo é concessão

da Misericórdia Divina para que a alma se prepare ante o glorioso

porvir.

Longe da indébita acusação à carne, reflitamos nos milênios despendidos

na formação desse tabernáculo sagrado no campo evolutivo.

Já pensaste que és um Espírito imortal, dispondo, na Terra, por algum

tempo, de valiosas potências concedidas por Deus às tuas exigências de

trabalho?

Tais potências formam-te o corpo.

Que fazes de teus pés, de tuas mãos, de teus olhos, de teu cérebro?

sabes que esses poderes te foram confiados para honrar o Senhor iluminando

a ti mesmo? Medita nestas interrogações e santifica teu corpo, nele

encontrando o templo divino.

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ESTAÇÕES NECESSÁRIAS

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os

vossos pecados e venham assim os tempos do refrigério pela presença

do Senhor.” — (ATOS, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 19.)

Os crentes inquietos quase sempre admitem que o trabalho de redenção

se processa em algumas providências convencionais e que apenas com certa

atividade externa já se encontram de posse dos títulos mais elevados, junto

aos Mensageiros Divinos.

A maioria dos católicos romanos pretende a isenção das dificuldades com

as cerimônias exteriores; muitos protestantes acreditam na plena identificação

com o céu tão-só pela enunciação de alguns hinos, enquanto enorme

percentagem de espiritistas se crê na intimidade de supremas revelações

apenas pelo fato de haver freqüentado algumas sessões.

Tudo isto constitui preparação valiosa, mas não é tudo.

Há um esforço iluminativo para o interior, sem o qual homem algum

penetrará o santuário da Verdade Divina.

A palavra de Pedro à massa popular contém a síntese do vasto programa

de transformação essencial a que toda criatura se submeterá para a felicidade

da união com o Cristo. Há estações indispensáveis para a realização,

porqüanto ninguém atingirá de vez a eterna claridade da culminância.

Antes de tudo, é imprescindível que o culpado se arrependa, reconhecendo

a extensão e o volume das próprias faltas e que se converta, a fim de alcançar

a época de refrigério pela presença do Senhor nele próprio. Aí chegado,

habilitar-se-á para a construção do Reino Divino em si mesmo.

Se, realmente, Já compreendes a missão do Evangelho, identificarás a

estação em que te encontras e estarás informado quanto aos serviços que

deves levar a efeito para demandar a seguinte.

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PÁGINAS

“Mas a sabedoria que vem do alto é primeiramente pura, depois pacífica,

moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem

parcialidade e sem hipocrisia.” —(TIAGO, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 17.)

Toda página escrita tem alma e o crente necessita auscultar-lhe a

natureza. O exame sincero esclarecerá imediatamente a que esfera pertence,

no círculo de atividade destruidora no mundo ou no centro dos esforços de

edificação para a vida espiritual.

Primeiramente, o leitor amigo da verdade e do bem analisar-lhe-á as

linhas, para ajuizar da pureza do seu conteúdo, compreendendo que, se as

suas expressões foram nascidas de fontes superiores, aí encontrará os sinais

inequívocos da paz, da moderação, da afabilidade fraternal, da compreensão

amorosa e dos bons frutos, enfim.

Mas, se a página reflete os venenos sutis da parcialidade humana,

semelhante mensagem do pensamento não procede das esferas mais nobres

da vida. Ainda que se origine da ação dos Espíritos desencarnados,

supostamente superiores, a folha que não faça benefício em harmonia e

construção fraternal é, apenas, reflexo de condições inferiores.

Examina, pois, as páginas de teu contacto com o pensamento alheio,

diariamente, e faze companhia àquelas que te desejam elevação. Não precisas

das que se te figurem mais brilhantes, mas daquelas que te façam melhor.

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PENSAMENTOS

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é

honesto, tudo o que é justo, tudo o que épuro, tudo o que é amável, tudo

o que é de boa fama, se há alguma virtude e se há algum louvor, nisso

pensai.” — Paulo. (FILIPENSES, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 8.)

Todas as obras humanas constituem a resultante do pensamento das

criaturas. O mal e o bem, o feio e o belo viveram, antes de tudo, na fonte

mental quê os produziu, nos movimentos incessantes da vida.

O Evangelho consubstancia o roteiro generoso para que a mente do

homem se renove nos caminhos da espiritualidade superior, proclamando a

necessidade de semelhante transformação, rumo aos planos mais altos. Não

será tão-somente com os primores intelectuais da Filosofia que o discípulo

iniciará seus esforços em realização desse teor. Renovar pensamentos não é

tão fácil como parece à primeira vista. Demanda muita capacidade de renúncia

e profunda dominação de si mesmo, qualidades que o homem não consegue

alcançar sem trabalho e sacrifício do coração.

É por isso que muitos servidores modificam expressões verbais, julgando

que refundiram pensamentos. Todavia, no instante de recapitular, pela

repetição das circunstâncias, as experiências redentoras, encontram, de novo,

análogas perturbações, porque os obstáculos e as sombras permanecem na

mente, quais fantasmas ocultos.

Pensar é criar. A realidade dessa criação pode não exteriorizar-se, de

súbito, no campo dos efeitos transitórios, mas o objeto formado pelo poder

mental vive no mundo íntimo, exigindo cuidados especiais para o esforço de

continuidade ou extinção.

O conselho de Paulo aos filipenses apresenta sublime conteúdo. Os

discípulos que puderem compreender-lhe a essência profunda, buscando ver o

lado verdadeiro, honesto, justo, puro e amável de todas as coisas, cultivando-o,

em cada dia, terão encontrado a divina equação.

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A QUEM OBEDECES?

“E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para

todos os que lhe obedecem.” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 5,

VERSÍCULO 9.)

Toda criatura obedece a alguém ou a alguma coisa.

Ninguém permanece sem objetivo.

A própria rebeldia está submetida às forças corretoras da vida.

O homem obedece a toda hora. Entretanto, se ainda não pôde definir a

própria submissão por virtude construtiva, é que, não raro, atende, antes de

tudo, aos impulsos baixos da natureza, resistindo ao serviço de auto-elevação.

Quase sempre transforma a obediência que o salva em escravidão que o

condena. O Senhor estabeleceu as gradações do caminho, instituiu a lei do

próprio esforço, na aquisição dos supremos valores da vida, e determinou que

o homem lhe aceitasse os desígnios para ser verdadeiramente livre, mas a

criatura preferiu atender à sua condição de inferioridade e organizou o

cativeiro. O discípulo necessita examinar atentamente o campo em que

desenvolve a própria tarefa.

A quem obedeces? Acaso, atendes, em primeiro lugar, às vaidades

humanas ou às opiniões alheias, antes de observares o conselho do Mestre

Divino?

É justo refletir sempre, quanto a isso, porque somente quando atendemos,

em tudo, aos ensinamentos vivos de Jesus, é que podemos quebrar a

escravidão do mundo em favor da libertação eterna.

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INTERCESSÃO

“Irmãos, orai por nós.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS

TESSALONICENSES, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 25.)

Muitas criaturas sorriem ironicamente quando se lhes fala das orações

intercessórias.

O homem habituou-se tanto ao automatismo teatral que encontra certa

dificuldade no entendimento das mais profundas manifestações de

espiritualidade. A prece intercessória, todavia, prossegue espalhando

benefícios com os seus valores inalterados. Não éjusto acreditar seja essa

oração o incenso bajulatório a derramar-se na presença de um monarca terrestre

a fim de obtermos certos favores.

A súplica da intercessão é dos mais belos atos de fraternidade e constitui a

emissão de forças benéficas e iluminativas que, partindo do espírito sincero,

vão ao objetivo visado por abençoada contribuição de conforto e energia. Isso

não acontece, porém, a pretexto de obséquio, mas em conseqüência de leis

justas. O homem custa a crer na influenciação das ondas invisíveis do

pensamento, contudo, o espaço que o cerca está cheio de sons que os seus

ouvidos materiais não registram; só admite o auxilio tangível, no entanto, na

própria natureza física, vêem-se árvores venerandas que protegem e

conservam ervas e arbustos, a lhes receberem as bênçãos da vida, sem lhes

tocarem jamais as raízes e os troncos.

Não olvides os bens da intercessão.

Jesus orou por seus discípulos e seguidores, nas horas supremas.

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PROVAS DE FOGO

“E o fogo provará qual seja a obra de cada um.” — Paulo. (1ª

EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 13.)

A indústria mecanizada dos tempos modernos muito se refere às provas de

fogo para positivar a resistência de suas obras e, ponderando o feito, recordemos

que o Evangelho, igualmente, se reporta a essas provas, há quase

vinte séculos, com respeito às aquisições espirituais.

Escrevendo aos coríntios, Paulo imagina os obreiros humanos construindo

sobre o único fundamento, que é Jesus-Cristo, organizando cada qual as próprias

realizações, de conformidade com os recursos evolutivos.

Cada discípulo, entretanto, deve edificar o trabalho que lhe é peculiar,

convicto de que os tempos de luta o descobrirão aos olhos de todos, para que

se efetue reto juízo acerca de sua qualidade.

O aperfeiçoamento do mundo, na feição material, pode fornecer a imagem

do que seja a importância dessas aferições de grande vulto. A Terra

permanece cheia de fortunas, posições, valores e inteligências que não

suportam as provas de fogo; mal se aproximam os movimentos purificadores,

descem, precipitadamente, os degraus da miséria, da ruína, da decadência. No

serviço do Cristo, também é justo que o aprendiz aguarde o momento de

verificação das próprias possibilidades. O caráter, o amor, a fé, a paciência, a

esperança representam conquistas para a vida eterna, realizadas pela criatura,

com o auxilio santo do Mestre, mas todos os discípulos devem contar com as

experiências necessárias que, no instante oportuno, lhe provarão as qualidades

espirituais.

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19

FALSAS ALEGAÇÕES

“Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que

não me atormentes.” — (LUCAS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 28.)

O caso do Espírito perturbado que sentiu a aproximação de Jesus,

recebendo-lhe a presença com furiosas indagações, apresenta muitos

aspectos dignos de estudo.

A circunstância de suplicar ao Divino Mestre que não o atormentasse

requer muita atenção por parte dos discípulos sinceros.

Quem poderá supor o Cristo capaz de infligir tormentos a quem quer que

seja? E, no caso, trata-se de uma entidade ignorante e perversa que, nos intimos

desvarios, muito já padecia por si mesma. A vizinhança do Mestre,

contudo, trazia-lhe claridade suficiente para contemplar o martírio da própria

consciência, atolada num pântano de crimes e defecções tenebrosas. A luz

castigava-lhe as trevas interiores e revelava-lhe a nudez dolorosa e digna de

comiseração.

O quadro é muito significativo para quantos fogem das verdades religiosas

da vida, categorizando-lhe o conteúdo à conta de amargo elixir de angústia e

sofrimento. Esses espíritos indiferentes e gozadores costumam afirmar que os

serviços da fé alagam o caminho de lágrimas, enevoando o coração.

Tais afirmativas, no entanto, denunciam-nos. Em maior ou menor escala,

são companheiros do irmão infeliz que acusava Jesus por ministro de

tormentos.

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20

A MARCHA

“Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte.” — Jesus.

(LUCAS, CAPÍTULO 13, VERSÍCULO 33.)

Importa seguir sempre, em busca da edificação espiritual definitiva.

Indispensável caminhar, vencendo obstáculos e sombras, transformando todas

as dores e dificuldades em degraus de ascensão.

Traçando o seu programa, referia-se Jesus àmarcha na direção de

Jerusalém, onde o esperava a derradeira glorificação pelo martírio. Podemos

aplicar, porém, o ensinamento às nossas experiências incessantes no roteiro

da Jerusalém de nossos testemunhos redentores.

É imprescindível, todavia, esclarecer a característica dessa jornada para a

aquisição dos bens eternos.

Acreditam muitos que caminhar é invadir as situações de evidência no

mundo, conquistando posições de destaque transitório ou trazendo as mais

vastas expressões financeiras ao circulo pessoal.

Entretanto, não é isso.

Nesse particular, os chamados “homens de rotina” talvez detenham

maiores probabilidades a seu favor.

A personalidade dominante, em situações efêmeras, tem a marcha inçada

de perigos, de responsabilidades complexas, de ameaças atrozes. A sensação

de altura aumenta a sensação de queda.

É preciso caminhar sempre, mas a jornada compete ao Espírito eterno, no

terreno das conquistas Interiores.

Muitas vezes, certas criaturas que se presumem nos mais altos pontos da

viagem, para a Sabedoria Divina se encontram apenas paralisadas na contemplação

de fogos-fátuos.

Que ninguém se engane nas estações de falso repouso.

Importa trabalhar, conhecer-se, iluminar-se e atender ao Cristo,

diariamente. Para fixarmos semelhante lição em nós, temos nascido na Terra,

partilhando-lhe as lutas, gastando-lhe os corpos e nela tornaremos a renascer.

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21

MAR ALTO

“E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e

lançai as vossas redes para pescar.” — (LUCAS, CAPÍTULO 5,

VERSÍCULO 4.)

Este versículo nos leva a meditar nos companheiros de luta que se sentem

abandonados na experiência humana.

Inquietante sensação de soledade lhes corta o coração.

Choram de saudade, de dor, renovando as amarguras próprias.

Acreditam que o destino lhes reservou a taça da infinita amargura.

Rememoram, compungidos, os dias da infância, da juventude, das

esperanças crestadas nos conflitos do mundo.

No íntimo, experimentam, a cada instante, o vago tropel das

reminiscências que lhes dilatam as impressões de vazio.

Entretanto, essas horas amargas pertencem a todas as criaturas mortais.

Se alguém as não viveu em determinada região do caminho, espere a sua

oportunidade, porqüanto, de modo geral, quase todo Espírito se retira da carne,

quando os frios sinais de inverno se multiplicam em torno.

Em surgindo, pois, a tua época de dificuldade, convence-te de que

chegaram para tua alma os dias de serviço em “mar alto”, o tempo de procurar

os valores justos, sem o incentivo de certas ilusões da experiência material. Se

te encontras sozinho, se te sentes ao abandono, lembra-te de que, além do túmulo,

há companheiros que te assistem e esperam carinhosamente.

O Pai nunca deixa os filhos desamparados, assim, se te vês

presentemente sem laços domésticos, sem amigos certos na paisagem

transitória do Planeta, é que Jesus te enviou a pleno mar da experiência, a fim

de provares tuas conquistas em supremas lições.

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22

INCONSTANTES

“Porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo

vento e lançada de uma para outra parte.” — (TIAGO, CAPÍTULO 1,

VERSÍCULO 6.)

Inegavelmente existe uma dúvida científica e filosófica no mundo que,

alojada em corações leais, constitui precioso estímulo à posse de grandes e

elevadas convicções; entretanto, Tiago refere-se aqui à inconstância do

homem que, procurando receber os benefícios divinos, na esfera das

vantagens particularístas, costuma perseguir variadas situações no terreno da

pesquisa intelectual sem qualquer propósito de confiar nos valores substanciais

da vida.

Quem se preocupa em transpor diversas portas, em movimento

simultâneo, acaba sem atravessar porta alguma.

A leviandade prejudica as criaturas em todos os caminhos, mormente nas

posições de trabalho, nas enfermidades do corpo e nas relações afetivas.

Para que alguém ajuíze com acerto, com respeito a determinada

experiência, precisa enumerar quantos anos gastou dentro dela, vivendo-lhe as

características.

Necessitamos, acima de tudo, confiar sincera-mente na Sabedoria e na

Bondade do Altíssimo, compreendendo que é indispensável perseverar com

alguém ou com alguma causa que nos ajude e edifique.

Os inconstantes permanecem figurados na onda do mar, absorvida pelo

vento e atirada de uma para outra parte.

Quando servires ou quando aguardares as bênçãos do Alto, não te deixes

conduzir pela inquietude doentia. O Pai dispõe de inumeráveis instrumentos

para administrar o bem e é sempre o mesmo Senhor Paternal, através de todos

eles. A dádiva chegará, mas depende de ti, da maneira de procederes na luta

construtiva, persistindo ou não na confiança, sem a qual o Divino Poder

encontra obstáculos naturais para exprimir-se em teu caminho.

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23

NÃO É DE TODOS

“E para que sejamos livres de homens dissolutos e maus, porque a fé

não é de todos.” — Paulo. (2ª EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES,

CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 2.)

Dirigindo-se aos irmãos de Tessalonica, o apóstolo dos gentios rogou-lhes

concurso em favor dos trabalhos evangélicos, para que o serviço do Senhor

estivesse isento dos homens maus e dissolutos, justificando apelo com a

declaração de que a fé não é de todos.

Através das palavras de Paulo, percebe-se-lhe a certeza de que as

criaturas perversas se aproximariam dos núcleos de trabalho cristianizante, que

a malícia delas poderia causar-lhes prejuízos e que era necessário mobilizar os

recursos do espírito contra semelhante influência.

O grande convertido, em poucas palavras, gravou advertência de valor

infinito, porque, em verdade, a cor religiosa caracterizará a vestimenta exterior

de comunidades inteiras, mas a fé será patrimônio somente daqueles que

trabalham sem medir sacrifícios, por instalá-la no santuário do próprio mundo

intimo. A rotulagem de cristianismo será exibida por qualquer pessoa, todavia,

a fé cristã revelar-se-á pura, incondicional e sublime em raros corações. Muita

gente deseja assenhorear-se dela, como se fora mera letra de câmbio,

enquanto que inúmeros aprendizes do Evangelho a invocam, precipitados, qual

se fora borboleta erradia. Esquecem-se, porém, de que se as necessidades

materiais do corpo reclamam esforço pessoal diário, as necessidades

essenciais do espírito nunca serão solucionadas pela expectação inoperante.

Admitir a verdade, procurá-la e acreditar nela são atitudes para todos;

contudo, reter a fé viva constitui a realização divina dos que trabalharam,

porfiaram e sofreram pela adquirir.

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FILHOS PRÓDIGOS

“E caindo em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundãncia

de pão, e eu aqui pereço de fome!” — (LUCAS, CAPÍTULO 15,

VERSÍCULO 17.)

Examinando-se a figura do filho pródigo, toda gente idealiza um homem

rico, dissipando possibilidades materiais nos festins do mundo.

O quadro, todavia, deve ser ampliado, abrangendo as modalidades

diferentes.

Os filhos pródigos não respiram somente onde se encontra o dinheiro em

abundância.

Acomodam-se em todos os campos da atividade humana, resvalando de

posições diversas.

Grandes cientistas da Terra são perdulários da inteligência, destilando

venenos intelectuais, indignos das concessões de que foram aquinhoados.

Artistas preciosos gastam, por vezes, inutilmente, a imaginação e a

sensibilidade, através de aventuras mesquinhas, caindo, afinal, nos desvãos do

relaxamento e do crime.

Em toda parte, vemos os dissipadores de bens, de saber, de tempo, de

saúde, de oportunidades...

São eles que, contemplando os corações simples e humildes, em marcha

para Deus, possuídos de verdadeira confiança, experimentam a enorme

angústia da inutilidade e, distantes da paz Intima, exclamam desalentados:

— “Quantos trabalhadores pequeninos guardam o pão da tranqüilidade,

enquanto a fome de paz me tortura o espírito!”

O mundo permanece repleto de filhos pródigos e, de hora a hora, milhares

de vozes proferem aflitivas exclamações iguais a esta.

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NAS ESTRADAS

“E os que estão junto do caminho são aqueles em quem a palavra é

semeada; mas, tendo-a eles ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que

neles foi semeada.” — Jesus. (MARCOS, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 15.)

Jesus é o nosso caminho permanente para o Divino Amor.

Junto dele seguem, esperançosos, todos os espíritos de boa-vontade,

aderentes sinceros ao roteiro santificador.

Dessa via bendita e eterna procedem as sementes da Luz Celestial para os

homens comuns.

Faz-se imprescindível muita observação das criaturas, para que o tesouro

não lhes passe despercebido.

A semente santificante virá sempre, entre as mais variadas circunstâncias.

Qual ocorre ao vento generoso que espalha, entre as plantas, os princípios

de vida, espontaneamente, a bondade invisível distribui com todos os corações

a oportunidade de acesso à senda do amor.

Quase sempre a centelha divina aparece nos acontecimentos vulgares de

cada dia, num livro, numa particularidade insignificante do trabalho, na prestimosa

observação de um amigo.

Se o terreno de teu coração vive ocupado por ervas daninhas e se já

recebeste o princípio celeste, cultiva-o, com devotamento, abrigando-o nas

leiras de tua alma. O verbo humano pode falhar, mas a Palavra do Senhor é

imperecível. Aceita-a e cumpre-a, porque, se te furtas ao imperativo da vida

eterna, cedo ou tarde o anjo da angústia te visitará o espírito, indicando-te

novos rumos.

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TRABALHOS IMEDIATOS

“Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado

dele, não por força, mas espontaneamente, segundo a vontade de Deus;

nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto.” — (1ª EPÍSTOLA A

PEDRO, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 2.)

Naturalmente, na pauta das possibilidades justas, ninguém deverá negar

amparo ou assistência aos companheiros que acenam de longe com solicitações

razoáveis; entretanto, constitui-nos obrigação atender ao ensinamento

de Pedro, quanto aos nossos trabalhos imediatos.

Há criaturas que se entregam gostosamente àvolúpia da inquietação por

acontecimentos nefastos, planejados pela mente enfermiça dos outros e que,

provavelmente, nunca sobrevirão.

Perdem longo tempo receitando fórmulas de ação ou desferindo lamentos

inúteis.

A lavoura alheia e as ocorrências futuras, para serem examinadas, exigem

sempre grandes qualidades de ponderação.

Além do mais, é imprescindível reconhecer que o problema difícil, ao nosso

lado ou a distância de nós, tem a finalidade de enriquecer-nos a experiência

própria, habilitando-nos à solução dos mais intrincados enigmas do caminho.

Eis a razão pela qual a nota de Simão Pedro éprofunda e oportuna, para

todos os tempos e situações.

Atendamos aos imperativos do serviço divino que se localiza em nossa

paisagem individual, não através de constrangimento, mas pela boa-vontade

espontânea, fugindo cada vez mais aos nossos interesses particularistas e de

ânimo firme e pronto para servir ao bem, tanto quanto nos seja possível.

As vezes, é razoável preocupar-se o homem com a situação mundial, com

a regeneração das coletividades, com as posições e responsabilidades dos

outros, mas não é justo esquecermo-nos daquele “rebanho de Deus que está

entre nós”.

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27

ESMAGAMENTO DO MAL

“E o Deus de paz esmagará em breve a Satanás debaixo dos vossos

pés.” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 20.)

Em toda parte do Planeta se poderá reconhecer a luta sem tréguas, entre o

bem e o mal.

Manifesta-se o grande conflito, sob as mais diversas formas, e, no turbilhão

de seus movimentos, muitas almas sensíveis, de modo invariável, conservamse

na atitude de invocação aos gênios tutelares para que estes venham à

arena combater os inimigos que as atordoam, prostrando-os de vez.

Solicitar auxílio ou recorrer à lei da cooperação representam atos louváveis

do Espírito que identifica a própria fraqueza, contudo, insistir para que outrem

nos substitua no esforço, que somente a nós outros cabe despender,

demonstra falsa posição, suscetível de acentuar-nos as necessidades.

Satanás, representando o poder do mal, na vida humana, será esmagado

por Deus; todavia, Paulo de Tarso define, com bastante clareza, o local da

vitória divina. O triunfo supremo verificar-se-á sob os pés do homem.

Quando a criatura, pela própria dedicação ao trabalho iluminativo, se

entregar ao Pai, sem reservas, efetuando-lhe a vontade sacrossanta, com

esquecimento do velho egoísmo animal, apreendendo a grandeza de sua

posição de espírito eterno, atingirá a vitória sublime.

O Senhor Todo-Paternal já se entregou aos filhos terrestres, mas raros

filhos se entregaram a Ele. Indispensável, pois, não esquecer que o mal não

será eliminado, a esmo, e sim debaixo dos pés de cada um de nós.

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28

E OS FINS?

“Mas nem todas as coisas edificam.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS

CORÍNTIOS, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 23.)

Sempre existiram homens indefiníveis que, se não fizeram mal a ninguém,

igualmente não beneficiaram a pessoa alguma.

Examinadas nesse mesmo prisma, as coisas do caminho precisam

interpretação sensata, para que se não percam na inutilidade.

É lícito ao homem dedicar-se à literatura ou aos negócios honestos do

mundo e ninguém poderá contestar o caráter louvável dos que escolhem

conscientemente a linha de ação individual no serviço útil. Entretanto, será

justo conhecer os fins daquele que escreve ou os propósitos de quem negocia.

De que valerá ao primeiro a produção de longas obras, cheias de lavores

verbais e de arroubos teóricos, se as suas palavras permanecem vazias de

pensamento construtivo para o plano eterno da alma? em que aproveitará ao

comerciante a fortuna imensa, conquistada através da operosidade e do

cálculo, quando vive estagnada nos cofres, aguardando os desvarios dos

descendentes? Em ambas as situações, não se poderia dizer que tais homens

cogitavam de realizações ilícitas; todavia, perderam tempo precioso, esquecendo

que as menores coisas trazem finalidade edificante.

O trabalhador cônscio das responsabilidades que lhe competem não se

desvia dos caminhos retos.

Há muita aflição e amargura nas oficinas do aperfeiçoamento terrestre,

porque os seus servidores cuidam, antes de tudo, dos ganhos de ordem

material, olvidando os fins a que se destinam. Enquanto isso ocorre,

intensificam-se projetos e experimentos, mas falta sempre a edificação justa e

necessária.

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A VINHA

“E disse-lhes: Ide vós também para a vinha e dar-vos-ei o que for

justo. E eles foram.” — (MATEUS, CAPÍTULO 20, VERSÍCULO 4.)

Ninguém poderá pensar numa Terra cheia de beleza e possibilidades, mas

vogando ao léu na imensidade universal.

O Planeta não é um barco desgovernado. As coletividades humanas

costumam cair em desordem, mas as leis que presidem aos destinos da Casa

Terrestre se expressam com absoluta harmonia. Essa verificação nos ajuda a

compreender que a Terra é a vinha de Jesus. Aí, vemo-lo trabalhando desde a

aurora dos séculos e aí assistimos à transformação das criaturas, que, de

experiência a experiência, se lhe integram no divino amor.

A formosa parábola dos servidores envolve conceitos profundos. Em

essência, designa o local dos serviços humanos e refere-se ao volume de

obrigações que os aprendizes receberam do Mestre Divino.

Por enquanto, os homens guardam a ilusão de que o orbe pode ser o

tablado de hegemonias raciais ou políticas, mas perceberão em tempo o

clamoroso engano, porque todos os filhos da razão, corporificados na Crosta

da Terra, trazem consigo a tarefa de contribuir para que se efetue um padrão

de vida mais elevado no recanto em que agem transitoríamente.

Onde quer que estejas, recorda que te encontras na Vinha do Cristo.

Vives sitiado pela dificuldade e pelo infortúnio?

Trabalha para o bem geral, mesmo assim, porque o Senhor concedeu a

cada cooperador o material conveniente e justo.

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CONVENÇÕES

“E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem

por causa do sábado.” — (MARCOS, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 27.)

O sábado, nesta passagem evangélica, simboliza as convenções

organizadas para o serviço humano. Há criaturas que por elas sacrificam todas

as possibilidades de elevação espiritual. Quais certos encarregados dos

serviços públicos que adiam indefinidamente determinadas providências de

interesse coletivo, em virtude da ausência de um selo minúsculo, pessoas

existem que, por bagatelas, abandonam grandes oportunidades de união com

a esfera superior.

Ninguém ignora o lado útil das convenções. Se fossem totalmente

imprestáveis, o Pai não lhes permitiria a existência no jogo das circunstâncias.

São tabelas para a classificação dos esforços de cada um, tábuas que

designam o tempo adequado a esse ou àquele mister; todavia, transformá-las

em preceito inexpugnável ou em obstáculo intransponível, constitui grave dano

à tranqüilidade comum.

A maioria das pessoas atende-as, antes da própria obediência a Deus;

entretanto, o Altíssimo dispôs todas as organizações da vida para que ajudem

a evolução e o aprimoramento dos filhos.

O próprio Planeta foi edificado por causa do homem.

Se o Criador foi a esse extremo de solicitude em favor das criaturas, por

que deixarmos de satisfazer-lhe os divinos desígnios, prendendo-nos às

preocupações inferiores da atividade terrestre?

As convenções definem, catalogam, especificam e enumeram, mas não

devem tiranizar a existência. Lembra-te de que foram dispostas no caminho a

fim de te servirem. Respeita-as, na feição justa e construtiva; contudo, não as

convertas em cárcere.

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COM CARIDADE

“Todas as vossas coisas sejam feitas com caridade.” — Paulo. (1ª

EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 14.)

Ainda existe muita gente que não entende outra caridade, além daquela

que se veste de trajes humildes aos sábados ou domingos para repartir algum

pão com os desfavorecidos da sorte, que aguarda calamidades públicas para

manifestar-se ou que lança apelos comovedores nos cartazes da imprensa.

Não podemos discutir as intenções louváveis desse ou daquele grupo de

pessoas; contudo, cabe-nos reconhecer que o dom sublime é de sublime

extensão.

Paulo indica que a caridade, expressando amor cristão, deve abranger

todas as manifestações de nossa vida.

Estender a mão e distribuir reconforto é iniciar a execução da virtude

excelsa. Todas as potências do espírito, no entanto, devem ajustar-se ao

preceito divino, porque há caridade em falar e ouvir, impedir e favorecer,

esquecer e recordar. Tempo virá em que a boca, os ouvidos e os pés serão

aliados das mãos fraternas nos serviços do bem supremo.

Cada pessoa, como cada coisa, necessita da contribuição da bondade, de

modo particular.

Homens que dirigem ou que obedecem reclamam-lhe o concurso santo, a

fim de que sejam esclarecidos no departamento da Casa de Deus, em que se

encontram. Sem amor sublimado, haverá sempre obscuridade, gerando

complicações.

Desempenha tuas mínimas tarefas com caridade, desde agora. Se não

encontras retribuição espiritual, no domínio do entendimento, em sentido

imediato, sabes que o Pai acompanha todos os filhos devotadamente.

Há pedras e espinheiros? Fixa-te em Jesus e passa.

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32

CADÁVERES

“Pois onde estiver o cadáver, ai se ajuntarão as águias.” — (MATEUS,

CAPÍTULO 24, VERSÍCULO 28.)

Apresentando a imagem do cadáver e das águias, referia-se o Mestre à

necessidade dos homens penitentes, que precisam recursos de combate à

extinção das sombras em que se mergulham.

Não se elimina o pântano, atirando-lhe flores.

Os corpos apodrecidos no campo atraem corvos que os devoram.

Essa figura, de alta significação simbolõgica, édos mais fortes apelos do

Senhor, conclamando os servidores do Evangelho aos movimentos do trabalho

santificante.

Em vários círculos do Cristianismo renascente surgem os que se queixam,

desalentados, da ação de perseguidores, obsessores e verdugos visíveis e

invisíveis. Alguns aprendizes se declaram atados à influência deles e

confessam-se incapazes de atender aos desígnios de Jesus.

Conviria, porém, muita ponderação, antes de afirmativas desse jaez, que

apenas acusam os próprios autores.

É imprescindível lembrar sempre que as aves impiedosas se ajuntarão em

torno de cadáveres ao abandono.

Os corvos se aninham noutras regiões, quando se alimpa o campo em que

permaneciam.

Um homem que se afirma invariavelmente infeliz fornece a impressão de

que respira num sepulcro; todavia, quando procura renovar o próprio caminho,

as aves escuras da tristeza negativa se afastam para mais longe.

Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu

mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois,

enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias

da destruição.

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33

TRABALHEMOS TAMBÉM

“E dizendo: Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos

homens como vós, sujeitos às mesmas paixões.” — (ATOS, CAPÍTULO 14,

VERSÍCULO 15.)

O grito de Paulo e Barnabé ainda repercute entre os aprendizes fiéis.

A família cristã muita vez há desejado perpetuar a ilusão dos habitantes de

Listra.

Os missionários da Revelação não possuem privilégios ante o espírito de

testemunho pessoal no serviço. As realizações que poderíamos apontar por

graça ou prerrogativa especial, nada mais exprimem senão o profundo esforço

deles mesmos, no sentido de aprender e aplicar com Jesus.

O Cristo não fundou com a sua doutrina um sistema de deuses e devotos,

separados entre si; criou vigoroso organismo de transformação espiritual para o

bem supremo, destinado a todos os corações sedentos de luz, amor e verdade.

No Evangelho, vemos Madalena arrastando dolorosos enganos, Paulo

perseguindo ideais salvadores, Pedro negando o Divino Amigo, Marcos em luta

com as próprias hesitações; entretanto, ainda aí, contemplamos a filha de

Magdala, renovada no caminho redentor, o grande perseguidor convertido em

arauto da Boa Nova, o discípulo frágil conduzido à glória espiritual e o

companheiro vacilante transformado em evangelista da Humanidade inteira.

O Cristianismo é fonte bendita de restauração da alma para Deus.

O mal de muitos aprendizes procede da idolatria a que se entregam, em

derredor dos valorosos expoentes da fé viva, que aceitam no sacrifício a verdadeira

fórmula de elevação; imaginam-nos em tronos de fantasia e rojam-selhes

aos pés, sentindo-se confundidos, inaptos e miseráveis, esquecendo que

o Pai concede a todos os filhos as energias necessárias àvitória.

Naturalmente, todos devemos amor e respeito aos grandes vultos do

caminho cristão; todavia, por isto mesmo, não podemos olvidar que Paulo e

Pedro, como tantos outros, saíram das fraquezas humanas para os dons

celestiais e que o Planeta Terreno é uma escola de iluminação, poder e triunfo,

sempre que buscamos entender-lhe a grandiosa missão.

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34

LUGAR DESERTO

“E ele lhes disse: Vinde vós aqui, à parte, a um lugar deserto, e repousai

um pouco.” — (MARCOS, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 31.)

A exortação de Jesus aos companheiros reveste-se de singular

importãncia para os discípulos do Evangelho em todos os tempos.

Indispensável se torna aprender o caminho do “lugar à parte” em que o

Mestre aguarda os aprendizes para o repouso construtivo em seu amor.

No precioso símbolo, temos o santuário íntimo do coração sequioso de luz

divina.

De modo algum se referia o Senhor tão-somente à soledade dos sítios que

favorecem a meditação, onde sempre encontramos sugestões vivas da natureza

humana. Reportava-se à cãmara silenciosa, situada dentro de nós

mesmos.

Além disso, não podemos esquecer que o Espírito sedento de união divina,

desde o momento em que se imerge nas correntes do idealismo superior,

passa a sentir-se desajustado, em profundo insulamento no mundo, embora

servindo-o, diariamente, consoante os indefectíveis desígnios do Alto.

No templo secreto da alma, o Cristo espera por nós, a fim de revigorar-nos

as forças exaustas.

Os homens iniciaram a procura do “lugar deserto”, recolhendo-se aos

mosteiros ou às paisagens agrestes; todavia, o ensinamento do Salvador não

se fixa no mundo externo.

Prepara-te para servir ao Reino Divino, na cidade ou no campo, em

qualquer estação, e não procures descanso impensadamente, convicto de que,

muita vez, a imobilidade do corpo é tortura da alma. Antes de tudo, busca

descobrir, em ti mesmo, o “lugar àparte” onde repousarás em companhia do

Mestre.

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35

O CRISTO OPERANTE

“Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado

da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os

gentios.” — Paulo. (GÁLATAS, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 8.)

A vaidade humana sempre guardou a pretensão de manter o Cristo nos

círculos do sectarismo religioso, mas Jesus prossegue operando em toda parte

onde medre o princípio do bem.

Dentro de todas as linhas de evolução terrestre, entre santuários e

academias, movimentam-se os adventícios inquietos, os falsos crentes e os

fanáticos infelizes que acendem a fogueira da opinião e sustentam-na. Entre

eles, todavia, surgem os homens da fé viva, que se convertem nos sagrados

veículos do Cristo operante.

Simão Pedro centralizou todos os trabalhos do Evangelho nascente,

reajustando aspirações do povo escolhido.

Paulo de Tarso foi poderoso ímã para a renovação da gentilidade.

Através de ambos expressava-se o mesmo Mestre, com um só objetivo —

o aperfeiçoamento do homem para o Reino Divino.

É tempo de reconhecer-se a luz dessas eternas verdades.

Jesus permanece trabalhando e sua bondade infinita se revela em todos os

setores em que o amor esteja erguido à conta de supremo ideal.

Ninguém se prenda ao domínio das queixas injustas, encarando os

discípulos sinceros e devotados por detentores de privilégios divinos. Cada

aprendiz se esforce por criar no coração a atmosfera propícia às manifestações

do Senhor e de seus emissários. Trabalha, estuda, serve e ajuda sempre, em

busca das esferas superiores, e sentirás o Cristo operante ao teu lado, nas

relações de cada dia.

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36

ATÉ AO FIM

“Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” — Jesus.

(MATEUS, CAPÍTULO 24, VERSÍCULO 13.)

Aqui não vemos Jesus referir-se a um fim que simbolize término e, sim, à

finalidade, ao alvo, ao objetivo.

O Evangelho será pregado aos povos para que as criaturas compreendam

e alcancem os fins superiores da vida.

Eis por que apenas conseguem quebrar o casulo da condição de

animalidade aqueles Espíritos encarnados que sabem perseverar.

Quando o Mestre louvou a persistência, evidenciava a tarefa árdua dos que

procuram as excelências do caminho espiritual.

É necessário apagar as falsas noções de favores gratuitos da Divindade.

Ninguém se furtará, impune, à percentagem de esforço que lhe cabe na

obra de aperfeiçoamento próprio.

As portas do Céu permanecem abertas. Nunca foram cerradas. Todavia,

para que o homem se eleve até lá, precisa asas de amor e sabedoria. Para

isto, concede o Supremo Senhor extensa cópia do material de misericórdia a

todas as criaturas, conferindo, entretanto, a cada um o dever de talhá-las.

Semelhante tarefa, porém, demanda enorme esforço. A fim de concluí-la,

recruta-se a contribuição dos dias e das existências. Muita gente se desanima

e prefere estacionar, séculos a fio, nos labirintos da inferioridade; todavia, os

bons trabalhadores sabem perseverar, até atingirem as finalidades divinas do

caminho terrestre, continuando em trajetória sublime para a perfeição.

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37

SERIA INÚTIL

“Respondeu-lhes: Já vo-lo disse e não ouvistes; para que o quereis

tornar a ouvir?” — (JOÃO, CAPÍTULO 9, VERSÍCULO 27.)

É muito freqüente a preocupação de muitos religiosos, no sentido de

transformarem os amigos compulsoriamente, conclamando-os às suas

convicções particularistas. Quase sempre se empenham em longas e

fastidiosas discussões, em contínuos jogos de palavras, sem uma realização

sadia ou edificante.

O coração sinceramente renovado na fé, entretanto, jamais procede assim.

É indispensável diluir o prurido de superioridade que infesta o sentimento

de grande parte dos aprendizes, tão logo se deixam conduzir a novos portos de

conhecimento, nas revelações gradativas da sabedoria divina, porque os

discutidores de más inclinações se incumbem de interceptar-lhes a marcha.

A resposta do cego de nascença aos judeus argutos e inquiridores é

padrão ativo para os discípulos sinceros.

Lógico que o seguidor de Jesus não negará um esclarecimento acerca do

Mestre, mas se já explicou o assunto, se já tentou beneficiar o irmão mais próximo

com os valores que o felicitam, sem atingir o alheio entendimento, para

que discutir? Se um homem ouviu a verdade e não a compreendeu, fornece

evidentes sinais de paralisia espiritual. Ser-lhe-á inútil, portanto, escutar

repetições imediatas, porque ninguém enganará o tempo, e o sábio que

desafiasse o ignorante rebaixar-se-ia ao título de insensato.

Não percas, pois, as tuas horas através de elucidações minuciosas e

repetídas para quem não as pode entender, antes que lhe sobrevenham no caminho

o sol e a chuva, o fogo e a água da experiência.

Tens mil recursos de trabalhar em favor de teu amigo, sem provocá-lo ao

teu modo de ser e à tua fé.

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38

CONTA PARTICULAR

“Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua

paz pertence!” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 19, VERSÍCULO 42.)

A exclamação de Jesus, junto de Jerusalém, aplica-se muito mais ao

coração do homem — templo vivo do Senhor — que à cidade de ordem

material, destinada à ruína e à desagregação nos setores da experiência.

Imaginemos o que seria o mundo, se cada criatura conhecesse o que lhe

pertence à paz íntima.

Em virtude da quase geral desatenção a esse imperativo da vida, é que os

homens se empenham em dolorosos atritos, assumindo escabrosos débitos.

Atentemos para a assertiva do Mestre — “ao menos neste teu dia” Estas

palavras convidam-nos a pensar na oportunidade de serviço de que dispomos

presentemente

e a refletir nos séculos que perdemos; compelem-nos

a meditar quanto ao ensejo de trabalho, sempre aberto aos espíritos diligentes.

O homem encarnado dispõe dum tempo glorioso que é provisoriamente

dele, que lhe foi proporcionado pelo Altíssimo em favor de sua própria

renovação.

Necessário é que cada um conheça o que lhe toca à tranqüilidade

individual. Guarde cada homem digna atitude de compreensão dos deveres

próprios e os fantasmas da inquietude estarão afastados. Cuide cada pessoa

do que se lhe refira à conta particular e dois terços dos problemas sociais do

mundo surgirão naturalmente resolvidos.

Repara as pequeninas exigências de teu círculo e atende-as, em favor de ti

mesmo.

Não caminharás entre as estrelas, antes de trilhares as sendas humildes

que te competem.

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39

CONVITE AO BEM

“Mas, quando fores convidado, vai.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 14,

VERSÍCULO 10.)

Em todas as épocas, o bem constitui a fonte divina, suscetível de fornecernos

valores imortais.

O homem de reflexão terá observado que todo o período infantil é conjunto

de apelos ao sublime manancial.

O convite sagrado é repetido, anos a fio. Vem através dos amorosos pais

humanos, dos mentores escolares, da leitura salutar, do sentimento religioso,

dos amigos comuns.

Entretanto, raras inteligências atingem a juventude, de atenção fixa no

chamamento elevado.

Quase toda gente ouve as requisições da natureza inferior, olvidando

deveres preciosos.

Os apelos, todavia, continuam...

Aqui, é um livro amigo, revelando a verdade em silêncio; ali, é um

companheiro generoso que insiste em favor das realidades luminosas da vida...

A rebeldia, porém, ainda mesmo em plena madureza do homem, costuma

rir inconscientemente, passando, todavia, em marcha compulsõria, na direção

dos desencantos naturais, que lhe impõem mais equilibrados pensamentos.

No Evangelho de Jesus, o convite ao bem reveste-se de claridades

eternas. Atendendo-o, poderemos seguir ao encontro de Nosso Pai, sem

hesitações.

Se o clarim cristão já te alcançou os ouvidos, aceita-lhe as clarinadas sem

vacilar.

Não esperes pelo aguilhão da necessidade.

Sob a tormenta, é cada vez mais difícil a visão do porto.

A maioria dos nossos irmãos na Terra caminha para Deus, sob o ultimato

das dores, mas não aguardes pelo açoite de sombras, quando podes seguir,

calmamente, pelas estradas claras do amor.

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40

EM PREPARAÇÃO

“Diz o Senhor: Porei as minhas leis no seu entendimento e em seu

coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus e eles me serão por

povo.” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 10.)

Traduziremos o Evangelho

Em todas as línguas,

Em todas as culturas,

Exaltando-lhe a grandeza,

Destacando-lhe a sublimidade,

Semeando-lhe a poesia,

Comentando-lhe a verdade,

Interpretando-lhe as lições,

Impondo-nos ao raciocínio,

Aprimorando o coração

E reformando a inteligência,

Renovando leis,

Aperfeiçoando costumes

E aclarando caminhos...

Mas, virá o momento

Em que a Boa Nova deve ser impressa, em nós mesmos,

Nos refolhos da mente,

Nos recessos do peito,

Através das palavras e das ações.

Dos princípios e ideais,

Das aspirações e das esperanças,

Dos gestos e pensamentos.

Porque, em verdade,

Se o Céu nos permite espalhar-lhe a Divina Mensagem no mundo,

Um dia, exigirá nos convertamos

Em traduções vivas do Evangelho na Terra.

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41

NO FUTURO

“E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu

irmão, dizendo: — Conhece o Senhor! porque todos me conhecerão,

desde o menor deles até ao maior.” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 8,

VERSÍCULO 11.)

Quando o homem gravar na própria alma

Os parágrafos luminosos da Divina Lei,

O companheiro não repreenderá o companheiro,

O irmão não denunciará outro irmão.

O cárcere cerrará suas portas,

Os tribunais quedarão em silêncio.

Canhões serão convertidos em arados,

Homens de armas volverão à sementeira do solo.

O ódio será expulso do mundo,

As baionetas repousarão,

As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,

Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.

A justiça será ultrapassada pelo amor.

Os filhos da fé não somente serão justos,

Mas bons, profundamente bons.

A prece constituir-se-á de alegria e louvor

E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da

fraternidade suprema.

A pregação da Lei

Viverá nos atos e pensamentos de todos,

Porque o Cordeiro de Deus

Terá transformado o coração de cada homem

Em tabernáculo de luz eterna,

Em que o seu Reino Divino

Resplandecerá para sempre.

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SEMPRE VIVOS

“Ora, Deus não é de mortos, mas, sim, de vivos. Por isso, vós errais

muito.” — Jesus. (MARCOS, CAPÍTULO 12, VERSÍCULO 27.)

Considerando as convenções estabelecidas em nosso trato com os amigos

encarnados, de quando em quando nos referimos à vida espiritual utilizando a

palavra “morte” nessa ou naquela sentença de conversação usual. No entanto,

é imprescindível entendê-la, não por cessação e sim por atividade

transformadora da vida.

Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte

— a da consciência denegrida no mal, torturada de remorso ou paralítica nos

despenhadeiros que marginam a estrada da insensatez e do crime.

É chegada a época de reconhecermos que todos somos vivos na Criação

Eterna.

Em virtude de tardar semelhante conhecimento nos homens, é que se

verificam grandes erros. Em razão disso, a Igreja Católica Romana criou, em

sua teologia, um céu e um inferno artificiais; diversas coletividades das

organizações evangélicas protestantes apegam-se à letra, crentes de que o

corpo, vestimenta material do Espírito, ressurgirá um dia dos sepulcros,

violando os princípios da Natureza, e inúmeros espiritistas nos têm como

fantasmas de laboratório ou formas esvoaçantes, vagas e aéreas, errando indefinidamente.

Quem passa pela sepultura prossegue trabalhando e, aqui, quanto aí, só

existe desordem para o desordeiro. Na Crosta da Terra ou além de seus

círculos, permanecemos vivos invariavelmente.

Não te esqueças, pois, de que os desencarnados não são magos, nem

adivinhos. São irmãos que continuam na luta de aprimoramento. Encontramos

a morte tão-somente nos caminhos do mal, onde as sombras impedem a visão

gloriosa da vida.

Guardemos a lição do Evangelho e jamais esqueçamos que Nosso Pai é

Deus dos vivos imortais.

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43

BOAS MANEIRAS

“E assenta-te no último lugar.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 14,

VERSÍCULO 10.)

O Mestre, nesta passagem, proporciona inolvidável ensinamento de boas

maneiras.

Certo, a sentença revela conteúdo altamente simbólico, relativamente ao

banquete paternal da Bondade Divina; todavia, convém deslocarmos o conceito

a fim de aplicá-lo igualmente ao mecanismo da vida comum.

A recomendação do Salvador presta-se a todas as situações em que nos

vejamos convocados a examinar algo de novo, junto aos semelhantes. Alguém

que penetre uma casa ou participe de uma reunião pela primeira vez,

timbrando demonstrar que tudo sabe ou que é superior ao ambiente em que se

encontra, torna-se intolerável aos circunstantes.

Ainda que se trate de agrupamento enganado em suas finalidades ou

intenções, não é razoável que o homem esclarecido, aí ingressando pela vez

primeira, se faça doutrinador austero e exigente, porqüanto, para a tarefa de

retificar ou reconduzir almas, é indispensável que o trabalhador fiel ao bem

inicie o esforço, indo ao encontro dos corações pelos laços da fraternidade

legítima. Somente assim, conseguirá alijar a imperfeição eficazmente,

eliminando uma parcela de sombra, cada dia, através do serviço constante.

Sabemos que Jesus foi o grande reformador do mundo, entretanto,

corrigindo e amando, asseverava que viera ao caminho dos homens para

cumprir a Lei.

Não assaltes os lugares de evidência por onde passares. E, quando te

detiveres com os nossos irmãos em alguma parte, não os ofusques com a

exposição do quanto já tenhas conquistado nos domínios do amor e da

sabedoria. Se te encontras decidido a cooperar pelo bem dos outros, apaga-te,

de algum modo, a fim de que o próximo te possa compreender. Impondo

normas ou exibindo poder, nada conseguirás senão estabelecer mais fortes

perturbações.

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CURAS

“E curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: É chegado a vós o

reino de Deus.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 9.)

Realmente Jesus curou muitos enfermos e recomendou-os, de modo

especial, aos discípulos.

Todavia, o Médico Celestial não se esqueceu de requisitar ao Reino Divino

quantos se restauram nas deficiências humanas.

Não nos interessa apenas a regeneração do veículo em que nos

expressamos, mas, acima de tudo, o corretivo espiritual.

Que o homem comum se liberte da enfermidade, mas é imprescindível que

entenda o valor da saúde. Existe, porém, tanta dificuldade para compreendermos

a lição oculta da moléstia no corpo, quanta se verifica em assimilarmos o

apelo ao trabalho santificante que nos é endereçado pelo equilíbrio orgânico.

Permitiria o Senhor a constituição da harmonia celular apenas para que a

vontade viciada viesse golpeá-la e quebrá-la em detrimento do espírito?

O enfermo pretenderá o reajustamento das energias vitais, entretanto,

cabe-lhe conhecer a prudência e o valor dos elementos colocados à sua

disposição na experiência edificante da Terra.

Há criaturas doentes que lastimam a retenção no leito e choram aflitas, não

porque desejem renovar concepções acerca dos sagrados fundamentos da

vida, mas por se sentirem impossibilitadas de prolongar os próprios desatinos.

É sempre útil curar os enfermos, quando haja permissão de ordem superior

para isto, contudo, em face de semelhante concessão do Altíssimo, é razoável

que o interessado na bênção reconsidere as questões que lhe dizem respeito,

compreendendo que raiou para seu espírito um novo dia no caminho redentor.

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QUANDO ORARDES

“E, quando estiverdes orando, perdoai.” — Jesus. (MARCOS,

CAPÍTULO 11, VERSÍCULO 25.)

A sincera atitude da alma na prece não obedece aos movimentos

mecânicos vulgares. Nas operações da luta comum, a criatura atende,

invariavelmente, aos automatismos da experiência material que se modifica de

maneira imperceptível, nos círculos do tempo; todavia, quando se volta a alma

aos santuários divinos do plano superior, através da oração, põe-se a

consciência em contacto com o sentido eterno e criador da vida infinita.

Examine cada aprendiz as sensações que experimenta em se colocando

na posição de rogativa ao Alto, compreendendo que se lhe faz indispensável a

manutenção da paz interna perante as criaturas e quadros circunstanciais do

caminho.

A mente que ora, permanece em movimentação na esfera invisível.

As inteligências encarnadas, ainda mesmo quando se não conheçam entre

si, na pauta das convenções materiais, comunicam-se através dos tênues fios

do desejo manifestado na oração. Em tais instantes, que devemos consagrar

exclusivamente à zona mais alta de nossa individualidade, expedimos mensagens,

apelos, intenções, projetos e ansiedades que procuram objetivo

adequado.

É digno de lástima todo aquele que se utiliza da oportunidade para dilatar a

corrente do mal, consciente ou inconscientemente. É por este motivo que

Jesus, compreendendo a carência de homens e mulheres isentos de culpa,

lançou este expressivo programa de amor, a benefício de cada discípulo do

Evangelho: — “E, quando estiverdes orando, perdoai.”

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VÓS, ENTRETANTO

“Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos,

e não agradar a nós mesmos.” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 15,

VERSÍCULO 1.)

Com que objetivo adquire o homem a noção justa da confiança em Deus?

Para furtar-se à luta e viver aguardando o céu?

Semelhante atitude não seria compreensível.

O discípulo alcança a luz do conhecimento, a fim de aplicá-la ao próprio

caminho. Concedeu-lhe Jesus um traço do Céu para que o desenvolva e

estenda através da terra em que pisa.

Receber o sagrado auxílio do Mestre e subtrair-se-lhe à oficina de

redenção é testemunhar ignorância extrema.

Dar-se a Cristo é trabalhar pelo estabelecimento de seu reino.

Os templos terrestres, por ausência de compreensão da verdade,

permanecem repletos de almas paralíticas, que desertaram do serviço por

anseio de bem-aventurança. Isto pode entender-se nas criaturas que ainda não

adquiriram o necessário senso da realidade, mas vós, os que já sois fortes no

conhecimento, não deveis repousar na indiferença ante os impositivos

sagrados da luz acesa, pela infinita bondade do Cristo, em vosso mundo

íntimo. É imprescindível tome cada um os seus instrumentos de trabalho, na

tarefa que lhe cabe, agindo pela vitória do bem, no círculo de pessoas e

atividades que o cercam.

Muitos espíritos doentes, nas falsas preocupações e na ociosidade do

mundo, poderão alegar ignorância. Vós, entretanto, não sois fracos, nem

pobres da misericórdia do Senhor.

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O PROBLEMA DE AGRADAR

“Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo do Cristo

— Paulo. (GÁLATAS, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 10.)

Os sinceros discípulos do Evangelho devem estar muito preocupados com

os deveres próprios e com a aprovação isolada e tranqüila da consciência, nos

trabalhos que foram chamados a executar, cada dia, aprendendo a prescindir

das opiniões desarrazoadas do mundo.

A multidão não saberá dispensar carinho e admiração senão àqueles que

lhe satisfazem as exigências e caprichos; nos conflitos que lhe assinalam a

marcha, o aprendiz fiel de Jesus será um trabalhador diferente que, em seus

impulsos instintivos, ela não poderá compreender.

Muita inexperiência e invigilãncia revelará o mensageiro da Boa Nova que

manifeste inquietude, com relação aos pareceres do mundo a seu respeito;

quando se encontre na prosperidade material, em que o Mestre lhe confere

mais rigorosa mordomia, muitos vizinhos lhe perguntarão, maliciosos, pela

causa dos êxitos sucessivos em que se envolve, e, quando penetra o campo

da pobreza e da dificuldade, o povo lhe atribui as experiências difíceis a

supostas defecções ante as sublimes idéias esposadas.

É indispensável trabalhar para os homens, como quem sabe que a obra

integral pertence a Jesus-Cristo. O mundo compreenderá o esforço do servidor

sincero, mas, em outra oportunidade, quando lho permita a ascensão evolutiva.

Em muitas ocasiões, os pareceres populares equivalem à gritaria das

assembléias infantis, que não toleram os educadores mais altamente

inspirados, nas linhas de ordem e elevação, trabalho e aproveitamento.

Que o sincero trabalhador do Cristo, portanto, saiba operar sem a

preocupação com os juízos errôneos das criaturas. Jesus o conhece e isto

basta.

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COMPREENDAMOS

“Sacrifícios, e ofertas, e holocaustos e oblações pelo pecado não

quiseste, nem te agradaram” — Paulo. (HEBREUS, 10, VERSÍCULO 8.)

O mundo antigo não compreendia as relações com o Altíssimo, senão

através de suntuosas oferendas e pesados holocaustos.

Certos povos primitivos atingiram requintada extravagância religiosa,

conduzindo sangue humano aos altares.

Tais manifestações infelizes vão-se atenuando no cadinho dos séculos; no

entanto, ainda hoje se verificam lastimáveis pruridos de excentricidade, nos

votos dessa natureza.

O Cristianismo operou completa renovação no entendimento das verdades

divinas; contudo, ainda em suas fileiras costumam surgir absurdas promessas,

que apenas favorecem a intromissão da ignorância e do vício.

A mais elevada concepção de Deus que podemos abrigar no santuário do

espírito é aquela que Jesus nos apresentou, em no-Lo revelando Pai amoroso

e justo, à espera dos nossos testemunhos de compreensão e de amor.

Na própria Crosta da Terra, qualquer chefe de família, consciencioso e

reto, não deseja os filhos em constante movimentação de ofertas inúteis, no

propósito de arrefecer-lhe a vigilância afetuosa. Se tais iniciativas não agradam

aos progenitores humanos, caprichosos e falíveis, como atribuir semelhante

falha ao Todo-Misericordioso, no pressuposto de conquistar a benemerência

celeste?

É indispensável trabalhar contra o criminoso engano.

A felicidade real somente é possível no lar cristão do mundo, quando os

seus componentes cumprem as obrigações que lhes competem, ainda mesmo

ao preço de heróicas decisões. Com o Nosso Pai Celestial, o programa não é

diferente, porque o Senhor Supremo não nos pede sacrifícios e lágrimas e, sim,

ânimo sereno para aceitar-lhe a vontade sublime, colocando-a em prática.

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49

VELHO ARGUMENTO

“E aduzindo ele isto em sua def esa, disse Fasto em alta voz: — Estás

louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar.” — (ATOS, CAPÍTULO 26,

VERSÍCULO 24.)

É muito comum lançarem aos discípulos do Evangelho a falsa acusação de

loucos, que lhes é imputada pelos círculos cientificistas do século.

O argumento é velhíssimo por parte de quantos pretendem fugir à verdade,

complacentes com os próprios erros.

Há trabalhadores que perdem valioso tempo, lamentando que a multidão

os classifique como desequilibrados. Isto não constitui razão para contendas

estéreis.

Muitas vezes, o próprio Mestre foi interpretado por demente e os apóstolos

não receberam outra definição.

Numa das últimas defesas, vemos o valoroso amigo da gentilidade, ante a

Corte Provincial de Cesaréia, proclamando as verdades imortais de Cristo

Jesus. A assembléia toca-se de imenso assombro. Aquela palavra franca e

nobre estarrece os ouvintes. É aí que Pórcio Festo, na qualidade de chefe dos

convidados, delibera quebrar a vibração de espanto que domina o ambiente.

Antes, porém, de fazê-lo, o argucioso romano considerou que seria preciso

justificar-se em bases sólidas. Como acusar, no entanto, o grande convertido

de Damasco, se ele, Festo, lhe conhecia o caráter íntegro, a sincera

humildade, a paciência sublime e o ardoroso espírito de sacrifício? Lembra-se,

então, das “muitas letras” e Paulo é chamado louco pela ciência divina de que

dava testemunho.

Recorda, pois, o abnegado batalhador e não dispenses apreço às falsas

considerações de quantos te provoquem ao abandono da verdade. O mal é

incompatível com o bem e por “poucas letras” ou por “muitas”, desde que te

alistes entre os aprendizes de Jesus, não te faltará o mundo inferior com o

sarcasmo e a perseguição.

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PRESERVA A TI PRÓPRIO

“Vai, e não peques mais.” — Jesus. (JOÃO, 8, VERSÍCULO 11.)

A semente valiosa que não ajudas, pode perder-se.

A árvore tenra que não proteges, permanece exposta à destruição.

A fonte que não amparas, poderá secar-se.

A água que não distribuis, forma pântanos.

O fruto não aproveitado, apodrece.

A terra boa que não defendes, é asfixiada pela erva inútil.

A enxada que não utilizas, cria ferrugem.

As flores que não cultivas, nem sempre se repetem.

O amigo que não conservas, foge do teu caminho.

A medicação que não respeitas na dosagem e na oportunidade que lhe

dizem respeito, não te beneficia o campo orgânico.

Assim também é a Graça Divina.

Se não guardas o favor do Alto, respeitando-o em ti mesmo, se não usas

os conhecimentos elevados que recebes para benefício da própria felicidade,

se não prezas a contribuição que te vem de cima, não te vale a dedicação dos

mensageiros espirituais. Debalde improvisarão eles milagres de amor e paciência,

na solução de teus problemas, porque sem a adesão de tua vontade, ao

programa regenerativo, todas as medidas salvadoras resultarão imprestáveis.

“Vai, e não peques mais.”

O ensinamento de Jesus é suficiente e expressivo.

O Médico Divino proporciona a cura, mas se não a conservamos, dentro de

nós, ninguém poderá prever a extensão e as conseqüências dos novos desequilíbrios

que nos sitiarão a invigilãncia.

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SOCORRE A TI MESMO

“Pregando o Evangelho do reino e curando todas as enfermidades.”

— (MATEUS, CAPÍTULO 9, VERSÍCULO 35.)

Cura a catarata e a conjuntivite, mas corrige a visão espiritual de teus

olhos.

Defende-te contra a surdez, entretanto, retifica o teu modo de registrar as

vozes e solicitações variadas que te procuram.

Medica a arritmia e a dispnéia, contudo, não entregues o coração à

impulsividade arrasadora.

Combate a neurastenia e o esgotamento, no entanto, cuida de reajustar as

emoções e tendências.

Persegue a gastralgia, mas educa teus apetites à mesa.

Melhora as condições do sangue, todavia, não o sobrecarregues com os

resíduos de prazeres inferiores.

Guerreia a hepatite, entretanto, livra o fígado dos excessos em que te

comprazes.

Remove os perigos da uremia, contudo, não sufoques os rins com os

venenos de taças brilhantes.

Desloca o reumatismo dos membros, reparando, porém, o que fazes com

teus pés, braços e mãos.

Sana os desacertos cerebrais que te ameaçam, todavia, aprende a guardar

a mente no idealismo superior e nos atos nobres.

Consagra-te à própria cura, mas não esqueças a pregação do Reino Divino

aos teus órgãos.

Eles são vivos e educáveis. Sem que teu pensamento se purifique e sem

que a tua vontade comande o barco do organismo para o bem, a intervenção

dos remédios humanos não passará de medida em trânsito para a inutilidade.

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PERIGOS SUTIS

“Não vos façais, pois, idólatras.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS

CORÍNTIOS, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 7.)

A recomendação de Paulo aos coríntios deve ser lembrada e aplicada em

qualquer tempo, nos serviços de ascensão religiosa do mundo.

É indispensável evitar a idolatria em todas as circunstâncias. Suas

manifestações sempre representaram sérios perigos para a vida espiritual.

As crenças antigas permanecem repletas de cultos exteriores e de ídolos

mortos.

O Consolador, enviado ao mundo, na venerável missão espiritista, vigiará

contra esse venenoso processo de paralisia da alma.

Aqui e acolá, surgem pruridos de adoração que se faz imprescindível

combater. Não mais imagens dos círculos humanos, nem instrumentos físicos

supostamente santificados para cerimônias convencionais, mas entidades

amigas e médiuns terrenos que a inconsciência alheia vai entronizando,

inadvertida-mente, no altar frágil de honrarias fantasiosas. É necessário

reconhecer que aí temos um perigo sutil, através do qual inúmeros

trabalhadores têm resvalado para o despenhadeiro da inutilidade.

As homenagens inoportunas costumam perverter os médiuns dedicados e

inexperientes, além de criarem certa atmosfera de incompreensão que impede

a exteriorização espontânea dos verdadeiros amigos do bem, no plano

espiritual.

Ninguém se esqueça da condição de aperfeiçoamento relativo dos

mensageiros desencarnados que se comunicam e do quadro de necessidades

imediatas da vida dos medianeiros humanos.

Combatamos os ídolos falsos que ameaçam o Espiritismo cristão. Utilize

cada discípulo os amplos recursos da lei de cooperação, atire-se ao esforço

próprio com sincero devotamento à tarefa e lembremo-nos todos de que, no

apostolado do Mestre Divino, o amor e a fidelidade a Deus constituíram o tema

central.

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53

EM CADEIAS

“Pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele

livremente, como me convém falar.” — Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO 6,

VERSÍCULO 20.)

Observamos nesta passagem o apóstolo dos gentios numa afirmativa que

parece contraditória, à primeira vista.

Paulo alega a condição de emissário em cadeias e, simultaneamente,

declara que isto ocorre para que possa servir ao Evangelho, livremente, quanto

convinha.

O grande trabalhador dirigia-se aos companheiros de Éfeso, referindo-se à

sua angustiosa situação de prisioneiro das autoridades romanas; entretanto,

por isto mesmo, em vista do difícil testemunho, trazia o espírito mais livre para

o serviço que lhe competia realizar.

O quadro é significativo para quantos pretendem a independência

econômico-financeira ou demasiada liberdade no mundo, a fim de

exemplificarem os ensinamentos evangélicos.

Há muita gente que declara aguardar os dias da abundância material e as

facilidades terrestres para atenderem ao idealismo cristão. Isto, contudo, é contra-

senso. O serviço de Jesus se destina a todo lugar.

Paulo, entre cadeias, se sentia mais livre na pregação da verdade.

Naturalmente, nem todos os discípulos estarão atravessando esses montes

culminantes do testemunho. Todos, porém, sem distinção, trazem consigo as

santas algemas das obrigações diárias no lar, no trabalho comum, na rotina

das horas, no centro da sociedade e da família.

Ninguém, portanto, tente quebrar as cadeias em que se encontra, na

mentirosa suposição de que se candidatará a melhor posto nas oficinas do

Cristo.

Somente o dever bem cumprido nos confere acesso à legítima liberdade.

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54

RAZÃO DOS APELOS

“Pelo que, sendo chamado, vim sem contradizer. Pergunto pois: por

que razão mandastes chamar-me?” — Pedro. (ATOS, CAPÍTULO 10,

VERSÍCULO 29.)

A pergunta de Pedro ao centurião Cornélio étraço de grande significação

nos atos apostólicos.

O funcionário romano era conhecido por suas tradições de homem

caridoso e reto, invocava a presença do discípulo de Jesus atendendo a

elevadas razões de ordem moral, após generoso alvitre de um emissário do

Céu e, contudo, atingindo-lhe o círculo doméstico, o ex-pescador de

Cafarnaum interroga, sensato:

— “Por que razão mandastes chamar-me?”

Simão precisava conhecer as finalidades de semelhante exigência, tanto

quanto o servidor vigilante necessita saber onde pisa e com que fim é

convocado aos campos alheios.

Esse quadro expressivo sugere muitas considerações aos novos

aprendizes do Evangelho.

Muita gente, por ouvir referências a esse ou àquele Espírito elevado

costuma invocar-lhe a presença nas reuniões doutrinárias.

A resolução, porém, é intempestiva e desarrazoada.

Por que reclamar a companhia que não merecemos?

Não se pode afirmar que o impulso se filie àleviandade, entretanto,

precisamos encarecer a importância das finalidades em jogo.

Imaginai-vos chamando Simão Pedro a determinado círculo de oração e

figuremos a aquiescência do venerável apóstolo ao apelo. Naturalmente, sereis

obrigados a expor ao grande emissário celestial os motivos da requisição. E,

pautando no bom senso as nossas atitudes mentais, indaguemos de nós

mesmos se possuímos bastante elevação para ver, ouvir e compreender-lhe o

espírito glorioso. Quem de nós responderá afirmativamente? Teremos, assim,

suficiente audácia de invocar o sublime Cefas, tão-somente para ouvi-lo falar?

58

55

COISAS INVISÍVEIS

“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o

seu eterno poder como a sua divindade se estendem e claramente se

vêem pelas coisas que estão criadas.” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO

1, VERSÍCULO 20.)

O espetáculo da Criação Universal é a mais forte de todas as

manifestações contra o materialismo negativista, filho da ignorância ou da

insensatez.

São as coisas criadas que falam mais justamente da natureza invisível.

Onde a atividade que se desdobre sem base?

Toda forma inteligente nasceu de uma disposição inteligente.

O homem conhece apenas as causas de suas realizações transitórias,

ignorando, contudo, os motivos complexos de cada ângulo do caminho. A paisagem

exterior que lhe afeta o sensório é uma parte minúscula do acervo de

criações divinas, que lhe sustentam o habitat, condicionado às suas possibilidades

de aproveitamento. O olho humano não verá, além do limite da sua

capacidade de suportação. A criatura conviverá com os seres de que necessita

no trabalho de elevação e receberá ambiente adequado aos seus imperativos

de aperfeiçoamento e progresso, mas que ninguém resuma a expressão vital

da esfera em que respira no que os dedos mortais são suscetíveis de apalpar.

Os objetos visíveis no campo de formas efêmeras constituem breve e

transitória resultante das forças invisíveis no plano eterno.

Cumpre os deveres que te cabem e receberás os direitos que te esperam.

Faze corretamente o que te pede o dia de hoje e não precisarás repetir a

experiência amanhã.

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56

ÊXITOS E INSUCESSOS

“Sei viver em penúria e sei também viver em abundância.” — Paulo.

(FILIPENSES, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 12.)

Em cada comunidade social, existem pessoas numerosas,

demasiadamente preocupadas quanto aos sucessos particularistas, afirmandose

ansiosas pelo ensejo de evidência. São justamente as que menos se fixam

nas posições de destaque, quando convidadas aos postos mais altos do

mundo, estragando, desastradamente, as oportunidades de elevação que a

vida lhes confere.

Quase sempre, os que aprenderam a suportar a pobreza é que sabem

administrar, com mais propriedade, os recursos materiais.

Por esta razão, um tesouro amontoado para quem não trabalhou em sua

posse é, muitas vezes, causa de crime, separatividade e perturbação.

Pais trabalhadores e honestos formarão nos filhos a mentalidade do

esforço próprio e da cooperação afetiva, ao passo que os progenitores egoístas

e descuidados favorecerão nos descendentes a inutilidade e a preguiça.

Paulo de Tarso, na lição à igreja de Filipos, refere-se ao precioso

imperativo do caminho no que se reporta ao equilíbrio, demonstrando a

necessidade do discípulo, quanto à valorização da pobreza e da fortuna, da

escassez e da abundãncia.

O êxito e o insucesso são duas taças guardando elementos diversos que,

contudo, se adaptam às mesmas finalidades sublimes. A ignorância humana,

entretanto, encontra no primeiro o licor da embriaguez e no segundo identifica

o fel para a desesperação. Nisto reside o erro profundo, porque o sábio extrairá

da alegria e da dor, da fartura ou da escassez, o conteúdo divino.

60

57

PERANTE JESUS

“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e

não aos homens.” — Paulo. (COLOSSENSES, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO

23.)

A compreensão do serviço do Cristo, entre as criaturas humanas,

alcançará mais tarde a precisa amplitude, para a glorificação dAquele que nos

segue de perto, desde o primeiro dia, esclarecendo-nos o caminho com a

divina luz.

Se cada homem culto indagasse de si mesmo, quanto ao fundamento

essencial de suas atividades na Terra, encontraria sempre, no santuário

interior, vastos horizontes para ilações de valor infinito.

Para quem trabalhou no século?

A quem ofereceu o fruto dos labores de cada dia? Não desejamos

menoscabar a posição respeitável das pátrias, das organizações, da família e

da personalidade; todavia, não podemos desconhecer-lhes a expressão de

relatividade no tempo. No transcurso dos anos, as fronteiras se modificam, as

leis evolucionam, o grupo doméstico se renova e o homem se eleva para

destinos sempre mais altos.

Tudo o que representa esforço da criatura foi realização de si mesma, no

quadro de trabalhos permanentes do Cristo. O que temos efetuado nos séculos

constitui benefício ou ofensa a nós mesmos, na obra que pertence ao Senhor e

não a nós outros. Legisladores e governados passam no tempo, com a

bagagem que lhes é própria, e Jesus permanece a fim de ajuizar da vantagem

ou desvantagem da colaboração de cada um no serviço divino da evolução e

do aprimoramento.

Administração e obediência, responsabilidades de traçar e seguir são

apenas subdivisões da mordomia conferida pelo Senhor aos tutelados.

O trabalho digno é a oportunidade santa. Dentro dos círculos do serviço, a

atitude assumida pelo homem honrar-lhe-á ou desonrar-lhe-á a personalidade

eterna, perante Jesus-Cristo.

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58

CONTRIBUIR

‘Cada um contribua, segundo propôs em seu coração; não com tristeza

ou por necessidade, porque Deus ama o que dá com alegria.” —

Paulo. (2ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 9, VERSÍCULO 7.)

Quando se divulgou a afirmativa de Paulo de que Deus ama o que dá com

alegria, muita gente apenas lembrou a esmola material.

O louvor, todavia, não se circunscreve às mãos generosas que espalham

óbolos de bondade entre os necessitados e sofredores.

Naturalmente, todos os gestos de amor entram em linha de conta no

reconhecimento divino, mas devemos considerar que o verbo contribuir, na presente

lição, aparece em toda a sua grandiosa excelsitude.

A cooperação no bem é questão palpitante de todo lugar e de todo dia.

Qualquer homem é suscetível de fornecê-la. Não é somente o mendigo que a

espera, mas também o berço de onde se renova a experiência, a família em

que acrisolamos as conquistas de virtude, o vizinho, nosso irmão em

humanidade, e a oficina de trabalho, que nos assinala o aproveitamento

individual, no esforço de cada dia.

Sobrevindo o momento de repouso diuturno, cada coração pode interrogar

a si próprio, quanto à qualidade de sua colaboração no serviço, nas palestras,

nas relações afetivas, nessa ou naquela preocupação da vida comum.

Tenhamos cuidado contra as tristezas e sombras esterilizadoras. Mávontade,

queixas, insatisfação, leviandades, não integram o quadro dos

trabalhos que o Senhor espera de nossas atividades no mundo. Mobilizemos

nossos recursos com otimismo e não nos esqueçamos de que o Pai ama o filho

que contribui com alegria.

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59

SIGAMOS ATÉ LÁ

“Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós,

pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” — Jesus. (JOÃO,

CAPÍTULO 15, VERSÍCULO 7.)

Na oração dominical, Jesus ensina aos cooperadores a necessidade de

observância plena dos desígnios do Pai.

Sabia o Mestre que a vontade humana é ainda muito frágil e que inúmeras

lutas rodeiam a criatura até que aprenda a estabelecer a união com o Divino.

Apesar disso, a lição da prece foi sempre interpretada pela maioria dos

crentes como recurso de fácil obtenção do amparo celestial.

Muitos pedem determinados favores e recitam maquinalmente as fórmulas

verbais.

Certamente, não podem receber imediata satisfação aos caprichos próprios,

porque, no estado de queda ou de ignorância, o espírito necessita, antes

de tudo, aprender a submeter-se aos desígnios divinos, a seu respeito.

Alcançaremos, porém, a época das orações integralmente atendidas.

Atingiremos semelhante realização quando estivermos espiritualmente em

Cristo. Então, quanto quisermos, ser-nos-á feito, porqüanto teremos penetrado

o justo sentido de cada coisa e a finalidade de cada circunstância.

Estaremos habilitados a querer e a pedir, em Jesus, e a vida se nos

apresentará, em suas verdadeiras características de infinito, eternidade,

renovação e beleza.

Na condição de encarnados ou desencarnados, ainda estamos

caminhando para o Mestre, a fim de que possamos experimentar a união

gloriosa com o seu amor. Até lá, trabalhemos e vigiemos para compreender a

vontade divina.

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60

LÓGICA DA PROVIDÊNCIA

“Depois que fostes iluminados, suportastes grande combate de aflições.”

— Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 32.)

Os cultivadores da fé sincera costumam ser indicados, no mundo, à conta

de grandes sofredores.

Há mesmo quem afirme afastar-se deliberada-mente dos círculos

religiosos, temendo o contágio de padecimentos espirituais.

Os ímpios, os ignorantes e os fúteis exibem-se, espetacularmente, na vida

comum, através de traços bizarros da fantasia exterior; todavia, quando se

abeiram das verdades celestes, antes de adquirirem acesso às alegrias

permanentes da espiritualidade superior, atravessam grandes túneis de

tristeza, abatimento e taciturnidade. O fenômeno, entretanto, é natural,

porqüanto haverá sempre ponderação após a loucura e remorso depois do

desregramento.

O problema, contudo, abrange mais vasto círculo de esclarecimentos.

A misericórdia que se manifesta na Justiça de Deus transcende à

compreensão humana.

O Pai confere aos filhos ignorantes e transviados o direito às

experiências mais fortes somente depois de serem iluminados. Só após

aprenderem a ver com o espírito eterno é que a vida lhes oferece valores

diferentes. Nascer-lhes-á nos corações, daí em diante, a força indispensável ao

triunfo no grande combate das aflições.

Os frívolos e oportunistas, não obstante as aparências, são habitualmente

almas frágeis, quais galhos secos que se quebram ao primeiro golpe da

ventania. Os espíritos nobres, que suportam as tormentas do caminho

terrestre, sabem disto.

Só a luz espiritual garante o êxito nas provações.

Ninguém concede a responsabilidade de um barco, cheio de preocupações

e perigos, a simples crianças.

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61

O HOMEM COM JESUS

“Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.” —

Paulo. (FILIPENSES, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 4.)

Com Jesus, ergue-se o Homem

Da treva à luz...

Da inércia ao serviço...

Da ignorância à sabedoria...

Do instinto à razão...

Da força ao direito...

Do egoísmo à fraternidade...

Da tirania à compaixão...

Da violência ao entendimento...

Do ódio ao amor...

Da posse mentirosa à procura dos bens imperecíveis...

Da conquista sanguinolenta à renúncia edificante...

Da extorsão à justiça...

Da dureza à piedade...

Da palavra vazia ao verbo criador...

Da monstruosidade à beleza...

Do vício à virtude...

Do desequilíbrio à harmonia...

Da aflição ao contentamento...

Do pântano ao monte...

Do lodo à glória...

Homem, meu irmão, regozijemo-nos em plena luta redentora!

Que píncaros de angelitude poderemos alcançar se nos consagrarmos

realmente ao Divino Amigo que desceu e se humilhou por nós?

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JESUS PARA O HOMEM

“E achado em forma como homem, humilhou-se a si mesmo, sendo

obediente até à morte, e morte de cruz.” — Paulo. (FILIPENSES,

CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 8.)

O Mestre desceu para servir,

Do esplendor à escuridão...

Da alvorada eterna à noite plena...

Das estrelas à manjedoura...

Do infinito à limitação...

Da glória à carpintaria...

Da grandeza à abnegação...

Da divindade dos anjos à miséria dos homens...

Da companhia de gênios sublimes à convivência dos pecadores...

De governador do mundo a servo de todos...

De credor magnânimo a escravo...

De benfeitor a perseguido...

De salvador a desamparado...

De emissário do amor a vítima do ódio...

De redentor dos séculos a prisioneiro das sombras...

De celeste pastor a ovelha oprimida...

De poderoso trono à cruz do martírio...

Do verbo santificante ao angustiado silêncio...

De advogado das criaturas a réu sem defesa...

Dos braços dos amigos ao contacto de ladrões...

De doador da vida eterna a sentenciado no vale da morte...

Humilhou-se e apagou-se para que o homem se eleve e brilhe para

sempre!

Oh! Senhor, que não fizeste por nós, a fim de aprendermos o caminho da

Gloriosa Ressurreição no Reino?

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63

O SENHOR DÁ SEMPRE

“Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos,

quanto mais dará o Pai Celestial o Espírito Santo aqueles que lho pedirem?”

— Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 11, VERSÍCULO 13.)

Um pai terrestre, não obstante o carinho cego com que muitas vezes

envolve o coração, sempre sabe cercar o filho de dádivas proveitosas.

Por que motivo o Pai Celestial, cheio de sabedoria e amor, permaneceria

surdo e imóvel perante as nossas súplicas?

O devotamento paternal do Supremo Senhor nos rodeia em toda parte.

Importa, contudo, não viciarmos o entendimento.

Lembremo-nos de que a Providência Divina opera invariavelmente para o

bem infinito.

Liberta a atmosfera asfixiante com os recursos da tempestade.

Defende a flor com espinhos.

Protege a plantação útil com adubos desagradáveis.

Sustenta a verdura dos vales com a dureza das rochas.

Assim também, nos círculos de lutas planetárias, acontecimentos que nos

parecem desastrosos, à atividade particular, representam escoras ao nosso

equilíbrio e ao nosso êxito, enquanto que fenômenos interpretados como

calamidades na ordem coletiva constituem enormes benefícios públicos.

Roga, pois, ao Senhor a bênção da Luz Divina para o teu coração e para a

tua inteligência, a fim de que te não percas no labirinto dos problemas;

contudo, não te esqueças de que, na maioria das ocasiões, o socorro inicial do

Céu nos vem ao caminho comum, através de angústias e desenganos.

Aguarda, porém, confiante, a passagem dos dias. O tempo é o nosso

explicador silencioso e te revelará ao coração a bondade infinita do Pai que nos

restaura a saúde da alma, por intermédio do espinho da desilusão ou do

amargoso elixir do sofrimento.

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64

MELHOR SOFRER NO BEM

“Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus

assim o quer), do que fazendo mal.” — Pedro. (1ª EPÍSTOLA A PEDRO,

CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 17.)

Para amealhar recursos financeiros que será compelido a abandonar

precipitadamente, o homem muitas vezes adquire deploráveis enfermidades,

que lhe corroem os centros de força, trazendo a morte indesejável.

Comprando sensações efêmeras para o corpo de carne, comumente

recebe perigosos males que o acompanham até aos últimos dias do veículo em

que se movimenta na Terra.

Encolerizando-se por insignificantes lições do caminho, envenena órgãos

vitais, criando fatais desequilíbrios à vida física.

Recheando o estômago, em certas ocasiões, estabelece a viciação de

aparelhos importantes da instrumentalidade fisiológica, renunciando à perfeição

do vaso carnal pelo simples prazer da gula.

Por que temer os percalços da senda clara do amor e da sabedoria, se o

trilho escuro do ódio e da ignorância permanece repleto de forças vingadoras e

perturbantes?

Como recear o cansaço e o esgotamento, as complicações e

incompreensões, os conflitos e os desgostos decorrentes da abençoada luta

pela suprema vitória do bem, se o combate pelo triunfo provisório do mal

conduz os batalhadores a tributos aflitivos de sofrimento?

Gastemos nossas melhores possibilidades a serviço do Cristo,

empenhando-lhe nossas vidas.

A arma criminosa que se quebra e a medida repugnante consumada

provocam sempre maldição e sombra, mas para o servo dilacerado no dever e

para a lâmpada que se apaga no serviço iluminativo reserva-se destino

diferente.

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65

TENHAMOS PAZ

“Tende paz entre vós.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS

TESSALONICENSES, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 13.)

Se não é possível respirar num clima de paz perfeita, entre as criaturas, em

face da ignorância e da belicosidade que predominam na estrada humana, é

razoável procure o aprendiz a serenidade interior, diante dos conflitos que

buscam envolvê-lo a cada instante.

Cada mente encarnada constitui extenso núcleo de governo espiritual,

subordinado agora a justas limitações, servido por várias potências, traduzidas

nos sentidos e percepções.

Quando todos os centros individuais de poder estiverem dominados em si

mesmos, com ampla movimentação no rumo do legitimo bem, então a guerra

será banida do Planeta.

Para isso, porém, é necessário que os irmãos em humanidade, mais

velhos na experiência e no conhecimento, aprendam a ter paz consigo.

Educar a visão, a audição, o gosto e os ímpetos representa base primordial

do pacifismo edificante.

Geralmente, ouvimos, vemos e sentimos, conforme nossas inclinações e

não segundo a realidade essencial. Registramos certas informações, longe da

boa intenção em que foram inicialmente vazadas, e, sim, de acordo com as

nossas perturbações internas. Anotamos situações e paisagens com a luz ou

com a treva que nos absorvem a inteligência. Sentimos com a reflexão ou com

o caos que instalamos no próprio entendimento.

Eis por que, quanto nos seja possível, façamos serenidade em torno de

nossos passos, ante os conflitos da esfera em que nos achamos.

Sem calma, é impossível observar e trabalhar para o bem.

Sem paz, dentro de nós, jamais alcançaremos os círculos da paz

verdadeira.

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66

BOA-VONTADE

“Vede prudentemente como andais.” — Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO

5, VERSÍCULO 15.)

Boa-vontade descobre trabalho.

Trabalho opera a renovação.

Renovação encontra o bem.

O bem revela o espírito de serviço.

O espírito de serviço alcança a compreensão.

A compreensão ganha humildade.

A humildade conquista o amor.

O amor gera a renúncia.

A renúncia atinge a luz.

A luz realiza o aprimoramento próprio.

O aprimoramento próprio santifica o homem.

O homem santificado converte o mundo para Deus.

Caminhando prudentemente, pela simples boa-vontade a criatura

alcançará o Divino Reino da Luz.

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67

MÁ-VONTADE

“Não vos comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas.” —

Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 11.)

Má-vontade gera sombra.

A sombra favorece a estagnação.

A estagnação conserva o mal.

O mal entroniza a ociosidade.

A ociosidade cria a discórdia.

A discórdia desperta o orgulho.

O orgulho acorda a vaidade.

A vaidade atiça a paixão inferior.

A paixão inferior provoca a indisciplina.

A indisciplina mantém a dureza de coração.

A dureza de coração impõe a cegueira espiritual.

A cegueira espiritual conduz ao abismo.

Entregue às obras infrutuosas da incompreensão, pela simples mávontade

pode o homem rolar indefinidamente ao precipício das trevas.

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68

NECESSÁRIO ACORDAR

“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e o Cristo te

esclarecerá.” — Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 14.)

Grande número de adventícios ou não aos círculos do Cristianismo acusa

fortes dificuldades na compreensão e aplicação dos ensinamentos de Jesus.

Alguns encontram obscuridades nos textos, outros perseveram nas

questiúnculas literárias. Inquietam-se, protestam e rejeitam o pão divino pelo

envoltório humano de que necessitou para preservar-se na Terra.

Esses amigos, entretanto, não percebem que isto ocorre, porque

permanecem dormindo, vitimas de paralisia das faculdades superiores.

Na maioria das ocasiões, os convites divinos passam por eles, sugestivos

e santificantes; todavia, os companheiros distraídos interpretam-nos por cenas

sagradas, dignas de louvor, mas depressa relegadas ao esquecimento. O

coração não adere, dormitando amortecido, incapaz de analisar e

compreender.

A criatura necessita indagar de si mesma o que faz, o que deseja, a que

propósitos atende e a que finalidades se destina. Faz-se indispensável examinar-

se, emergir da animalidade e erguer-se para senhorear o próprio

caminho.

Grandes massas, supostamente religiosas, vão sendo conduzidas, através

das circunstâncias de cada dia, quais fileiras de sonâmbulos inconscientes.

Fala-se em Deus, em fé e em espiritualidade, qual se respirassem na estranha

atmosfera de escuro pesadelo. Sacudidas pela corrente incessante do rio da

vida, rolam no turbilhão dos acontecimentos, enceguecidas, dormentes e

semimortas até que despertem e se levantem, através do esforço pessoal, a

fim de que o Cristo as esclareça.

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69

HOJE

“Antes exortai-vos uns aos outros, todos os dias, durante o tempo

que se chama Hoje; para que nenhum de vós se endureça pelo engano do

pecado.” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 13.)

O conselho da exortação recíproca, diária, indicado pelo apóstolo requisita

bastante reflexão para que se não estabeleça guarida a certas dúvidas.

Salientemos que Paulo imprime singular importância ao tempo que se

chama Hoje, destacando a necessidade de valorização dos recursos em movimento

pelas nossas possibilidades no dia que passa.

Acreditam muitos que para aconselharem os irmãos necessitam falar

sempre, transformando-se em discutidores contumazes. Importa reconhecer,

porém, que uma advertência, quando se constitua somente de palavras, deixa

invariável vazio após sua passagem.

Qual ocorre no plano das organizações físicas, edificação espiritual alguma

se levantará sem bases.

O “exortai-vos uns aos outros” representa um apelo mais importante que o

simples chamamento aos duelos verbais.

Convites e conselhos transparecem, com mais força, do exemplo de cada

um. Todo aquele que vive na prática real dos princípios nobres a que se devotou

no mundo, que cumpre zelosamente os deveres contraídos e que

demonstre o bem sinceramente, está exortando os irmãos em humanidade ao

caminho de elevação. É para esse gênero de testemunho diário que o

convertido de Damasco nos convoca. Somente por intermédio desse constante

exercício de melhoria própria, libertar-se-á o homem de enganos fatais.

Não te endureças, pois, na estrada que o Senhor te levou a trilhar, em

favor de teu resgate, aprimoramento e santificação. Recorda a importância do

tempo que se chama Hoje.

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70

ELOGIOS

“Mas ele disse: Antes, bem-aventurados os que ouvem a palavra de

Deus e a guardam.” — (LUCAS, CAPÍTULO 11, VERSÍCULO 28.)

Dirigira-se Jesus à multidão, com o enorme poder do seu amor,

conquistando geral atenção.

Mal terminara as observações amorosas e sábias, eis que uma senhora se

levanta no seio da turba e, magnetizada pela sua expressão de espiritualidade

sublime, reporta-se, em alta voz, às bem-aventurançaS que deviam caber a

Maria, por haver contribuído na vinda do Salvador à face da Terra. Mas,

prestamente, na perfeita compreensão das conseqüências infelizes que

poderiam advir da atitude impensada, responde o Mestre que, antes de tudo,

serão bem-aventurados os que ouvem a revelação de Deus e lhe praticam os

ensinamentos, observando-lhe os princípios.

A passagem constitui esclarecimento vivo para que não se amorteça, entre

os discípulos sinceros, a campanha contra o elogio pessoal, veneno das obras

mais santas a sufocar-lhes propósitos e esperanças.

Se admiras algum companheiro que se categoriza a teus olhos por

trabalhador fiel do bem, não o perturbes com palavras, das quais o mundo tem

abusado muitas vezes, construindo frases superficiais, no perigoso festim da

lisonja. Ajuda-o, com boa-vontade e entendimento, na execução do ministério

que lhe compete, sem te esqueceres de que, acima de todas as bemaventuranças,

brilham os divinos dons daqueles que ouvem a Palavra do

Senhor, colocando-a em prática.

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SACUDIR O PÓ

“E se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo

daquela casa ou cidade, sacudi o pó de vossos pés.” — Jesus. (MATEUS,

CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 14.)

Os próprios discípulos materializaram o ensinamento de Jesus, sacudindo

a poeira das sandálias, em se retirando desse ou daquele lugar de rebeldia ou

impenitência. Todavia, se o símbolo que transparece da lição do Mestre

estivesse destinado apenas a gesto mecânico, não teríamos nele senão um

conjunto de palavras vazias.

O ensinamento, porém, é mais profundo. Recomenda a extinção do

fermento doentio.

Sacudir o pó dos pés é não conservar qualquer mágoa ou qualquer detrito

nas bases da vida, em face da ignorância e da perversidade que se

manifestam no caminho de nossas experiências comuns.

Natural é o desejo de confiar a outrem as se-mentes da verdade e do bem,

entretanto, se somos recebidos pela hostilidade do meio a que nos dirigimos,

não é razoável nos mantenhamos em longas observações e apontamentos,

que, ao invés de conduzir-nos a tarefa a êxito oportuno, estabelecem sombras

e dificuldades em torno de nós.

Se alguém te não recebeu a boa-vontade, nem te percebeu a boa intenção,

por que a perda de tempo em sentenças acusatórias? Tal atitude não soluciona

os problemas espirituais. Ignoras, acaso, que o negador e o indiferente serão

igualmente chamados pela morte do corpo à nossa pátria de origem?

Encomenda-os a Jesus com amor e prossegue, em linha reta, buscando os

teus sagrados objetivos. Há muito por fazer na edificação espiritual do mundo e

de ti mesmo. Sacode, pois, as más impressões e marcha alegremente.

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72

CONTEMPLA MAIS LONGE

“Porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão.”

— Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 38.)

Para o esquimó, o céu é um continente de gelo, sustentado a focas.

Para o selvagem da floresta, não há outro paraíso, além da caça

abundante.

Para o homem de religião sectária, a glória de além-túmulo pertence

exclusivamente a ele e aos que se lhe afeiçoam.

Para o sábio, este mundo e os círculos celestiais que o rodeiam são

pequeninos departamentos do Universo.

Transfere a observação para o teu campo de experiência diária e não

olvides que as situações externas serão retratadas em teu plano interior,

segundo o material de reflexão que acolhes na consciência.

Se perseverares na cólera, todas as forças em torno te parecerão iradas.

Se preferes a tristeza, anotarás o desalento, em cada trecho do caminho.

Se duvidas de ti próprio, ninguém confia em teu esforço.

Se te habituaste às perturbações e aos atritos, dificilmente saberás viver

em paz contigo mesmo.

Respirarás na zona superior ou inferior, torturada ou tranqüila, em que

colocas a própria mente. E, dentro da organização na qual te comprazes,

viverás com os gênios que invocas. Se te deténs no repouso, poderás adquirilo

em todos os tons e matizes, e, se te fixares no trabalho, encontrarás mil

recursos diferentes de servir.

Em torno de teus passos, a paisagem que te abriga será sempre em tua

apreciação aquilo que pensas dela, porque com a mesma medida que aplicares

à Natureza, obra viva de Deus, a Natureza igualmente te medirá.

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73

APRENDAMOS QUANTO ANTES

“Como, pois, recebestes o Senhor Jesus-Cristo, assim também andai

nele.” — Paulo. (COLOSSENSES, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 6.)

Entre os que se referem a Jesus-Cristo podemos identificar duas grandes

correntes diversas entre si: a dos que o conhecem por informações e a dos que

lhe receberam os benefícios. Os primeiros recolheram notícias do Mestre nos

livros ou nas alheias exortações, entretanto caminham para a situação dos segundos,

que já lhe receberam as bênçãos. A estes últimos, com mais

propriedade, dever-se-á falar do Evangelho.

Como encontramos o Senhor, na passagem pelo mundo? As vezes, sua

divina presença se manifesta numa solução difícil de problema humano, no

restabelecimento da saúde do corpo, no retorno de um ente amado, na

espontânea renovação da estrada comum para que nova luz se faça no

raciocínio.

Há muita gente informada com respeito a Jesus e inúmeras pessoas que já

lhe absorveram a salvadora caridade.

É indispensável, contudo, que os beneficiários do Cristo, tanto quanto

experimentam alegria na dádiva, sintam igual prazer no trabalho e no testemunho

de fé.

Não bastará fartarmo-nos de bênçãos. É necessário colaborarmos, por

nossa vez, no serviço do Evangelho, atendendo-lhe o programa santificador.

Muitas recapitulações fastidiosas e muita atividade inútil podem ser

peculiares aos espíritos meramente informados; todavia, nós, que já

recebemos infinitamente da Misericórdia do Senhor, aprendamos, quanto

antes, a adaptação pessoal aos seus sublimes desígnios.

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74

MÁS PALESTRAS

“Não vos enganeis; as más conversações corrompem os bons

costumes.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 15,

VERSÍCULO 33.)

A conversação menos digna deixa sempre o traço da inferioridade por

onde passou. A atmosfera de desconfiança substitui, imediatamente, o clima da

serenidade, O veneno de investigações doentias espalha-se com rapidez.

Depois da conversação indigna, há sempre menos sinceridade e menor

expressão de força fraterna. Em seu berço ignominioso, nascem os fantasmas

da calúnia que escorregam por entre criaturas santamente intencionadas,

tentando a destruição de lares honestos; surgem as preocupações inferiores

que espiam de longe, enegrecendo atitudes respeitáveis; emerge a curiosidade

criminosa, que comparece onde não é chamada, emitindo opiniões desabridas,

induzindo os que a ouvem à mentira e àdemência.

A má conversação corrompe os pensamentos mais dignos. As palestras

proveitosas sofrem-lhe, em todos os lugares, a perseguição implacável, e imprescindível

se torna manter-se o homem em guarda contra o seu assédio

insistente e destruidor.

Quando o coração se entregou a Jesus, é muito fácil controlar os assuntos

e eliminar as palavras aviltantes.

Examina sempre as sugestões verbais que te cercam no caminho diário.

Trouxeram-te denúncias, más notícias, futilidades, relatórios malsãos da vida

alheia? Observa como ages. Em todas as ocasiões, há recurso para retificares

amorosamente, porqüanto podes renovar todo esse material, em Jesus-Cristo.

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75

MURMURAÇÕES

“Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas.” — Paulo.

(FILIPENSES, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 14.)

Nunca se viu contenda que não fosse precedida de murmurações

inferiores. É hábito antigo da leviandade procurar a ingratidão, a miséria moral,

o orgulho, a vaidade e todos os flagelos que arruinam almas neste mundo para

organizar as palestras da sombra, onde o bem, o amor e a verdade são

focalizados com malícia.

Quando alguém comece a encontrar motivos fáceis para muitas queixas, é

justo proceder a rigoroso auto-exame, de modo a verificar se não está padecendo

da terrível enfermidade das murmurações.

Os que cumprem seus deveres, na pauta das atividades justas, certamente

não poderão cultivar ensejo a reclamações.

É indispensável conservar-se o discípulo em guarda contra esses

acumuladores de energias destrutivas, porque, de maneira geral, sua influência

perniciosa invade quase todos os lugares de luta do Planeta.

É fácil identificá-los. Para eles, tudo está errado, nada serve, não se deve

esperar algo de melhor em coisa alguma. Seu verbo é irritação permanente,

suas observações são injustas e desanimam.

Lutemos, quanto estiver em nossas forças, contra essas humilhantes

atitudes mentais.

Confiados em Deus, dilatemos todas as nossas esperanças, certos de que,

conforme asseveram os velhos Provérbios, o coração otimista é medicamento

de paz e de alegria.

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76

AS TESTEMUNHAS

“Portanto, nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande

nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço.” — Paulo.

(HEBREUS, CAPÍTULO 12, VERSÍCULO 1.)

Este conceito de Paulo de Tarso merece considerações especiais, por

parte dos aprendizes do

Evangelho.

Cada existência humana é sempre valioso dia de luta — generoso degrau

para a ascensão infinita — e, em qualquer posição que permaneça, a criatura

estará cercada por enorme legião de testemunhas. Não nos reportamos tãosomente

àquelas que constituem parte integrante do quadro doméstico, mas,

acima de tudo, aos amigos e benfeitores de cada homem, que o observam nos

diferentes ângulos da vida, dos altiplanos da espiritualidade superior.

Em toda parte da Terra, o discípulo respira rodeado de grande nuvem de

testemunhas espirituais, que lhe relacionam os passos e anotam as atitudes,

porque ninguém alcança a experiência terrestre, a esmo, sem razões sólidas

com bases no amor ou na justiça.

Antes da reencarnação, Espíritos generosos endossaram as súplicas da

alma arrependida, juizes funcionaram nos processos que lhe dizem respeito,

amigos interferiram nos serviços de auxílio, contribuindo na organização de

particularidades da luta redentora... Esses irmãos e educadores passam a ser

testemunhas permanentes do tutelado, enquanto perdura a nova tarefa e lhe

falam sem palavras, nos refolhos da consciência. Filhos e pais, esposos e

esposas, irmãos e parentes consangüíneos do mundo são protagonistas do

drama evolutivo. Os observadores, em geral, permanecem no outro lado da

vida.

Faze, pois, o bem possível aos teus associados de luta, no dia de hoje, e

não te esqueças dos que te acompanham, em espírito, cheios de preocupação

e amor.

80

77

RESPONDER

“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que

saibais como responder a cada um.” — Paulo. (COLOSENSES, CAPÍTULO

4, VERSÍCULO 6.)

O ato de responder proveitosamente a inteligências heterogêneas exige

qualidades superiores que o homem deve esforçar-se por adquirir.

Nem todos os argumentos podem ser endereçados, indistintamente, à

coletividade dos companheiros que lutam entre si, nas tarefas evolutivas e

redentoras. Necessário redargü ir, com acerto, a cada um. Ao que lida no

campo, não devemos retrucar mencionando espetáculos da cidade; ao que

comenta dificuldades ásperas do caminho individualista, não se replicará com

informações científicas de alta envergadura.

Primeiramente, é imprescindível não desagradar a quem ouve, temperando

a atitude verbal com a legítima compreensão dos problemas da vida,

constituindo-nos um dever contribuir para que os desviados da simplicidade e

da utilidade se reajustem.

Toda resposta em assunto importante é remédio. É indispensável saber

dosá-lo, com vista aos efeitos. Cada criatura tolerará, com benefício,

determinada dinamização. As próprias soluções da verdade e do amor não

devem ser administradas sem esse critério. Aplicada em porções inadequadas,

a verdade poderá destruir, tanto quanto o amor costuma perder...

Ainda que sejas interpelado pelo maior malfeitor do mundo, deves guardar

uma atitude agradável e digna para informar ou esclarecer. Saber responder é

virtude do quadro da sabedoria celestial. Em favor de ti mesmo, não olvides o

melhor modo de atender a cada um.

81

78

SEGUNDO A CARNE

“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis.” — Paulo.

(ROMANOS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 13.)

Para quem vive segundo a carne, isto é, de conformidade com os impulsos

inferiores, a estação de luta terrestre não é mais que uma série de acontecimentos

vazios.

Em todos os momentos, a limitação ser-lhe-áfantasma incessante.

Cérebro esmagado pelas noções negativas, encontrar-se-á com a morte, a

cada passo.

Para a consciência que teve a infelicidade de esposar concepções tão

escuras não passará a existência humana de comédia infeliz.

No sofrimento, identifica uma casa adequada ao desespero.

No trabalho destinado à purificação espiritual, sente o clima da revolta.

Não pode contar com a bênção do amor, porqüanto, em face da

apreciação que lhe é própria, os laços afetivos são meros acidentes no

mecanismo dos desejos eventuais.

A dor, benfeitora e conservadora do mundo, é-lhe intolerável, a disciplina

constituí-lhe angustioso cárcere e o serviço aos semelhantes representa

pesada humilhação.

Nunca perdoa, não sabe renunciar, dói-lhe ceder em favor de alguém e,

quando ajuda, exige do beneficiado a subserviência do escravo.

Desditoso o homem que vive, respira e age, segundo a carne! Os conflitos

da posse atormentam-lhe o coração, por tempo indeterminado, com o mesmo

calor da vida selvagem.

Ai dele, todavia, porque a hora renovadora soará sempre! E, se fugiu à

atmosfera da imortalidade, se asfixiou as melhores aspirações da própria alma,

se escapou ao exercício salutar do sofrimento, se fez questão de aumentar

apetites e prazeres pela absoluta integração com o “lado inferior da vida”, que

poderá esperar do fim do corpo, senão sepulcro, sombra e impossibilidade,

dentro da noite cruel?

82

79

O “MAS” E OS DISCÍPULOS

“Tudo posso naquele que me fortalece.” — Paulo. (FILIPENSES,

CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 13.)

O discípulo aplicado assevera:

— De mim mesmo, nada possuo de bom, mas Jesus me suprirá de

recursos, segundo as minhas necessidades.

— Não disponho de perfeito conhecimento do caminho, mas Jesus me

conduzirá.

O aprendiz preguiçoso declara:

— Não descreio da bondade de Jesus, mas não tenho forças para o

trabalho cristão.

— Sei que o caminho permanece em Jesus, mas o mundo não me permite

segui-lo.

O primeiro galga a montanha da decisão. Identifica as próprias fraquezas,

entretanto, confia no Divino Amigo e delibera viver-lhe as lições.

O segundo estima o descanso no vale fundo da experiência inferior.

Reconhece as graças que o Mestre lhe conferiu, todavia, prefere furtar-se a

elas.

O primeiro fixou a mente na luz divina e segue adiante. O segundo parou o

pensamento nas próprias limitações.

O “mas” é a conjunção que, nos processos verbalistas, habitualmente nos

define a posição íntima perante o Evangelho. Colocada à frente do Santo

Nome, exprime-nos a firmeza e a confiança, a fé e o valor, contudo, localizada

depois dele, situa-nos a indecisão e a ociosidade, a impermeabilidade e a

indiferença.

Três letras apenas denunciam-nos o rumo.

— Assim recomendam meus princípios, mas Jesus pede outra coisa.

— Assim aconselha Jesus, mas não posso fazê-lo.

Através de uma palavra pequena e simples, fazemos a profissão de fé ou a

confissão de ineficiência.

Lembremo-nos de que Paulo de Tarso, não obstante apedrejado e

perseguido, conseguiu afirmar, vitorioso, aos filipenses: — “Tudo posso

naquele que me fortalece.”

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O “NÃO” E A LUTA

“Mas seja o vosso falar: sim, sim; não, não.” — Jesus. (MATEUS,

CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 37.)

Ama, de acordo com as lições do Evangelho, mas não permitas que o teu

amor se converta em grilhão, impedindo-te a marcha para a vida superior.

Ajuda a quantos necessitam de tua cooperação, entretanto, não deixes que

o teu amparo possa criar perturbações e vícios para o caminho alheio.

Atende com alegria ao que te pede um favor, contudo não cedas ã

leviandade e à insensatez.

Abre portas de acesso ao bem-estar aos que te cercam, mas não olvides a

educação dos companheiros para a felicidade real.

Cultiva a delicadeza e a cordialidade, no entanto, sê leal e sincero em tuas

atitudes.

O “sim” pode ser muito agradável em todas as situações, todavia, o “não”,

em determinados setores da luta humana, é mais construtivo.

Satisfazer a todas as requisições do caminho é perder tempo e, por vezes,

a própria vida.

Tanto quanto o “sim” deve ser pronunciado sem incenso bajulatório, o

“não” deve ser dito sem aspereza.

Muita vez, é preciso contrariar para que o auxílio legítimo se não perca;

urge reconhecer, porém, que a negativa salutar jamais perturba. O que dilacera

é o tom contundente no qual é vazada.

As maneiras, na maior parte das ocasiões, dizem mais que as palavras.

“Seja o vosso falar: sim, sim; não, não”, recomenda o Evangelho. Para

concordar ou recusar, todavia, ninguém precisa ser de mel ou de fel. Bastará

lembrarmos que Jesus é o Mestre e o Senhor não só pelo que faz, mas

também pelo que deixa de fazer.

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NO PARAÍSO

“E respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo

no Paraíso.” — (LUCAS, CAPÍTULO 23, VERSÍCULO 43.)

Á primeira vista, parece que Jesus se inclinou para o chamado bom ladrão,

através da simpatia particular.

Mas, não é assim.

O Mestre, nessa lição do Calvário, renovou a definição de paraíso.

Noutra passagem, Ele mesmo asseverou que o Reino Divino não surge

com aparências exteriores. Inicia-se, desenvolve-se e consolida-se, em

resplendores eternos, no imo do coração.

Naquela hora de sacrifício culminante, o bom ladrão rendeu-se

incondicionalmente a Jesus-Cristo. O leitor do Evangelho não se informa, com

respeito aos porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe

pesariam nos ombros, de modo a cimentar a união com o Salvador, todavia,

convence-se de que daquele momento em diante o ex-malfeitor penetrará o

céu.

O símbolo é formoso e profundo e dá idéia da infinita extensão da Divina

Misericórdia.

Podemos apresentar-nos com volumosa bagagem de débitos do passado

escuro, ante a verdade; mas desde o instante em que nos rendemos aos

desígnios do Senhor, aceitando sinceramente o dever da própria regeneração,

avançamos para região espiritual diferente, onde todo jugo é suave e todo

fardo é leve. Chegado a essa altura, o espírito endividado não permanecerá em

falsa atitude beatífica, reconhecendo, acima de tudo, que, com Jesus, o

sofrimento é retificação e as cruzes são claridades imortais.

Eis o motivo pelo qual o bom ladrão, naquela mesma hora, ingressou nas

excelsitudes do paraíso.

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EM ESPÍRITO

“Mas, se pelo espírito mortificardes as obras da carne, vivereis.” —

Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 13.)

Quem vive, segundo as leis sublimes do espírito, respira em esfera

diferente do próprio campo material em que ainda pousa os pés.

Avançada compreensão assinala-lhe a posição íntima.

Vale-se do dia qual aprendiz aplicado que estima na permanência sobre a

Terra valioso tempo de aprendizado que não deve menosprezar.

Encontra, no trabalho, a dádiva abençoada de elevação e aprimoramento.

Na ignorância alheia, descobre preciosas possibilidades de serviço.

Nas dificuldades e aflições da estrada, recolhe recursos à própria

iluminação e engrandecimento.

Vê passar obstáculos, como vê correr nuvens. Ama a responsabilidade,

mas não se prende à

posse.

Dirige com devotamento, contudo, foge ao domínio.

Ampara sem inclinações doentias.

Serve sem escravizar-se.

Permanece atento para com as obrigações da sementeira, todavia, não se

inquieta pela colheita, porque sabe que o campo e a planta, o sol e a chuva, a

água e o vento pertencem ao Eterno Doador.

Usufrutuário dos bens divinos, onde quer que se encontre, carrega consigo

mesmo, na consciência e no coração, os próprios tesouros.

Bem-aventurado o homem que segue vida a fora em espírito! Para ele, a

morte aflitiva não é mais que alvorada de novo dia, sublime transformação e

alegre despertar!

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CONFORME O AMOR

“Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas

conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem

o Cristo morreu.” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 14, VERSÍCULO 15.)

Preconceitos dogmáticos fazem vítimas, em todos os tempos, e os

herdeiros do Cristianismo não faltaram nesse concerto de incompreensão.

Ainda hoje os processos sectários, embora menos rigorosos nas

manifestações, continuam ferindo corações e menosprezando sentimentos.

Noutra época, os discípulos procedentes do Judaísmo provocavam

violentos atritos, em face das tradições referentes à comida impura; agora, não

temos o problema das carnes sacrificadas no Templo; entretanto, novos

formalismos religiosos substituíram os velhos motivos de polêmica e

discordância.

Há sacerdotes que só se sentem missionários em celebrando os ofícios

que lhes competem e crentes que não entendem a meditação e o serviço

espiritualizante senão em horas domingueiras, com a prece em exclusiva

atitude corporal.

O discípulo que já conseguiu sobrepor-se a semelhantes barreiras deve

cooperar em silêncio para estender os benefícios de sua vitória.

Constituiria absurdo transpor o obstáculo e continuar, deliberadamente,

nas demonstrações puramente convencionalistas, mas seria também ausência

de caridade atirar impropérios aos pobres irmãos que ainda se encontram em

angustiosos conflitos mentais por encontrarem a si mesmo, dentro da idéia augusta

de Deus.

Quando reparares algum amigo, prisioneiro dessas ilusões, recorda que o

Mestre foi igualmente à cruz por causa dele. Situa a bondade à frente da

análise e a tua observação será construtiva e santificante. Toda vez que houver

compreensão no cântaro de tua alma, encontrarás infinitos recursos para auxiliar,

amar e servir.

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84

LEVANTANDO MÃOS SANTAS

“Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos

santas, sem ira nem contenda.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, 2,

VERSÍCULO 8.)

Neste trecho da primeira epístola de Paulo a Timõteo, recebemos preciosa

recomendação de serviço.

Alguns aprendizes desejarão lobrigar no texto apenas uma exortação às

atitudes de louvor; no entanto, o convertido de Damasco esclarece que devemos

levantar mãos santas em todo lugar, sem ira nem contenda.

Não se referia Paulo ao ato de mãos-postas que a criatura prefere sempre

levar a efeito, em determinados círculos religiosos, onde, pelo artificialismo

respeitável da situação, não se justificam irritações ou disputas visíveis, O

apóstolo menciona a ação honesta e edificante do homem que colabora com a

Providência Divina e reporta-se ao trabalho de cada dia, que se verifica nas

mais recônditas regiões do Globo.

Lendo-lhe o conselho, é razoável recordar que o homem, no esforço

individualista, invariavelmente ergue as mãos, na tarefa diuturna. Se

administra, permanece indicando caminhos; se participa de labores

intelectuais, empunha a pena; se opera no campo, guiará o instrumento

agrícola. Paulo acrescenta, porém, que essas mãos devem ser santificadas,

depreendendo-se daí que muita gente move os braços na obra terrestre,

salientando-se, todavia, a conveniência de se ajuizar da finalidade e do

conteúdo da ação despendida.

Se desejas aplicar o raciocínio a ti próprio, repara, antes de tudo, se a tua

realização vai prosseguindo sem cólera destrutiva e sem demandas inúteis.

88

85

E O ADÚLTERO?

“E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada,

no próprio ato, adulterando.” (JOÃO, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 4.)

O caso da pecadora apresentada pela multidão a Jesus envolve

considerações muito significativas, referentemente ao impulso do homem para

ver o mal nos semelhantes, sem enxergá-lo em si mesmo.

Entre as reflexões que a narrativa sugere, identificamos a do errôneo

conceito de adultério unilateral.

Se a infeliz fora encontrada em pleno delito, onde se recolhera o adúltero

que não foi trazido a julgamento pelo cuidado popular? Seria ela a única responsável?

Se existia uma chaga no organismo coletivo, requisitando

intervenção a fim de ser extirpada, em que furna se ocultava aquele que

ajudava a fazê-la?

A atitude do Mestre, naquela hora, caracterizou-se por infinita sabedoria e

inexcedível amor. Jesus não podia centralizar o peso da culpa na mulher

desventurada e, deixando perceber o erro geral, indagou dos que se achavam

sem pecado.

O grande e espontâneo silêncio, que então se fez, constituiu resposta mais

eloqüente que qualquer declaração verbal.

Ao lado da mulher adúltera permaneciam também os homens pervertidos,

que se retiraram envergonhados.

O homem e a mulher surgem no mundo com tarefas específicas que se

integram, contudo, num trabalho essencialmente uno, dentro do plano da evolução

universal. No capítulo das experiências inferiores, um não cai sem o

outro, porque a ambos foi concedido igual ensejo de santificar.

Se as mulheres desviadas da elevada missão que lhes cabe prosseguem

sob triste destaque no caminho social, é que os adúlteros continuam ausentes

da hora de juízo, tanto quanto no momento da célebre sugestão de Jesus.

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INTENTAR E AGIR

“E fazei veredas direitas para os vossoS pés, para que o que

manqueja se não desvie inteiramente, mas antes seja sarado.” — Paulo.

(HEBREUS, CAPÍTULO 12, VERSÍCULO 13.)

O homem bem-intencionado refletirá intensamente em melhores caminhos,

alimentando ideais superiores e inclinando-se à bondade e à justiça.

Convenhamos, porém, que a boa intenção passará sem maior benefício,

caso não se ligue à esfera das realidades imediatas na ação reta.

É necessário meditar no bem; todavia, é imprescindível executá-lo.

A Providência Divina cerca a estrada das criaturas com o material de

edificação eterna, possibilitando-lhes a construção das “veredas direitas” a que

Paulo de Tarso se reporta.

Semelhante realização por parte do discípulo é indispensável, porqüanto,

em torno de seus caminhos, seguem os que manquejam. Os prisioneiros da

ignorância e da má-fé arrastam-se, como podem, nas margens do serviço de

ordem superior, e, de quando em quando, se aproximam dos servidores fiéis

do Cristo, propondo-lhes medidas e negócios que se lhes ajustem à

mentalidade inferior. Somente aqueles que constroem estradas retas escapamlhes

aos assaltos sutis, defendendo-se e oferecendo-lhes também novas bases

a fim de que se não desviem inteiramente dos Divinos Desígnios.

Aplica sempre as tuas boas intenções, no plano das realidades práticas,

para que as tuas boas obras se iluminem de amor e para que o teu amor não

se faça órfão de boas obras. Faze isso por ti, que necessitas de elevação, e

por aqueles que ainda te procuram manquejando.

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PONDERA SEMPRE

“E o que de mim, diante de muitas testemunhas, ouviste, confia-o a

homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem a outros.” —

Paulo. (2ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 2.)

Os discípulos do Evangelho, no Espiritismo cristão, muitas vezes

evidenciam insofreável entusiasmo, ansiosos de estender a fé renovada,

contagiosa e ardente. No entanto, semelhante movimentação mental exige

grande cuidado, não só porque assombro e admiração não significam elevação

interior, como também porque é indispensável conhecer a qualidade do terreno

espiritual a que se vai transmitir o poder do conhecimento.

Claro que não nos reportamos aqui ao ato de semeadura geral da verdade

reveladora, nem à manifestação da bondade fraterna, que traduzem nossas

obrigações naturais na ação do bem.

Encarecemos, sim, a necessidade de cada irmão governar o patrimônio de

dádivas espirituais recebidas do plano superior, a fim de não relegar valores

celestes ao menosprezo da maldade e da ignorância.

Distribuamos a luz do amor com os nossos companheiros de jornada;

todavia, defendamos o nosso íntimo santuário contra as arremetidas das

trevas.

Lembremo-nos de que o próprio Mestre reservava lições diferentes para as

massas populares e para a pequena comunidade dos aprendizes; não se fez

acompanhar por todos os discípulos na transfiguração do Tabor; na última ceia,

aguarda a ausência de Judas para comentar as angústias que sobreviriam.

É necessário atentarmos para essas atitudes do Cristo, compreendendo

que nem tudo está destinado a todos. Os espíritos enobrecidos que se

comunicam na esfera carnal adotam sempre o critério seletivo, buscando

criaturas idôneas e fiéis, habilitadas a ensinar aos outros. Se eles, que já

podem identificar os problemas com a visão iluminada, agem com prudência,

nesse sentido, como não deverá vigiar o discípulo que apenas dispõe dos

olhos corporais? Trabalhemos em benefício de todos, estendamos os laços

fraternais, compreendendo, porém, que cada criatura tem o seu degrau na

infinita escala da vida.

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88

CORREÇÕES

“Se suportais a correção, Deus vos trata como a filhos; pois que filho

há a quem o pai não corrija?” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 12,

VERSÍCULO 7.)

Bem-aventurado o espírito que compreende a correção do Senhor e aceitaa

sem relutar.

Raras, todavia, são as criaturas que conseguem entendê-la e suportá-la.

Por vezes, a repreensão generosa do Alto — símbolo de desvelado amor

— atinge o campo do homem, traduzindo advertência sagrada e silenciosa,

mas, na maioria das ocasiões, a mente encarnada repele o aguilhão salvador,

mergulha dentro da noite da rebeldia, elimina possibilidades preciosas e

qualifica de infortúnio insuportável a influência renovadora, destinada a clarearlhe

o escuro e triste caminho.

Muita gente, em face do fenômeno regenerativo, apela para a fuga

espetacular da situação difícil e entrega-se, inerme, ao suicídio lento,

abandonando-se à indiferença integral pelo próprio destino.

Quem assim procede não pode ser tratado por filho, porqüanto isolou a si

mesmo, afastou-se da Providência Divina e ergueu compactas paredes de

sombra entre o próprio coração e as Bênçãos Paternas.

Aqueles que compreendem as correções do Todo-Misericordioso,

reajustam-se em círculo de vida nova e promissora.

Vencida a tempestade Intima, revalorizam as oportunidades de aprender,

servir e construir, e, fundamentados nas amargas experiências de ontem,

aplicam as graças da vida superior, com vistas ao amanhã.

Não te esqueças de que o mal não pode oferecer retificações a ninguém.

Quando a correção do Senhor alcançar-te o caminho, aceita-a, humildemente,

convicto de que constitui verdadeira mensagem do Céu.

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BEM-AVENTURANÇAS

“Bem-aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem, e

quando vos separarem, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como

mau, por causa do Filho do homem.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 6,

VERSÍCULO 22.)

O problema das bem-aventuranças exige sérias reflexões, antes de

interpretado por questão líquida, nos bastidores do conhecimento.

Confere Jesus a credencial de bem-aventurados aos seguidores que lhe

partilham as aflições e trabalhos; todavia, cabe-nos salientar que o Mestre

categoriza sacrifícios e sofrimentos à conta de bênçãos educativas e

redentoras.

Surge, então, o imperativo de saber aceitá-los.

Esse ou aquele homem serão bem-aventurados por haverem edificado o

bem, na pobreza material, por encontrarem alegria na simplicidade e na paz,

por saberem guardar no coração longa e divina esperança.

Mas... e a adesão sincera às sagradas obrigações do título?

O Mestre, na supervisão que lhe assinala os ensinamentos, reporta-se às

bem-aventuranças eternas; entretanto, são raros os que se aproximam delas,

com a perfeita compreensão de quem se avizinha de tesouro imenso. A maioria

dos menos favorecidos no plano terrestre, se visitados pela dor, preferem a

lamentação e o desespero; se convidados ao testemunho de renúncia,

resvalam para a exigência descabida e, quase sempre, ao invés de

trabalharem pacificamente, lançam-se às aventuras indignas de quantos se

perdem na desmesurada ambição.

Ofereceu Jesus muitas bem-aventuranças. Raros, porém, desejam-nas. É

por isto que existem muitos pobres e muitos aflitos que podem ser grandes necessitados

no mundo, mas que ainda não são benditos no Céu.

93

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O TRABALHADOR DIVINO

“Ele tem a pá na sua mão; limpará a sua eira e ajuntará o trigo no seu

celeiro, mas queimará a palha com o fogo que nunca se apaga.” — João

Batista. (LUCAS, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 17.)

Apóstolos e seguidores do Cristo, desde as organizações primitivas do

movimento evangélico, designaram-no através de nomes diversos.

Jesus foi chamado o Mestre, o Pastor, o Messias, o Salvador, o Príncipe da

Paz; todos esses títulos são justos e veneráveis; entretanto, não podemos esquecer,

ao lado dessas evocações sublimes, aquela inesperada apresentação

do Batista. O Precursor designa-o por trabalhador atento que tem a pá nas

mãos, que limpará o chão duro e inculto, que recolherá o trigo na ocasião

adequada e que purificará os detritos com a chama da justiça e do amor que

nunca se apaga.

Interessante notar que João não apresenta o Senhor empunhando leis,

cheio de ordenações e pergaminhos, nem se refere a Ele, de acordo com as

velhas tradições judaicas, que aguardavam o Divino Mensageiro num carro de

glórias magnificentes. Refere-se ao trabalhador abnegado e otimista. A pá

rústica não descansa ao seu lado, mas permanece vigilante em suas mãos e

em seu espírito reina a esperança de limpar a terra que lhe foi confiada às

salvadoras diretrizes.

Todos vós que viveis empenhados nos serviços terrestres, por uma era

melhor, mantende aceso no coração o devotamento à causa do Evangelho do

Cristo. Não nos cerceiem dificuldades ou ingratidões. Desdobremos nossas

atividades sob o precioso estímulo da fé, porque conosco vai à frente,

abençoando-nos a humilde cooperação, aquele trabalhador divino que limpará

a eira do mundo.

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ISSO É CONTIGO

“E disse: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, responderam.

Que nos importa? Isso é contigo.” — (MATEUS, CAPÍTULO 27,

VERSÍCULO 4.)

A palavra da maldade humana é sempre cruel para quantos lhe ouvem as

criminosas insinuações.

O caso de Judas demonstra a irresponsabilidade e a perversidade de

quantos cooperam na execução dos grandes delitos.

O espírito imprevidente, se considera os alvitres malévolos, em breve

tempo se capacita da solidão em que se encontra nos círculos das

conseqüências desastrosas.

Quem age corretamente encontrará, nos felizes resultados de suas

iniciativas, aluviões de companheiros que lhe desejam partilhar as vitórias;

entretanto, muito raramente sentirá a presença de alguém que lhe comungue

as aflições nos dias da derrota temporária.

Semelhante realidade induz a criatura à precaução mais insistente.

A experiência amarga de Judas repete-se com a maioria dos homens,

todos os dias, embora em outros setores.

Há quem ouça delituosas insinuações da malícia ou da indisciplina, no que

concerne à tranqüilidade interior, às questões de família e ao trabalho comum.

Por vezes, o homem respira em paz, desenvolvendo as tarefas que lhe são

necessárias; todavia, é alcançado pelo conselho da inveja ou da desesperação

e perturba-se com falsas perspectivas, penetrando, inadvertidamente, em

labirintos escuros e ingratos. Quando reconhece o equívoco do cérebro ou do

coração, volta-se, ansioso, para os conselheiros da véspera, mas o mundo

inferior, refazendo a observação a Judas, exclama em zombaria: — “Que nos

importa? Isso é contigo.”

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92

DEUS NÃO DESAMPARA

“E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição e não

se arrependeu.” — (APOCALIPSE. CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 21.)

Se o Apocalipse está repleto de simbolos profundos, isso não impede

venhamos a examinar-lhe as expressões, compatíveis com o nosso

entendimento, extraindo as lições suscetíveis de ampliar-nos o progresso

espiritual.

O versículo mencionado proporciona uma idéia da longanimidade do

Altíssimo, na consideração das falhas e defecções dos filhos transgressores.

Muita gente insiste pela rigidez e irrevogabilidade das determinações de

origem divina, entretanto, compete-nos reconhecer que os corações inclinados

a semelhante interpretação, ainda não conseguem analisar a essência sublime

do amor que apaga dívidas escuras e faz nascer novo dia nos horizontes da

alma.

Se entre juIzes terrestres existem providências fraternas, qual seja a da

liberdade sob condição, seria o tribunal celeste constituído por inteligências

mais duras e inflexíveis?

A Casa do Pai é muito mais generosa que qualquer figuração de

magnanimidade apresentada, até agora, no mundo, pelo pensamento religioso.

Em seus celeiros abundantes, há empréstimos e moratórias, concessões de

tempo e recursos que a mais vigorosa imaginação humana jamais calculará.

O Altíssimo fornece dádivas a todos, e, na atualidade, é aconselhável

medite o homem terreno nos recursos que lhe foram concedidos pelo Céu,

para arrependimento, buscando renovar-se nos rumos do bem.

Os prisioneiros da concepção de justiça implacável ignoram os poderosos

auxílios do Todo-Poderoso, que se manifestam através de mil modos

diferentes; contudo, os que procuram a própria iluminação pelo amor universal

sabem que Deus dá sempre e que é necessário aprender a receber.

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93

O EVANGELHO E A MULHER

“Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a

seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.”

Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 28.)

Muita vez, o apóstolo dos gentios tem sido acusado de excessiva

severidade para com o elemento feminino. Em alguns trechos das cartas que

dirigiu às igrejas, Paulo propôs medidas austeras que, de certo modo,

chocaram inúmeros aprendizes. Poucos discípulos repararam, na energia das

palavras dele, a mobilização dos recursos do Cristo, para que se fortalecesse a

defesa da mulher e dos patrimônios de elevação que lhe dizem respeito.

Com Jesus, começou o legítimo feminismo. Não aquele que enche as

mãos de suas expositoras com estandartes coloridos das ideologias políticas

do mundo, mas que lhes traça nos corações diretrizes superiores e

santificantes.

Nos ambientes mais rigoristas em matéria de fé religiosa, quais o do

Judaísmo, antes do Mestre, a mulher não passava de mercadoria condenada

ao cativeiro. Vultos eminentes, quais Davi e Salomão, não conseguiram fugir

aos abusos de sua época, nesse particular.

O Evangelho, porém, inaugura nova era para as esperanças femininas.

Nele vemos a consagração da Mãe Santíssima, a sublime conversão de

Madalena, a dedicação das irmãs de Lázaro, o espírito abnegado das senhoras

de Jerusalém que acompanham o Senhor até o instante extremo. Desde Jesus,

observamos crescente respeito na Terra pela missão feminil. Paulo de Tarso foi

o consolidador desse movimento regenerativo. Apesar da energia áspera que

lhe assinala as palavras, procurava levantar a mulher da condição de aviltada,

confiando-a ao homem, na qualidade de mãe, irmã, esposa ou filha, associada

aos seus destinos e, como criatura de Deus, igual a ele.

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94

SEXO

“Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si

mesma imunda a não ser para aquele que a tem por imunda.” — Paulo.

(ROMANOS, CAPÍTULO 14, VERSÍCULO 14.)

Quando Paulo de Tarso escreveu esta observação aos romanos, referia-se

à alimentação que, na época, representava objeto de áridas discussões entre

gentios e judeus.

Nos dias que passam, o ato de comer já não desperta polêmicas

perigosas, entretanto, podemos tomar o versículo e projetá-lo noutros setores

de falsa opinião.

Vejamos o sexo, por exemplo. Nenhum departamento da atividade

terrestre sofre maiores aleives. Fundamente cego de espírito, o homem, de

maneira geral, ainda não consegue descobrir aí um dos motivos mais sublimes

de sua existência. Realizações das mais belas, na luta planetária, quais sejam

as da aproximação das almas na paternidade e na maternidade, a criação e a

reprodução das formas, a extensão da vida e preciosos estímulos ao trabalho e

à regeneração foram proporcionadas pelo Senhor às criaturas, por intermédio

das emoções sexuais; todavia, os homens menoscabam o “lugar santo”, povoando-

lhe os altares com os fantasmas do desregramento.

O sexo fez o lar e criou o nome de mãe, contudo, o egoísmo humano deulhe

em troca absurdas experimentações de animalidade, organizando para si

mesmo provações cruéis.

O Pai ofereceu o santuário aos filhos, mas a incompreensão se constituiu

em oferta deles. É por isto que romances dolorosos e aflitivos se estendem,

através de todos os continentes da Terra.

Ainda assim, mergulhado em deploráveis desvios, pergunta o homem pela

educação sexual, exigindo-lhe os programas. Sim, semelhantes programas

poderão ser úteis; todavia, apenas quando espalhar-se a santa noção da

divindade do poder criador, porque, enquanto houver imundície no coração de

quem analise ou de quem ensine, os métodos não passarão de coisas

igualmente imundas.

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ESTA É A MENSAGEM

“Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o principio: que nos

amemos uns aos outros.” — (1ª EPÍSTOLA A JOÃO, CAPÍTULO 3,

VERSÍCULO 11.)

Em todo o mundo sentimos a enorme inquietação por novas mensagens

do Céu. Forças dinâmicas do pensamento insistem em receber modernas

expressões de velhas verdades, ensaiando-se criações mentais diferentes.

Notamos, porém, que a arte procura novas experimentações e se povoa de

imagens negativas, que a política inventa ideologias e processos inéditos de

governar e dilata o curso da guerra destruidora, que a ciência busca desferir

vôos mais altos e institui teorias dissolventes da concórdia e do bem-estar.

Grandes facções religiosas efetuam trabalho heróico na demonstração da

eternidade da vida, suplicando sinais espetaculares do reino invisível ao

homem comum.

Convenhamos que haverá sempre benefício nas aspirações elevadas do

espírito humano, quando sinceramente procura as vibrações de natureza

divina; todavia, necessitamos reconhecer que se há inúmeras mensagens

substanciosas, edificantes e iluminadas na Terra, a maior e mais preciosa de

todas, desde o princípio da organização planetária, é aquela da solidariedade

fraternal, no “amemo-nos uns aos outros”.

Esta é a recomendação primordial. Sentindo-a, cada discípulo pode

examinar, nos círculos da luta diária, o índice de compreensão que já possui,

acerca dos Desígnios Divinos.

Mesmo que esse ou aquele irmão ainda não a tenha entendido, inicia a

execução do paternal conselho em ti mesmo.

Ama sempre. Faze todo bem. Começa estimando os que te não

compreendem, convcto de que esses, mais depressa, te farão melhor.

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JUSTAMENTE POR ISSO

“Não vos escrevi porque ignorásseis a verdade, mas porque a conheceis.”

— (1ª EPÍSTOLA A JOÃO, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 21.)

O intercâmbio cada vez mais intensivo entre os chamados “vivos” e

“mortos” constitui grande acontecimento para as organizações evangélicas de

modo geral.

Não é tão-somente realização para a escola espiritista; pertence às

comunidades do Cristianismo inteiro.

Por enquanto, anotamos aqui e ali protestos do dogmatismo organizado,

entretanto, a revivescência da verdade assim o exige.

Toda aquisição tem seu preço e qualquer renovação encontra obstáculos

espontâneos.

Dia virá em que as várias subdivisões do evangelismo compreenderão a

divina finalidade do novo concerto.

O movimento de troca espiritual entre as duas esferas é cada vez mais

dilatado. O devotamento dos desencarnados provoca a atenção dos

encarnados.

O Senhor permitiu mundial Pentecostes para o reajustamento da realidade

eterna.

Convém notar, contudo, que as vozes comovedoras e revigorantes do

Além repetem, comumente, velhas fórmulas da Revelação e relembram o

passado da Sabedoria terrestre, a fim de extrair conceituação mais respeitável

referentemente à vida.

É neste ponto que recordamos as palavras de João, interrogando

sinceramente: comunicar-se-ão os “mortos” com os “vivos”, porque os homens

ignoram a verdade?

Isso não.

Se os que partem falam novamente aos que ficam é que estes conhecem o

caminho da redenção com Jesus, mas não se animam, nem se decidem a trilhá-

lo.

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97

CONSERVA O MODELO

“Conserva o modelo das sãs palavras.” — Paulo. (2ª EPÍSTOLA A

TIMÓTEO, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 13.)

Distribui os recursos que a Providência te encaminhou às mãos operosas,

todavia, não te esqueças de que a palavra confortadora ao aflito representa

serviço direto de teu coração na sementeira do bem.

O pão do corpo é uma esmola pela qual sempre receberás a justa

recompensa, mas o sorriso amigo é uma bênção para a eternidade.

Envia mensageiros ao socorro fraternal, contudo, não deixes, pelo menos

uma vez por outra, de visitar o irmão doente e ouvi-lo em pessoa.

A expedição de auxílio é uma gentileza que te angariará simpatia, no

entanto, a intervenção direta no amparo ao necessitado conferir-te-á

preparação espiritual à frente das próprias lutas.

Sobe à tribuna e ensina o caminho redentor aos semelhantes; todavia,

interrompe as preleções, de vez em quando, a fim de assinalar o lamento de

um companheiro na experiência humana, ainda mesmo quando se trata de um

filho do desespero ou da ignorância, para que não percas o senso das proporções

em tua marcha.

Cultiva as flores do jardim particular de tuas afeições mais queridas,

porque, sem o canteiro de experimentação, é muito difícil atender à lavoura nobre

e intensiva, mas não fujas sistematicamente à floresta humana, com receio

dos vermes e monstros que a povoam, porqüanto é imprescindível te prepares

a avançar, mais tarde, dentro dela.

Nos círculos da vida, não olvides a necessidade do ensinamento gravado

em ti mesmo.

Assim como não podes tomar alimento individual, através de um substituto,

e nem podes aprender a lição, guardando-lhe os caracteres na memória alheia,

não conseguirás comparecer, ante as Forças Supremas da Sabedoria e do

Amor, com realizações e vitórias que não tenham sido vividas e conquistadas

por ti mesmo.

“Conserva”, pois, contigo, “o modelo das sãs palavras”.

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98

EVITA CONTENDER

“Ao servo do Senhor não convém contender.” — Paulo. (2ª EPÍSTOLA

A TIMÓTEO, CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 24.)

Foge aos que buscam demanda no serviço do Senhor.

Não estão eles à procura de claridade divina para o coração. Apenas

disputam louvor e destaque no terreno das considerações passageiras.

Analisando as letras sagradas, não atraem recursos necessários à própria

iluminação e, sim, os meios de se evidenciarem no personalismo inferior.

Combatem os semelhantes que lhes não adotam a cartilha particular, atiram-se

contra os serviços que lhes não guardam o controle direto, não colaboram

senão do vértice para a base, não enxergam vantagens senão nas tarefas de

que eles mesmos se incumbem. Estimam as longas discussões a propósito da

colocação de uma vírgula e perdem dias imensos para descobrir as

contradições aparentes dos escritores consagrados ao ideal de Jesus. Jamais

dispõem de tempo para os serviços da humildade cristã, interessados que se

acham na evidência pessoal. Encontram sempre grande estranheza na

conjugação dos verbos ajudar, perdoar e servir. Fixam-se, invariavelmente, na

zona imperfeita da humanidade e trazem azorragueS nas mãos pelo mau gosto

de vergastar. Contendem acerca de todas as particularidades da edificação

evangélica e, quando surgem perspectivas de acordo construtivo, criam novos

motivos de perturbação.

Os que se incorporam ao Evangelho Salvador, por espírito de contenda,

são dos maiores e dos mais sutis adversários do Reino de Deus.

É indispensável a vigilância do aprendiz, a fim de que se não perca no

desvario das palavras contundentes e inúteis.

Não estamos convocados a querelar e, sim, a servir e a aprender com o

Mestre; nem fomos chamados à entronização do “eu”, mas, sim, a cumprir os

designios superiores na construção do Reino Divino em nós.

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99

COM ARDENTE AMOR

“Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros.” —

Pedro. (1ª EPÍSTOLA A PEDRO, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 8.)

Não basta a virtude apregoada em favor do estabelecimento do Reino

Divino entre as criaturas.

Problema excessivamente debatido — solução mais demorada...

Ouçamos, individualmente, o aviso apostólico e enchamo-nos de ardente

caridade, uns para com os outros.

Bem falar, ensinar com acerto e crer sincera-mente são fases primárias do

serviço.

Imprescindível trabalhar, fazer e sentir com o Cristo.

Fraternidade simplesmente aconselhada a outrem constrói fachadas

brilhantes que a experiência pode consumir num minuto.

Urge alcançarmos a substância, a essência...

Sejamos compreensivos para com os ignorantes, vigilantes para com os

transviados na maldade e nas trevas, pacientes para com os enfermiços,

serenos para com os irritados e, sobretudo, manifestemos a bondade para com

todos aqueles que o Mestre nos confiou para os ensinamentos de cada dia.

Raciocínio pronto, habilitado a agir com desenvoltura na Terra, pode

constituir patrimônio valioso; entretanto, se lhe falta coração para sentir os problemas,

conduzi-los e resolvê-los, no bem comum, é suscetível de converter-se

facilmente em máquina de calcular.

Não nos detenhamos na piedade teórica.

Busquemos o amor fraterno, espontâneo, ardente e puro.

A caridade celeste não somente espalha benefícios. Irradia também a

divina luz.

103

100

RENDAMOS GRAÇAS

“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo

Jesus para convosco.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES,

CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 18.)

A pedra segura.

O espinho previne.

O fel remedeia.

O fogo refunde.

O lixo fertiliza.

O temporal purifica a atmosfera.

O sofrimento redime.

A enfermidade adverte.

O sacrifício enriquece a vida.

A morte renova sempre.

Aprendamos, assim, a louvar o bênçãos que nos confere.

Bom é o calor que modifica, bom é o frio que conserva.

A alegria que estimula é irmã da dor que aperfeiçoa.

Roguemos à Providência Celeste suficiente luz para que nossos olhos

identifiquem o celeiro da graça em que nos encontramos.

É a cegueira Intima que nos faz tropeçar em obstáculos, onde só existe o

favor divino.

E, sobretudo, ao enunciar um desejo nobre, preparemo-nos a recolher as

lições que nos cabe aproveitar, a fim de realizá-lo segundo os propósitos superiores

que nos regem os destinos.

Não nos espantem dificuldades ou imprevistos dolorosos.

Nem sempre o Socorro de Cima surge em forma de manjar celeste.

Comumente, aparece na feição de recurso menos desejável. Lembremonos,

porém, de que o homem sob o perigo de afogamento, nas águas

profundas que cobrem o abismo, por vezes só consegue ser salvo ao preço de

rudes golpes.

Rendamos graças, pois, por todas as experiências do caminho evolutivo,

na santificante procura da Vontade Divina, em Jesus-Cristo, Nosso Senhor.

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RESISTE À TENTAÇÃO

“Bem-aventurado o homem que sofre a tentação.” — (TIAGO,

CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 12.)

Enquanto nosso barco espiritual navega nas águas da inferioridade, não

podemos aguardar isenção de ásperos conflitos interiores. Mormente na esfera

carnal, toda vez que empreendemos a melhoria da alma, utilizando os

trabalhos e obstáculos do mundo, devemos esperar a multiplicação das

dificuldades que se nos deparam, em pleno caminho do conhecimento

iluminativo.

Contra o nosso anseio de claridade, temos milênios de sombra.

Antepondo-se-nos à mais humilde aspiração de crescer no bem, vigoram os

séculos em que nos comprazíamos no mal.

É por isto que, de permeio com as bênçãos do Alto, sobram na senda dos

discípulos as tentações de todos os matizes.

Por vezes, o aprendiz acredita-se preparado a vencer os dragões da

animalidade que lhe rondam as portas; todavia, quando menos espera, eis que

as sugestões degradantes o espreitam de novo, compelindo-o a porfiada

batalha.

Claro, portanto, que nem mesmo a sepultura nos exonera dos atritos com

as trevas, cujas raízes se nos alastram na própria organização espiritual. Só a

morte da imperfeição em nós livrar-nos-á delas.

Haja, pois, tolerância construtiva em derredor da caminhada humana,

porque as insinuações malignas nos cercarão em toda parte, enquanto nos

demoramos na realização parcial do bem.

Somente alcançaremos libertação, quando atingirmos plena luz.

Entendendo a transcendência do assunto, o apóstolo proclama bemaventurado

aquele “que sofre a tentação”. Impossível, por agora, qualquer

referência ao triunfo absoluto, porque vivemos ainda muito distantes da

condição angélica; entretanto, bem-aventurados seremos se bem sofremos

esse gênero de lutas, controlando os impulsos do sentimento menos

aprimorado e aperfeiçoando-o, pouco a pouco, àcusta do esforço próprio, a fim

de que não nos entreguemos inermes às sugestões inferiores que procuram

converter-nos em vivos instrumentos do mal.

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102

NÓS E CÉSAR

“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a César o que é de

César, e a Deus o que é de Deus.” — (MARCOs, CAPÍTULO 12,

VERSÍCULO 17.)

Em todo lugar do mundo, o homem encontrará sempre, de acordo com os

seus próprios merecimentos, a figura de César, simbolizada no governo estatal.

Maus homens, sem dúvida, produzirão maus estadistas.

Coletividades ociosas e indiferentes receberão administrações

desorganizadas.

De qualquer modo, a influência de César cercará a criatura, reclamandolhe

a execução dos compromissos materiais.

É imprescindível dar-lhe o que lhe pertence.

O aprendiz do Evangelho não deve invocar princípios religiosos ou

idealismo individual para eximir-se dessas obrigações.

Se há erros nas leis, lembremos a extensão de nossos débitos para com a

Providência Divina e colaboremos com a governança humana, oferecendo-lhe

o nosso concurso em trabalho e boa-vontade, conscientes de que desatenção

ou revolta não nos resolvem os problemas.

Preferível é que o discípulo se sacrifique e sofra a demorar-se em atraso,

ante as leis respeitáveis que o regem, transitoriamente, no plano físico, seja por

indisciplina diante dos princípios estabelecidos ou por doentio entusiasmo que

o tente a avançar demasiadamente na sua época.

Há decretos iníquos?

Recorda se já cooperaste com aqueles que te governam a paisagem

material.

Vive em harmonia com os teus superiores e não te esqueças de que a

melhor posição é a do equilíbrio.

Se pretendes viver retamente, não dês a César o vinagre da crítica acerba.

Ajuda-o com o teu trabalho eficiente, no sadio desejo de acertar, convicto de

que ele e nós somos filhos do mesmo Deus.

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103

CRUZ E DISCIPLINA

“E constrangeram um certo Simão Cireneu, pai de Alexandre e de

Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz. —

(MARCOS, CAPÍTULO 15, VERSÍCULO 21.)

Muitos estudiosos do Cristianismo combatem as recordações da cruz,

alegando que as reminiscências do Calvário constituem indébita cultura de

sofrimento.

Asseveram negativa a lembrança do Mestre, nas horas da crucificação,

entre malfeitores vulgares.

Somos, porém, daqueles que preferem encarar todos os dias do Cristo por

gloriosas jornadas e todos os seus minutos por divinas parcelas de seu ministério

sagrado, ante as necessidades da alma humana.

Cada hora da presença dele, entre as criaturas, reveste-se de beleza

particular e o instante do madeiro afrontoso está repleto de majestade

simbólica.

Vários discípulos tecem comentários extensos, em derredor da cruz do

Senhor, e costumam examinar com particularidades teóricas os madeiros

imaginários que trazem consigo.

Entretanto, somente haverá tomado a cruz de redenção que lhe compete

aquele que já alcançou o poder de negar a si mesmo, de modo a seguir nos

passos do Divino Mestre.

Muita gente confunde disciplina com iluminação espiritual. Apenas depois

de havermos concordado com o jugo suave de Jesus-Cristo, podemos alçar

aos ombros a cruz que nos dotará de asas espirituais para a vida eterna.

Contra os argumentos, quase sempre ociosos, dos que ainda não

compreenderam a sublimidade da cruz, vejamos o exemplo do Cireneu, nos

momentos culminantes do Salvador. A cruz do Cristo foi a mais bela do mundo,

no entanto, o homem que o ajuda não o faz por vontade própria, e, sim,

atendendo a requisição irresistível. E, ainda hoje, a maioria dos homens aceita

as obrigações inerentes ao próprio dever, porque a isso é constrangida.

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DIREITO SAGRADO

“Porque a vós foi concedido, em relação ao Cristo, não somente crer

nele, como também padecer por ele.” — Paulo. (FILIPENSES, CAPÍTULO

1, VERSÍCULO 29.)

Cooperar pessoalmente com os administradores humanos, em sentido

direto, sempre constitui objeto da ambição dos servidores dessa ou daquela

organização terrestre.

Ato invariável de confiança, a partilha da responsabilidade, entre o

superior que sabe determinar e fazer justiça e o subordinado que sabe servir,

institui a base de harmonia para a ação diária, realização essa que todas as

instituições procuram atingir. Muitos discípulos do Cristianismo parecem ignorar

que, em relação a Jesus, a reciprocidade é a mesma, elevada ao grau máximo,

no terreno da fidelidade e da compreensão.

Mais entendimento do programa divino significa maior expressão de

testemunho individual nos serviços do Mestre.

Competência dilatada — deveres crescidos.

Mais luz — mais visão.

Muitos homens, naturalmente aproveitáveis em certas características

intelectuais, mas ainda enfermos da mente, desejariam aceitar o Salvador e

crer nEle, mas não conseguem, de pronto, semelhante edificação íntima. Em

vista da ignorância que não removem e dos caprichos que acariciam, falta-lhes

a integração no direito de sentir as verdades de Jesus, o que somente

conseguirão quando se reajustem, o que se faz indispensável.

Todavia, o discípulo admitido aos benefícios da crença, foi considerado

digno de conviver espiritualmente com o Mestre. Entre ele e o Senhor já existe

a partilha da confiança e da responsabilidade. Contudo, enquanto perseveram

as alegrias de Belém e as glórias de Cafarnaum, o trabalho da fé se desdobra

maravilhoso, mas, em sobrevindo a divisão das angústias da cruz, muitos

aprendizes fogem receando o sofrimento e revelando-se indignos da escolha.

Os que assim procedem, categorizam-se à conta de loucos, porqüanto,

subtrair-se à colaboração com o Cristo, é menosprezar um direito sagrado.

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OBSERVAÇÃO PRIMORDIAL

“E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é:

Ouve, ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só.” — (MARCOS,

CAPÍTULO 12, VERSÍCULO 29.)

Replicando ao escriba que o interpelou, com relação ao primeiro de todos

os mandamentos, Jesus precede o artigo inicial do Decálogo de observação

original que merece destacada.

Antes de todos os programas de Moisés, das revelações dos Profetas e de

suas próprias bênçãos redentoras no Evangelho, o Mestre coloca uma declaração

enérgica de princípios, conclamando todos os espíritos ao plano da

unidade substancial. Alicerçando o serviço salvador que Ele mesmo trazia das

esferas mais altas, proclama o Cristo à Humanidade que só existe um Senhor

Todo-Poderoso — o Pai de Infinita Misericórdia.

Sabia, de antemão, que muitos homens não aceitariam a verdade, que

almas numerosas buscariam escapar às obrigações justas, que surgiriam

retardamento, má-vontade, indiferença e preguiça, em torno da Boa Nova; no

entanto, sustentou a unidade divina, a fim de que todos os aprendizes se

convencessem de que lhes seria possível envenenar a liberdade própria, criar

deuses fictícios, erguer discórdias, trair provisoriamente a Lei, estacionar nos

caminhos, ensaiar a guerra e a destruição, contudo, jamais poderiam enganar

o plano das verdades eternas, ao qual todos se ajustarão, um dia, na perfeita

compreensão de que “o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só”

109

106

HÁ MUITA DIFERENÇA

“E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te

dou.” — (ATOS, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 6.)

É justo recomendar muito cuidado aos que se interessam pelas vantagens

da política humana, reportando-se a Jesus e tentando explicar, pelo Evangelho,

certos absurdos em matéria de teorias sociais.

Quase sempre, a lei humana se dirige ao governado, nesta fórmula: — “O

que tens me pertence.”

O Cristianismo, porém, pela boca inspirada de Pedro, assevera aos

ouvidos do próximo:

— “O que tenho, isso te dou.”

Já meditaste na grandeza do mundo, quando os homens estiverem

resolvidos a dar do que possuem para o edifício da evolução universal?

Nos serviços da caridade comum, nas instituições de benemerência

pública, raramente a criatura cede ao semelhante aquilo que lhe constitui

propriedade intrínseca.

Para o serviço real do bem eterno, fiar-se-á alguém nas posses perecíveis

da Terra, em caráter absoluto?

O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades com os necessitados

do seu caminho, entretanto, não fixará em si mesmo a luz e a alegria que

nascem dessas dádivas, se as não realizou com o sentimento do amor, que, no

fundo, é a sua riqueza imperecível e legítima.

Cada individualidade traz consigo as qualidades nobres que já conquistou

e com que pode avançar sempre, no terreno das aquisições espirituais de ordem

superior.

Não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de

salvação, porqüanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir

nas boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de

ajudar a si próprio.

110

107

PIEDADE

“Mas é grande ganho a piedade com contentamento.” — Paulo. (1ª A

TIMÓTEO, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 6.)

Fala-se muito em piedade na Terra, todavia, quando assinalamos

referências a semelhante virtude, dificilmente discernimos entre compaixão e

humilhação.

— Ajudo, mas este homem é um viciado.

— Atenderei, entretanto, essa mulher é ignorante e má.

— Penalizo-me, contudo, esse irmão é ingrato e cruel.

— Compadeço-me, todavia, trata-se de pessoa imprestável.

Tais afirmativas são reiteradas a cada passo por lábios que se afirmam

cristãos.

Realmente, de maneira geral, só encontramos na Terra essa compaixão de

voz macia e mãos espinhosas.

Deita mel e veneno.

Balsamiza feridas e dilacera-as.

Estende os braços e cobra dívidas de reconhecimento.

Socorre e espanca.

Ampara e desestimula.

Oferece boas palavras e lança reptos hostis.

Sacia a fome dos viajores da experiência com pães recheados de fel.

A verdadeira piedade, no entanto, é filha legítima do amor.

Não perde tempo na identificação do mal.

Interessa-se excessivamente no bem para descurar-se dele em troca de

ninharias e sabe que o minuto é precioso na economia da vida.

O Evangelho não nos fala dessa piedade mentirosa, cheia de ilusões e

exigências. Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã, encontra

recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica destrutiva e

sabe semear o bem, fortificar-lhe os germens, cultivar-lhe os rebentos e

esperar-lhe a frutificação.

Diz-nos Paulo que a “piedade com contentamento” é “grande ganho” para a

alma e, em verdade, não sabemos de outra que nos possa trazer prosperidade

ao coração.

111

108

ORAÇÃO

“Perseverai em oração, velando nela com ação de graças.” — Paulo.

(COLOSSENSES, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 2.)

Muitos crentes estimariam movimentar a prece, qual se mobiliza uma

vassoura ou um martelo.

Exigem resultados imediatos, por desconhecerem qualquer esforço

preparatório. Outros perseveram na oração, mantendo-se, todavia, angustiados

e espantadiços. Desgastam-se e consomem valiosas energias nas aflições

injustificáveis. Enxergam somente a maldade e a treva e nunca se dignam

examinar o tenro broto da semente divina ou a possibilidade próxima ou remota

do bem. Encarceram-se no “lado mau” e perdem, por vezes, uma existência

inteira, sem qualquer propósito de se transferirem para o ‘‘lado bom’’.

Que probabilidade de êxito se reservará ao necessitado que formula uma

solicitação em gritaria, com evidentes sintomas de desequilíbrio? O concessionário

sensato, de início, adiará a solução, aguardando, prudente, que a

serenidade volte ao pedinte.

A palavra de Paulo é clara, nesse sentido.

É indispensável persistir na oração, velando nesse trabalho com ação de

graças. E forçoso é reconhecer que louvar não é apenas pronunciar votos

brilhantes. É também alegrar-se em pleno combate pela vitória do bem,

agradecendo ao Senhor os motivos de sacrifício e sofrimento, buscando as

vantagens que a adversidade e o trabalho nos trouxeram ao espírito.

Peçamos a Jesus o dom da paz e da alegria, mas não nos esqueçamos de

glorificar-lhe os sublimes desígnios, toda vez que a sua vontade misericordiosa

e justa entra em choque com os nossos propósitos inferiores. E estejamos

convencidos de que oração intempestiva, constituída de pensamentos desesperados

e descabidas exigências, destina-se ao chão renovador qual

acontece à flor improdutiva que o vento leva.

112

109

TRÊS IMPERATIVOS

“E eu vos digo a vós: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e

abrir-se-vos-á.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 11, VERSÍCULO 9.)

Pedi, buscai, batei...

Estes três imperativos da recomendação de Jesus não foram enunciados

sem um sentido especial.

No emaranhado de lutas e débitos da experiência terrestre, é

imprescindível que o homem aprenda a pedir caminhos de libertação da antiga

cadeia de convenções sufocantes, preconceitos estéreis, dedicações vazias e

hábitos cristalizados. É necessário desejar com força e decisão a saída do

escuro cipoal em que a maioria das criaturas perdeu a visão dos interesses

eternos.

Logo após, é imprescindível buscar.

A procura constitui-se de esforço seletivo, O campo jaz repleto de

solicitações inferiores, algumas delas recamadas de sugestões brilhantes. É

indispensável localizar a ação digna e santificadora. Muitos perseguem

miragens perigosas, à maneira das mariposas que se apaixonam pela

claridade de um incêndio. Chegam de longe, acercam-se das chamas e

consomem a bênção do corpo.

É imperativo aprender a buscar o bem legítimo.

Estabelecido o roteiro edificante, é chegado o momento de bater à porta da

edificação; sem o martelo do esforço metódico e sem o buril da boa-vontade, é

muito difícil transformar os recursos da vida carnal em obras luminosas de arte

divina, com vistas à felicidade espiritual e ao amor eterno.

Não bastará, portanto, rogar sem rumo, procurar sem exame e agir sem

objetivo elevado.

Peçamos ao Senhor nossa libertação da animalidade primitivista,

busquemos a espiritualidade sublime e trabalhemos por nossa localização

dentro dela, a fim de converter-nos em fiéis instrumentos da Divina Vontade.

Pedi, buscai, batei!... Esta trilogia de Jesus reveste-se de especial

significação para os aprendizes do Evangelho, em todos os tempos.

113

110

MAGNETISMO PESSOAL

“E toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele uma virtude

que os curava a todos.” — (LUCAS, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 19.)

Na atualidade, observamos toda uma plêiade de espiritualistas eminentes,

espalhando conceitos relativos ao magnetismo pessoal, com tamanha estranheza,

qual se estivéssemos perante verdadeira novidade do século 19.

Tal serviço de investigação e divulgação dos poderes ocultos do homem

representa valioso concurso na obra educativa do presente e do futuro, no

entanto, é preciso lembrar que a edificação não é nova.

Jesus, em sua passagem pelo Planeta, foi a sublimação individualizada do

magnetismo pessoal, em sua expressão substancialmente divina. As criaturas

disputavam-lhe o encanto da presença, as multidões seguiam-lhe os passos,

tocadas de singular admiração. Quase toda gente buscava tocar-lhe a

vestidura. DEle emanavam irradiações de amor que neutralizavam moléstias

recalcitrantes.

Produzia o Mestre, espontaneamente, o clima de paz que alcançava

quantos lhe gozavam a companhia.

Se pretendes, pois, um caminho mais fácil para a eclosão plena de tuas

potencialidades psíquicas, é razoável aproveites a experiência que os

orientadoreS terrestres te oferecem, nesse sentido, mas não te esqueças dos

exemplos e das vivas demonstrações de Jesus.

Se intentas atrair, é imprescindível saber amar. Se desejas influência

legítima na Terra, santifica-te pela influência do Céu.

114

111

GRANJEAI AMIGOS

“Também vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça.” —

Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 9.)

Se o homem conseguisse, desde a experiência humana, devassar o

pretérito profundo, chegaria mais rapidamente à conclusão de que todas as

possibilidades que o felicitam, em conhecimento e saúde, provêm da Bondade

Divina e de que a maioria dos recursos materiais, à disposição de seus

caprichos, procede da injustiça.

Não nos cabe particularizar e, sim, deduzir que as concepções do direito

humano se originaram da influência divina, porque, quanto a nós outros, somos

compelidos a reconhecer nossa vagarosa evolução individual do egoísmo feroz

para o amor universalista, da iniqüidade para a justiça real.

Bastará recordar, nesse sentido, que quase todos os Estados terrestres se

levantaram, há séculos, sobre conquistas cruéis. Com exceções, os homens

têm sido servos dissipadores que, no momento do ajuste, não se mostram à

altura da mordomia.

Eis por que Jesus nos legou a parábola do empregado infiel, convidandonOS

à fraternidade sincera para que, através dela, encontremos o caminho da

reabilitação.

O Mestre aconselhou-nos a granjear amigos, isto é, a dilatar o círculo de

simpatias em que nos sintamos cada vez mais intensivamente amparados pelo

espírito de cooperação e pelos valores intercessórios.

Se o nosso passado espiritual é sombrio e doloroso, busquemos simplificálo,

adquirindo dedicações verdadeiras, que nos auxiliem através da subida

áspera da redenção. Se não temos hoje determinadas ligações com as

riquezas da injustiça, tivemo-las, ontem, e faz-se imprescindível aproveitar o

tempo para o nosso reajustamento individual perante a Justiça Divina.

115

112

TABERNÁCULOS ETERNOS

“Também vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça,

para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos

eternos.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 9.)

Um homem despercebido das obrigações espirituais julgará encontrar

nesta passagem um ladrão inteligente comprando o favor de advogados

venais, de modo a reintegrar-se nos títulos honrosos da convenção humana.

Todavia, quando Jesus fala em amigos, refere-se a irmãos sinceros e

devotados, e, quando menciona as riquezas da injustiça, inclui o passado total

da criatura, com todas as lições dolorosas que o caracterizam. Assim também,

quando se reporta aos tabernáculos eternos, não os localiza em paços

celestiais.

O Mestre situou o tabernáculo sagrado no coração do homem.

Mais que ninguém, o Salvador identificava-nos as imperfeições e,

evidenciando imensa piedade, ante as deficiências que nos assinalam o

espírito, proferiu as divinas palavras que nos servem ao estudo.

Conhecendo-nos os desvios, asseverou, em sintese, que devemos

aproveitar os bens transitórios, ao alcance de nossas mãos, mobilizando-os na

fraternidade legitima para que, esquecendo os crimes e ódios de outro tempo,

nos façamos irmãos abnegados uns dos outros.

Valorizemos, desse modo, a nossa permanência nos serviços da Terra, na

condição de encarnados ou desencarnados, favorecendo, por todos os recursos

ao nosso dispor, a própria melhoria e a elevação dos nossos semelhantes,

agindo na direção da luz e amando sempre, porqüanto, dentro dessas normas

de solidariedade sublime, poderemos contar com a dedicação de amigos fiéis

que, na qualidade de discípulos mais dedicados e enobrecidos que nós, nos

auxiliarão efetivamente, acolhendo-nos em seus corações, convertidos em

tabernáculos do Senhor, ajudando-nos não só a obter novas oportunidades de

reajustamento e santificação, mas também endossando perante Jesus as

nossas promessas e aspirações, diante da vida superior.

116

113

TUA FÉ

“E ele lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz.”

— (LUCAS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 48.)

É importante observar que o Divino Mestre, após o benefício dispensado,

sempre se reporta ao prodígio da fé, patrimônio sublime daqueles que O

procuram.

Diversas vezes, ouvimo-lo na expressiva afirmação: — “A tua fé te salvou.”

Doentes do corpo e da alma, depois do alívio ou da cura, escutam a frase

generosa. É que a vontade e a confiança do homem são poderosos fatores no

desenvolvimento e iluminação da vida.

O navegante sem rumo e que em nada confia, somente poderá atingir

algum porto em virtude do jogo das forças sobre as quais se equilibra,

desconhecendo, porém, de maneira absoluta, o que lhe possa ocorrer.

O enfermo, descrente da ação de todos os remédios, é o primeiro a

trabalhar contra a própria segurança. O homem que se mostra desalentado em

todas as coisas, não deverá aguardar a cooperação útil de coisa alguma.

As almas vazias embalde reclamam o quinhão de felicidade que o mundo

lhes deve. As negações, em que perambulam, transformam-nas, perante a

vida, em zonas de amortecimento, quais isoladores em eletricidade. Passa

corrente vitalizante, mas permanecem insensíveis.

Nos empreendimentos e necessidades de teu caminho, não te isoles nas

posições negativas.

Jesus pode tudo, teus amigos verdadeiros farão o possível por ti; contudo,

nem o Mestre e nem os companheiros realizarão em sentido integral a

felicidade que ambicionas, sem o concurso de tua fé, porque também tu és filho

do mesmo Deus, com as mesmas possibilidades de elevação.

117

114

NOVOS ATENIENSES

“Mas quando ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns

escarneciam e outros diziam: acerca disso te ouviremos outra vez.” —

(ATOS, CAPÍTULO 17, VERSÍCULO 32.)

O contacto de Paulo com os atenienses, no Areópago, apresenta lição

interessante aos discípulos novos.

Enquanto o apóstolo comentava as suas impressões da cidade célebre,

aguçando talvez a vaidade dos circunstantes, pelas referências aos santuários

e pelo jogo sutil dos raciocínios, foi atentamente ouvido. É possível que a

assembléia o aclamasse com fervor, se sua palavra se detivesse no quadro

filosófico das primeiras exposições. Atenas reverenciá-lo-ia, então, por sábio,

apresentando-o, ao mundo, na moldura especial de seus nomes inesquecíveis.

Paulo, todavia, refere-se à ressurreição dos mortos, deixando entrever a

gloriosa continuação da vida, além das ninharias terrestres. Desde esse

instante, os ouvintes sentiram-se menos bem e chegaram a escarnecer-lhe a

palavra amorosa e sincera, deixando-o quase só.

O ensinamento enquadra-se perfeitamente nos dias que correm.

Numerosos trabalhadores do Cristo, nos diversos setores da cultura moderna,

são atenciosamente ouvidos e respeitados por autoridades nos assuntos em

que se especializaram; contudo, ao declararem sua crença na vida além do

corpo, em afirmando a lei de responsabilidade, para lá do sepulcro, recebem,

de imediato, o riso escarninho dos admiradores de minutos antes, que os

deixam sozinhos, proporcionando-lhes a impressão de verdadeiro deserto.

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115

A PORTA

“Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que eu sou a

porta das ovelhas.” — (JOÃO, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 7.)

Não basta alcançar as qualidades da ovelha, quanto à mansidão e ternura,

para atingir o Reino Divino.

É necessário que a ovelha reconheça a porta da redenção, com o

discernimento imprescindível, e lhe guarde o rumo, despreocupando-se dos

apelos de ordem inferior, a eclodirem das margens do caminho.

Daí concluirmos que a cordura, para ser vitoriosa, não dispensa a cautela

na orientação a seguir.

Nem sempre a perda do rebanho decorre do ataque de feras, mas sim

porque as ovelhas imprevidentes transpõem barreiras naturais, surdas à voz do

pastor, ou cegas quanto às saídas justas, em demanda das pastagens que lhes

competem. Quantas são acometidas, de inesperado, pelo lobo terrível, porque,

fascinadas pela verdura de pastos vizinhos, se desviam da estrada que lhes é

própria, quebrando obstáculos para atender a destrutivos impulsos?

Assim acontece com os homens no curso da experiência.

Quantos espíritos nobres hão perdido oportunidades preciosas pela própria

imprudência?

Senhores de admiráveis patrimônios, revelam-se, por vezes, arbitrários e

caprichosos. Na maioria das situações, copiam a ovelha virtuosa e útil que,

após a conquista de vários títulos enobrecedores, esquece a porta a ser

atingida e quebra as disciplinas benéficas e necessárias, para entregar-se ao

lobo devorador.

119

116

OUÇAM-NOS

“Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. —

(LUCAS, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 29.)

A resposta de Abraão ao rico da parábola ainda é ensinamento de todos

os dias, no caminho comum.

Inúmeras pessoas se aproximam das fontes de revelação espiritual,

entretanto, não conseguem a libertação dos laços egoísticos de modo que

vejam e ouçam, qual lhes convém aos interesses essenciais.

Há precisamente um século, estabeleceu-se intercâmbio mais intenso

entre os dois planos, na grande movimentação do Cristianismo redivivo;

contudo, há aprendizes que contemplam o céu, angustiados tão-só porque

nunca receberam a mensagem direta de um pai ou de um filho na experiência

humana. Alguns chegam ao disparate de se desviarem da senda alegando tais

motivos.

Para esses, o fenômeno e a revelação no Espiritismo evangélico são

simples conjunto de inverdades, porque nada obtiveram de parentes mortos,

em consecutivos anos de observação.

Isso, porém, não passa de contra-senso.

Quem poderá garantir a perpetuidade dos elos frágeis das ligações

terrestres?

O impulso animal tem limites.

Ninguém justifique a própria cegueira com a insatisfação do capricho

pessoal.

O mundo está repleto de mensagens e emissários, há milênios. O grande

problema, no entanto, não está em requisitar-se a verdade para atender ao

círculo exclusivista de cada criatura, mas na deliberação de cada homem,

quanto a caminhar com o próprio valor, na direção das realidades eternas.

120

117

EM FAMÍLIA

“Aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família

e a recompensar seus pais, porque isto é bom e agradável diante de

Deus.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 4.)

A luta em família é problema fundamental da redenção do homem na

Terra. Como seremos benfeitores de cem ou mil pessoas, se ainda não aprendemos

a servir cinco ou dez criaturas? Esta é indagação lógica que se estende

a todos os discípulos sinceros do Cristianismo.

Bom pregador e mau servidor são dois títulos que se não coadunam.

O apóstolo aconselha o exercício da piedade no centro das atividades

domésticas, entretanto, não alude à piedade que chora sem coragem ante os

enigmas aflitivos, mas àquela que conhece as zonas nevrálgicas da casa e se

esforça por eliminá-las, aguardando a decisão divina a seu tempo.

Conhecemos numerosos irmãos que se sentem sozinhos, espiritualmente,

entre os que se lhes agregaram ao círculo pessoal, através dos laços consangüíneos,

entregando-se, por isso, a lamentável desânimo.

É imprescindível, contudo, examinar a transitoriedade das ligações

corpóreas, ponderando que não existem uniões casuais no lar terreno.

Preponderam aí, por enquanto, as provas salvadoras ou regenerativas.

Ninguém despreze, portanto, esse campo sagrado de serviço por mais se sinta

acabrunhado na incompreensão. Constituiria falta grave esquecer-lhe as

infinitas possibilidades de trabalho iluminativo.

É impossível auxiliar o mundo, quando ainda não conseguimos ser úteis

nem mesmo a uma casa pequena — aquela em que a Vontade do Pai nos

situou, a título precário.

Antes da grande projeção pessoal na obra coletiva, aprenda o discípulo a

cooperar, em favor dos familiares, no dia de hoje, convicto de que semelhante

esforço representa realização essencial.

121

118

É PARA ISTO

“Não retribuindo mal por mal, nem injúria por injúria; antes, pelo

contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados.” — (1ª

EPÍSTOLA A PEDRO, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 9.)

A fileira dos que reclamam foi sempre numerosa em todas as tarefas do

bem.

No apostolado evangélico, reparamos, igualmente, essa regra geral.

Muitos aprendizes, em obediência ao pernicioso hábito, preferem o

caminho dos atritos ou das dissidências escandalosas. No entanto, mais algum

raciocínio despertaria a comunidade dos discípulos para a maior compreensão.

Convidar-nos-ia Jesus a conflitos estéreis, tão-só para repetir os quadros

do capricho individual ou da força tiranizante? Se assim fora, o ministério do

Reino estaria confiado aos teimosos, aos discutidores, aos gigantes da energia

física.

É contra-senso desfazer-se o servidor da Boa Nova em lamentações que

não encontram razão de ser.

Amarguras, perseguições, calúnias, brutalidade, desentendimento? São

velhas figurações que atormentam as almas na Terra. A fim de contribuir na

extinção delas é que o Senhor nos chamou às suas fileiras. Não as alimentes,

emprestando-lhes excessivo apreço.

O cristão é um ponto vivo de resistência ao mal, onde se encontre.

Pensa nisto e busca entender a significação do verbo suportar.

Não olvides a obrigação de servir com Jesus. É para isto que fomos

chamados.

122

119

AJUDA SEMPRE

“Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o

coração?” — (ATOS, CAPÍTULO 21, VERSÍCULO 13.)

Constitui passagem das mais dramáticas nos Atos dos Apóstolos aquela

em que Paulo de Tarso se prepara, A frente dos testemunhos que o aguardavam

em Jerusalém.

Na alma heróica do lutador não paira qualquer sombra de hesitação. Seu

espírito, como sempre, está pronto. Mas, os companheiros choram e se

lastimam; e, do coração sensível e valoroso do batalhador do Evangelho, fluí a

indagação dolorosa.

Não obstante a energia serena que lhe domina a organização vigorosa,

Paulo sentia falta de amigos tão corajosos quanto ele mesmo.

Os companheiros que o seguiam estavam sinceramente dispostos ao

sacrifício, entretanto, não sabiam manifestar os sentimentos da alma fiel. É que

o pranto ou a lamentação jamais ajudam, nos instantes de testemunho difícil.

Quem chora, ao lado de um amigo em posição perigosa, desorganiza-lhe a

resistência.

Jesus chorou no Horto, quando sozinho, mas, em Jerusalém, sob o peso

da cruz, roga às mulheres generosas que O amparavam a cessação das

lágrimas angustiosas. Na alvorada da Ressurreição, pede a Madalena

esclareça o motivo de seu pranto, junto ao sepulcro.

A lição é significativa para todo aprendiz.

Se um ente amado permanece mais tempo sob a tempestade necessária,

não te entregues a desesperos inúteis. A queixa não soluciona problemas. Ao

invés de magoá-lo com soluços, aproxima-te dele e estende-lhe as mãos.

123

120

CONCILIAÇÃO

“Concilia-te - depressa com o teu adversário, enquanto estás no

caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao

juiz e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e te encerrem na prisão.”

Jesus. (MATEUS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 25.)

Muitas almas enobrecidas, após receberem a exortação desta passagem,

sofrem intimamente por esbarrarem com a dureza do adversário de ontem,

inacessível a qualquer conciliação.

A advertência do Mestre, no entanto, é fundamentalmente consoladora

para a consciência individual.

Assevera a palavra do Senhor — “concilia-te”, o que equivale a dizer “faze

de tua parte”.

Corrige quanto for possível, relativamente aos erros do passado,

movimenta-te no sentido de revelar a boa-vontade perseverante. Insiste na

bondade e na compreensão.

Se o adversário é ignorante, medita na época em que também

desconhecias as obrigações primordiais e observa se não agiste com piores

características; se é perverso, categoriza-o à conta de doente e dementado em

vias de cura.

Faze o bem que puderes, enquanto palmilhas os mesmos caminhos,

porque se for o inimigo tão implacável que te busque entregar ao juiz, de

qualquer modo, terás então igualmente provas e testemunhos a apresentar.

Um julgamento legítimo inclui todas as peças e somente os espíritos

francamente impenetráveis ao bem, sofrerão o rigor da extrema justiça.

Trabalha, pois, quanto seja possível no capítulo da harmonização, mas se

o adversário te desdenha os bons desejos, concilia-te com a própria consciência

e espera confiante.

124

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MONTURO

“Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem

tem ouvidos para ouvir, ouça.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 14,

VERSÍCULO 35.)

Segundo deduzimos, Jesus emprestou significação ao monturo.

Terra e lixo, nesta passagem, revestem-se de valor essencial. Com a

primeira, realizaremos a semeadura, com a segunda é possível fazer a

adubação, onde se faça necessária.

Grande porção de aprendizes, imitando a atitude dos fariseus antigos, foge

ao primeiro encontro com as “zonas estercorárias” do próximo; entretanto, tal

se verifica porque lhes desconhecem as expressões proveitosas.

O Evangelho está cheio de lições, nesse setor do conhecimento

iluminativo.

Se José da Galiléia ou Maria de Nazaré simbolizam terras de virtudes

fartas, o mesmo não sucede aos apóstolos que, a cada passo, necessitam

recorrer à fonte das lágrimas que escorrem do monturo de remorsos e

fraquezas, propriamente humanos, a fim de fertilizarem o terreno empobrecido

de seus coraçoes. De quanto adubo dessa natureza precisaram Madalena e

Paulo, por exemplo, até alcançarem a gloriosa posição em que se destacaram?

Transformemos nossas misérias em lições.

Identifiquemos o monturo que a própria ignorância amontoou em torno de

nós mesmos, convertamo-lo em adubo de nossa “terra íntima” e teremos dado

razoável solução ao problema de nossos grandes males.

125

122

PECADO E PECADOR

“Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem, é de Deus;

mas quem faz o mal, não tem visto a Deus.” — (3ª Epístola à João, 11.)

A sociedade humana não deveria operar a divisão de si própria, como

sendo um campo em que se separam bons e maus, mas sim viver qual grande

família em que se integram os espíritos que começam a compreender o Pai e

os que ainda não conseguiram pressenti-Lo.

Claro que as palavras “maldade” e “perversidade” ainda comparecerão, por

vastíssimos anos, no dicionário terrestre, definindo certas atitudes mentais

inferiores; todavia, é forçoso convir que a questão do mal vai obtendo novas

interpretações na inteligência humana.

O evangelista apresenta conceito justo. João não nos diz que o perverso

está exilado de nosso Pai, nem que se conserva ausente da Criação. Apenas

afirma que “não tem visto a Deus”.

Isto não significa que devamos cruzar os braços, ante as ervas venenosas

e zonas pestilenciais do caminho; todavia, obriga-nos a recordar que um lavrador

não retira espinheiros e detritos do solo, a fim de convertê-lo em

precipícios.

Muita gente acredita que o “homem caído” éalguém que deve ser

aniquilado. Jesus, no entanto, não adotou essa diretriz. Dirigindo-se,

amorosamente, ao pecador, sabia-se, antes de tudo, defrontado por enfermo

infeliz, a quem não se poderia subtrair as características de eternidade.

Lute-se contra o crime, mas ampare-se a criatura que se lhe enredou nas

malhas tenebrosas.

O Mestre indicou o combate constante contra o mal, contudo, aguarda a

fraternidade legítima entre os homens por marco sublime do Reino Celeste.

126

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CONDIÇÃO COMUM

“Imediatamente, o pai do menino, clamando com lágrimas, disse: Eu

creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade.” (MARCOS, CAPÍTULO 9,

VERSÍCULO 24.)

Aquele homem da multidão, em se aproximando de Jesus com o filho

enfermo, constitui expressão representativa do espírito comum da humanidade

terrestre.

Os círculos religiosos comentam excessivamente a fé em Deus, todavia,

nos instantes da tempestade, são escassos os devotos que permanecem

firmes na confiança.

Revelam-se as massas muito atentas aos cerimoniais do culto exterior,

participam das edificações alusivas à crença, contudo, ante as dificuldades do

escândalo, quase toda gente resvala no despenhadeiro das acusações

recíprocas.

Se falha um missionário, verifica-se a debandada. A comunidade dos

crentes pousa os olhos nos homens falíveis, cegos às finalidades ou

indiferentes às instituições. Em tal movimento de insegurança espiritual, sem

paradoxo, as criaturas humanas crêem e descrêem, confiando hoje e

desfalecendo amanhã.

Somos defrontados, ainda, pelo regime de incerteza de espíritos infantis

que mal começam a conceber noções de responsabilidade.

Felizes, pois, aqueles que, à maneira do pai necessitado, se acercarem do

Cristo, confessando a precariedade da posição Intima. Assim, em afirmando a

crença com a boca, pedirão, ao mesmo tempo, ajuda para a sua falta de fé,

atestando com lágrimas a própria miserabilidade.

127

124

NÃO FALTA

“E, se os deixar ir em jejum para suas casas, desfalecerão no

caminho, porque alguns deles vieram de longe.” — Jesus. (MARCOS,

CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 3.)

A preocupação de Jesus pela multidão necessitada continua viva, através

do tempo.

Quantas escolas religiosas palpitam no seio das nações, ao influxo do

amor providencial do Mestre Divino?

Pode haver homens perversos e desesperados que perseveram na malícia

e na negação, mas não se vê coletividade sem o socorro da fé. Os próprios

selvagens recebem postos de assistência do Senhor, naturalmente de acordo

com a rusticidade de suas interpretações primitivistas. Não falta alimento do

céu às criaturas. Se alguns espíritos se declaram descrentes da Paternidade

de Deus, é que se encontram incapazes ou enfermos pelas ruínas interiores a

que se entregaram.

Jesus manifesta invariável preocupação em nutrir o espírito dos tutelados,

através de mil modos diferentes, desde a taba do indígena às catedrais das

grandes metrópoles.

Nesses postos de socorro sublime, o homem aprende, em esforço

gradativo, a alimentar-se espiritualmente, até trazer a igreja ao próprio lar,

transportando-a do santuário doméstico para o recinto do próprio coração.

Pouca gente medita na infinita misericórdia que serve, no mundo, à mesa

edificante das idéias religiosas.

Inclina-se o Mestre ao bem de todos os homens. Cheio de abnegação e

amor sabe alimentar, com recursos específicos, o ignorante e o sábio, o indagador

e o crente, o revoltado e o infeliz.

Mais que ninguém, compreende Jesus que, de outro modo, as criaturas

cairiam, exaustas, nos imensos despenhadeiros que marginam a senda

evolutiva.

128

125

SEPARAÇÃO

“Todavia, digo-vos a verdade: a vós convém que eu vá.” — Jesus.

(JOÃO, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 7.)

Semelhante declaração do Mestre ressoa em nossas fibras mais íntimas.

Ninguém sabia amar tanto quanto Ele, contudo, era o primeiro a

reconhecer a conveniência da partida, em favor dos companheiros.

Que teria acontecido se Jesus teimasse em permanecer?

Provavelmente, as multidões terrestres teriam acentuado as tendências

egoísticas, consolidando-as.

Porque o Divino Amigo havia buscado Lázaro no sepulcro, ninguém mais

se resignaria à separação pela morte. Por se haverem limpado alguns leprosos

ninguém aceitaria, de futuro, a cooperação proveitosa das moléstias físicas, O

resultado lógico seria a perturbação geral no mecanismo evolutivo.

O Mestre precisava ausentar-se para que o esforço de cada um se fizesse

visível no plano divino da obra mundial. De outro modo, seria perpetuar a

indolência de uns e o egoísmo de outros.

Sob diferentes aspectos, repete-se, diariamente, a grande hora da família

evangélica em nossos agrupamentos afins.

Quantas vezes surgirá a viuvez, a orfandade, o sofrimento da distância, a

perplexidade e a dor por elevada conveniência ao bem comum?

Recordai a presente passagem do Evangelho, quando a separação vos

faça chorar, porque se a morte do corpo é renovação para quem parte é também

vida nova para os que ficam.

129

126

O ESPINHO

“E para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foime

dado um espinho na carne, mensageiro de Satanás.” — Paulo. (2ª

EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 12, VERSÍCULO 7.)

Atitude sumamente perigosa louvar o homem a si mesmo, presumindo

desconhecer que se encontra em plano de serviço árduo, dentro do qual lhe

compete emitir diariamente testemunhos difíceis. É posição mental não

somente ameaçadora, quanto falsa, porque lá vem um momento inesperado

em que o espinho do coração aparece.

O discípulo prudente alimentará a confiança sem bazóf ia, revelando-se

corajoso sem ser metediço. Reconhece a extensão de suas dividas para com o

Mestre e não encontra glória em si mesmo, por verificar que toda a glória

pertence a Ele mesmo, o Senhor.

Não são poucos os homens do mundo, invigiJantes e inquietos, que, após

receberem o incenso da multidão, passam a curtir as amarguras da soledade;

muitos deles se comprazem nos galarins da fama, qual se estivessem

convertidos em ídolos eternos, para chorarem, mais tarde, a sós, com o seu

espinho ignorado nos recessos do ser.

Por que assumir posição de mestre infalível, quando não passamos de

simples aprendizes?

Não será mais justo servir ao Senhor, na mocidade ou na velhice, na

abundância ou na escassez, na administração ou ‘na subalternidade, com o

espírito de ponderação, observando os nossos pontos vulneráveis, na

insuficiência e imperfeição do que temos sido, até agora?

Lembremo-nos de que Paulo de Tarso esteve com Jesus pessoalmente; foi

indicado para o serviço divino em Antioquia pelas próprias vozes do Céu; lutou,

trabalhou e sofreu pelo Evangelho do Reino e, escrevendo aos coríntios, já

envelhecido e cansado, ainda se referiu ao espinho que lhe foi dado para que

se não exaltasse no sublime trabalho das revelações.

130

127

LEI DE RETORNO

“E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que

fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” — Jesus. (JOÃO,

CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 29.)

Em raras passagens do Evangelho, a lei reencarnacionista permanece tão

clara quanto aqui, em que o ensino do Mestre se reporta à ressurreição da

condenação.

Como entenderiam estas palavras os teólogos interessados na existência

de um inferno ardente e imperecível?

As criaturas dedicadas ao bem encontrarão a fonte da vida em se

banhando nas águas da morte corporal. Suas realizações do porvir seguem na

ascensão justa, em correspondência direta com o esforço perseverante que

desenvolveram no rumo da espiritualidade santificadora, todavia, os que se

comprazem no mal cancelam as próprias possibilidades de ressurreição na luz.

Cumpre-lhes a repetição do curso expiatório.

É a volta à lição ou ao remédio.

Não lhes surge diferente alternativa.

A lei de retorno, pois, está contida amplamente nessa síntese de Jesus.

Ressurreição é ressurgimento. E o sentido de renovação não se

compadece com a teoria das penas eternas.

Nas sentenças sumárias e definitivas não há recurso salvador. Através da

referência do Mestre, contudo, observamos que a Providência Divina é muito

mais rica e magnânima que parece.

Haverá ressurreição para todos, apenas com a diferença de que os bons

tê-la-ão em vida nova e os maus em nova condenação, decorrente da criação

reprovável deles mesmos.

131

128

É PORQUE IGNORAM

“E isto vos farão, porque não conhecem ao Pai nem a mim.” Jesus.

(JOÃO, CAPÍTULO 16, VERSÍCULO 3.)

Dolorosas perplexidades não raro assaltam os discípulos, inspirando-lhes

interrogações.

Por que a desarmonia, em torno do esforço fraterno?

A jornada do bem encontra barreiras sombrias.

Tenta-se o estabelecimento da luz, mas a treva penetra as estradas.

Formulam-se projetos simples para a caridade que a má-fé procura perturbar

ao primeiro impulso de realização.

Quase sempre, a demonstração destrutiva parte de homens assinalados

pela posição de evidência, indicados pela força das circunstâncias para exercer

a função de orientadores do pensamento geral. São esses que, na maioria das

ocasiões, se arvoram em expositores de imposições e exigências descabidas.

O aprendiz sincero de Jesus, todavia, não deve perder tempo com

interrogações e ansiedades que se não justificam.

O Mestre Divino esclareceu esse grande problema por antecipação.

A ignorância é a fonte comum do desequilíbrio. E se esse ou aquele grupo

de criaturas busca impedir as manifestações do bem, é que desconhece, por

enquanto, as bênçãos do Céu.

Nada mais que isto.

É necessário, pois, esquecer as sombras que ainda dominam a maior parte

dos setores terrestres, vivendo cada discípulo na luz que palpita no serviço do

Senhor.

132

129

AO PARTIR DO PÃO

“E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como

deles foi conhecido ao partir do pão.” — (LUCAS, CAPÍTULO 24,

VERSÍCULO 35.)

Muito importante o episódio em que o Mestre é reconhecido pelos

discípulos que se dirigiam para Emaús, em desesperação.

Jesus seguira-os, qual amigo oculto, fixando-lhes a verdade no coração

com as fórmulas verbais, carinhosas e doces.

Grande parte do caminho foi atravessada em companhia daquele homem,

amoroso e sábio, que ambos interpretaram por generoso e simpático desconhecido

e, somente ao partir do pão, reconhecem o Mestre muito amado.

Os dois aprendizes não conseguiram a identificação nem pelas palavras,

nem pelo gesto afetuoso; contudo, tão logo surgiu o pão materializado, dissiparam

todas as dúvidas e creram.

Não será o mesmo que vem ocorrendo no mundo há milênios?

Compactas multidões de candidatos à fé se afastam do serviço divino, por

não atingirem, depois de certa expectação, as vantagens que aguardavam no

imediatismo da luta humana. Sem garantia financeira, sem caprichos

satisfeitos, não comungam na crença renovadora, respeitável e fiel.

É necessário combater semelhante miopia da alma.

Louvado seja o Senhor por todas as lições e testemunhos que nos confere,

mas continuarás muito longe da verdade se o procuras apenas na divisão dos

bens fragmentários e perecíveis.

133

130

ONDE ESTÃO?

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e

humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” —

Jesus. (MATEUS, CAPÍTULO 11, VERSÍCULO 29.)

Dirigiu-se Jesus à multidão dos aflitos e desalentados proclamando o

divino propósito de aliviá-los.

— “Vinde a mim! — clamou o Mestre — tomai sobre vós o meu jugo, e

aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração!”

Seu apelo amoroso vibra no mundo, através de todos os séculos do

Cristianismo.

Compacta é a turba de desesperados e oprimidos da Terra, não obstante o

amorável convite.

É que o Mestre no “Vinde a mim!” espera naturalmente que as almas

inquietas e tristes o procurem para a aquisição do ensinamento divino. Mas

nem todos os aflitos pretendem renunciar ao objeto de suas desesperações e

nem todos os tristes querem fugir à sombra para o encontro com a luz.

A maioria dos desalentados chega a tentar a satisfação de caprichos

criminosos com a proteção de Jesus, emitindo rogatívas estranhas.

Entretanto, quando os sofredores se dirigirem sinceramente ao Cristo, hão

de ouvi-lo, no silêncio do santuário interior, concitando-lhes o espírito a desprezar

as disputas reprováveis do campo inferior.

Onde estão os aflitos da Terra que pretendem trocar o cativeiro das

próprias paixões pelo jugo suave de Jesus-Cristo?

Para esses foram pronunciadas as santas palavras “Vinde a mim!”,

reservando-lhes o Evangelho poderosa luz para a renovação indispensável.

134

131

O MUNDO E A CRENÇA

“O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e

acreditemos.” — (MARCOS, CAPÍTULO 15, VERSÍCULO 32.)

Por isso que são muito raros os homens habilitados à verdadeira

compreensão da crença pura em seus valores essenciais, encontramos os que

injuriaram o Cristo para confirmá-lo.

A mentalidade milagreira sempre nadou na superfície dos sentidos, sem

atingir a zona do espírito eterno, e, se não alcança os fins menos dignos aos

quais se dirige, descamba para os desafios mordazes.

E, no caso do Mestre, as observações não partem somente do populacho.

Assevera Marcos que os principais dos sacerdotes com os escribas

partilhavam dos movimentos insultuosos, como a dizer que intelectualismo não

traduz elevação espiritual.

Os manifestantes conservavam-se surdos para a Boa Nova do Reino,

cegos para a contemplação dos benefícios recebidos, insensíveis ao toque do

amor que Jesus endereçara aos corações.

Pretendiam apenas um espetáculo.

Descesse o Cristo da Cruz, num passe de mágica, e todos os problemas

de crença inferior estariam resolvidos.

O divino interpelado, contudo, não lhes deu outra resposta, além do

silêncio, dando-lhes a entender a magnitude de seu gesto inacessível ao

propósito infantil dos inquiridores.

Se és discípulo sincero do Evangelho, não te esqueças de que, ainda hoje,

a situação não é muito diversa.

Trabalha, ponderadamente, no serviço da fé.

Une-te ao Senhor, dá quanto puderes em nome dEle e prossegue servindo

na extensão do bem, convicto de que o vasto mundo inferior apenas te pedirá

maliciosamente distrações e sinais.

135

132

EM TUDO

“Tornando-nos recomendáveis em tudo: na muita paciência, nas aflições,

nas necessidades, nas angústias.” — Paulo. (2ª EPÍSTOLA AOS

CORÍNTIOS, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 4.)

A maioria dos aprendizes do Evangelho não encara seriamente o fundo

religioso da vida, senão nas atividades do culto exterior. Na concepção de muitos

bastará freqüentar, assíduos, as assembléias da fé e todos os enigmas da

alma estarão decifrados, no capítulo das relações com Deus.

Entretanto, os ensinamentos do Cristo apelam para a renovação e

aprimoramento individual em todas as circunstâncias.

Que dizer de um homem, aparentemente contrito nos atos públicos da

confissão religiosa a que pertence e mergulhado em palavrões no santuário

doméstico? Não são poucos os que se declaram crentes, ao lado da multidão,

revelando-se indolentes no trabalho, desesperados na dor, incontinentes na

alegria, infiéis nas facilidades e blasfemos nas angústias do coração.

Por que motivo pugnaria Jesus pela formação dos seguidores tão-só para

ser incensado por eles, durante algumas horas da semana, em genuflexão?

Atribuir ao Mestre semelhante propósito seria rebaixar-lhe os sublimes

princípios.

É indispensável que os aprendizes se tornem recomendáveis em tudo,

revelando a excelência das idéias que os alimentam, tanto em casa, quanto

nas igrejas, tanto nos serviços comuns, quanto nas vias públicas.

Certo, ninguém precisará viver exclusivamente de mãos-postas ou de olhar

fixo no firmamento; todavia, não nos esqueçamos de que a gentileza, a boavontade,

a cooperação e a polidez são aspectos divinos da oração viva no

apostolado do Cristo.

136

133

O GRANDE FUTURO

“Mas agora o meu reino não é daqui” — Jesus. (JOÃO, CAPÍTULO 18,

VERSÍCULO 36.)

Desde os primórdios do Cristianismo, observamos aprendizes que se

retiram deliberadamente do mundo, alegando que o Reino do Senhor não pertence

à Terra.

Ajoelham-se, por tempo indeterminado, nas casas de adoração, e

acreditam efetuar na fuga a realização da santidade.

Muitos cruzam os braços à frente dos serviços de regeneração e, quando

interrogados, expressam revolta pelos quadros chocantes que a experiência

terrena lhes oferece, reportando-se ao Cristo, diante de Pilatos, quando o

Mestre asseverou que o seu reino ainda não se instalara nos círculos da luta

humana.

No entanto, é justo ponderar que o Cristo não deserdou o planeta. A

palavra dEle não afiançou a negação absoluta da felicidade celeste para a

Terra, mas apenas definiu a paisagem então existente, sem esquecer a

esperança no porvir.

O Mestre esclareceu: — “Mas agora o meu reino não é daqui.”

Semelhante afirmativa revela-lhe a confiança.

Jesus, portanto, não pode endossar a falsa atitude dos operários em

desalento, tão-só porque a sombra se fez mais densa em torno de problemas

transitórios ou porque as feridas humanas se fazem, por vezes, mais

dolorosas. Tais ocorrências, muita vez, obedecem a pura ilusão visual.

A atividade divina jamais cessa e justamente no quadro da luta benéfica é

que o discípulo insculpirá a própria vitória.

Não nos cabe, pois, a deserção pela atitude contemplativa e, sim, avançar,

confiantemente, para o grande futuro.

137

134

NUTRIÇÃO ESPIRITUAL

“Bom é que o coração se fortifique com graça e não com manjares,

que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram.” — Paulo.

(HEBREUS, CAPÍTULO 13, VERSÍCULO 9.)

Há vícios de nutrição da alma, tanto quanto existem na alimentação do

corpo.

Muitas pessoas trocam a água pura pelas bebidas excitantes, qual ocorre a

muita gente que prefere lidar com a ilusão pernicíosa, em se tratando dos

problemas espirituais.

O alimento do coração, para ser efetivo na vida eterna, há de basear-se

nas realidades simples do caminho evolutivo.

É imprescindível estejamos fortificados com os valores iluminativos, sem

atender aos deslumbramentos da fantasia que procede do exterior. E

justamente na estrada religiosa é que semelhante esforço exige mais amplo

aprimoramento.

O crente, de maneira geral, está sempre sequioso de situações que lhe

atendam aos caprichos nocivos, quanto o gastrônomo anseia pelos pratos

exóticos; entretanto, da mesma sorte que os prazeres da mesa em nada

aproveitam nas atividades essenciais, as sensações empolgantes da zona

fenomênica se tornam inúteis ao espírito, quando este não possui recursos

interiores suficientes para compreender as finalidades. Inúmeros aprendizes

guardam a experiência religiosa, que lhes diz respeito, por questão puramente

intelectual. Imperioso, porém, é reconhecer que o alimento da alma para fixarse,

em definitivo, reclama o coração sinceramente interessado nas verdades

divinas.

Quando um homem se coloca nessa posição íntima, fortifica-se realmente

para a sublimação, porque reconhece tanto material de trabalho digno, em

torno dos próprios passos, que qualquer sensação transitória, para ele, passa a

localizar-se nos últimos degraus do caminho.

138

135

RENOVAÇÃO NECESSÁRIA

“Não extingais o Espírito.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS

TESSALONICENSES, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 19.)

Quando o apóstolo dos gentios escreveu esta exortação, não desejava

dizer que o Espírito pode ser destruído, mas procurava renovar a atitude mental

de quantos vivem sufocando as tendências superiores.

Não raro, observamos criaturas que agem contra a própria consciência, a

fim de não se categorizarem entre os espirituais. Entretanto, as entidades

encarnadas permanecem dentro de laborioso aprendizado, para se erguerem

do mundo na qualidade de espíritos gloriosos. Esta é a maior finalidade da

escola humana.

Os homens, contudo, demoram-se largamente a distância da grande

verdade. Habitualmente, preferem o convencionalismo a rigor e, somente a

custo, abrem o entendimento às realidades da alma. Os costumes,

efetivamente, são elementos poderosos e determinantes na evolução, todavia,

apenas quando inspirados por princípios de ordem superior.

É necessário, portanto, não asfixiarmos os germens da vida edificante que

nascem, todos os dias, no coração, ao influxo do Pai Misericordioso.

Irmãos nossos existem que regressam da Terra pela mesma porta da

ignorância e da indiferença pela qual entraram. Eis por que, no balanço das

atividades de cada dia, os discípulos deverão interrogar a si mesmos: — “Que

fiz hoje? acentuei os traços da criatura inferior que fui até ontem ou desenvolvi

as qualidades elevadas do espírito que desejo reter amanhã?”

139

136

CONFLITO

“Acho então esta lei em mim: quando quero fazer o bem, o mal está

comigo.” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 7, VERSÍCULO 21.)

Os discípulos sinceros do Evangelho, à maneira de Paulo de Tarso,

encontram grande conflito na própria natureza.

Quase sempre são defrontados por enormes dificuldades nos

testemunhos. No instante justo, quando lhes cabe revelar a presença do Divino

Companheiro no coração, eis que uma palavra, uma atitude ligeira os traem,

diante da própria consciência, indicando-lhes a continuidade das antigas

fraquezas.

A maioria experimenta sensações de vergonha e dor.

Alguns atribuem as quedas à influenciação de espíritos maléficos e,

geralmente, procuram o inimigo no plano exterior, quando deveriam sanar em

si mesmos a causa indesejável de sintonia com o mal.

É indubitável que ainda nos achamos em região muito distante daquela em

que possamos viver isentos de vibrações adversas, todavia, é necessário verificar

a observação de Paulo, em nós próprios.

Enquanto o homem se mantém no gelo da indiferença ou na inquietação

da teimosia, não é chamado à análise pura; entretanto, tão logo desperta para

a renovação, converte-se o campo íntimo em zona de batalha.

Contra a aspiração bruxuleante do bem, no dia que passa, levanta-se a

pesada bagagem de sombras acumuladas em nossas almas desde os séculos

transcorridos. Indispensável, portanto, grande serenidade e resistência de

nossa parte, a fim de que o progresso alcançado não se perca.

O Senhor concede-nos a claridade de Hoje para esquecermos as trevas de

Ontem, preparando-nos para o Amanhã, no rumo da luz imperecível.

140

137

INIMIGOS

“Amai, pois, os vossos inimigos.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 6,

VERSÍCULO 35.)

A afirmativa do Mestre Divino merece meditação em toda parte.

Naturalmente que a recomendação, quanto ao amor aos inimigos, pede análise

especial.

A multidão, em geral, não traduz o verbo amar senão pelas atividades

cariciosas. Para que um homem demonstre capacidade afetiva, ante os olhos

vulgares, precisará movimentar imenso cabedal de palavras e atitudes ternas,

quando sabemos que o amor pode resplandecer no coração das criaturas sem

qualquer exteriorização superficial. Porque o Pai nos confira experiências

laboriosas e rudes, na Terra ou noutros mundos, não lhe podemos atribuir

qualquer negação de amor.

No terreno a que se reporta o Amigo Divino, éjusto nos detenhamos em

legítimas ponderações.

Onde há luta há antagonismo, revelando a existência de circunstâncias

com as quais não seria lícito concordar em se tratando do bem comum.

Quando o Senhor nos aconselhou amar os inimigos, não exigiu aplausos ao

que rouba ou destrói, deliberadamente, nem mandou multiplicarmos as asas da

perversidade ou da má-fé. Recomendou, realmente, auxiliarmos os mais

cruéis; no entanto, não com aprovação indébita e sim com a disposição sincera

e fraternal de ajudá-los a se reerguerem para a senda divina, através da

paciência, do recurso reconstrutivo ou do trabalho restaurador. O Mestre,

acima de tudo, preocupou-se em preservar-nos contra o veneno do ódio,

evitando-nos a queda em disputas inferiores, inúteis ou desastrosas.

Ama, pois, os que se mostram contrários ao teu coração, amparando-os

fraternalmente com todas as possibilidades de socorro ao teu alcance, convicto

de que semelhante medida te livrará do calamitoso duelo do mal contra o mal.

141

138

VEJAMOS ISSO

“Porque o Cristo me enviou, não para batizar, mas para evangelizar;

não em sabedoria de palavras, para que a cruz do Cristo se não faça vã.”

— Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 17.)

Geralmente, quando encarnados, sentimos vaidoso prazer em atrair o

maior número de pessoas para o nosso modo de crer.

Somos invariavelmente bons pregadores e eminentemente sutis na criação

de raciocínios que esmaguem os pontos de vista de quantos nos não possam

compreender no imediatismo da luta.

No primeiro pequeno triunfo obtido, tornamo-nos operosos na consulta aos

livros santos, não para adquirir mais vasta iluminação e, sim, com o objetivo de

pesquisar as letras humanas das divinas escrituras, buscando acentuar as

afirmativas vulneráveis de nossos opositores.

Se católicos romanos, insistimos pela observância de nossos amigos à

freqüência da missa e dos sacramentos materializados; se adeptos das igrejas

reformadas, exigimos o comparecimento geral ao culto externo; e, se

espiritistas, buscamos multiplicar as sessões de intercâmbio com o plano

invisível.

Semelhante esforço não deixa de ser louvável em algumas de suas

características, todavia, é imperioso recordar que o aprendiz do Evangelho,

quando procura sinceramente compreender o Cristo, sente-se visceralmente

renovado na conduta íntima.

Quando Jesus penetra o coração de um homem, converte-o em

testemunho vivo do bem e manda-o a evangelizar os seus irmãos com a

própria vida e, quando um homem alcança Jesus, não se detém, pura e

simplesmente, na estação das palavras brilhantes, mas vive de acordo com o

Mestre, exemplificando o trabalho e o amor que iluminam a vida, a fim de que a

glória da cruz se não faça vã.

142

139

OFERENDAS

“Porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo.” — Paulo.

(HEBREUS, CAPÍTULO 7, VERSÍCULO 27.)

As criaturas humanas vão sempre bem na casa farta, ante o céu azul.

Entretanto, logo surjam dificuldades, ei-las à procura de quem as substitua nos

lugares de aborrecimento e dor. Muitas vezes, pagam preço elevado pela fuga

e adiam indefinidamente a experiência benéfica a que foram convidadas pela

mão do Senhor.

Em razão disso, os religiosos de todos os tempos estabelecem

complicados problemas com as oferendas da fé.

Nos ritos primitivos não houve qualquer hesitação, perante o sacrifício de

jovens e crianças.

Com o escoar do tempo, o homem passou àmatança de ovelhas, touros e

bodes nos santuários.

Por muitos séculos perdurou o plano de óbolos em preciosidades e

riquezas destinadas aos serviços do culto.

Com todas essas demonstrações, porém, o homem não procura senão

aliciar a simpatia exclusiva de Deus, qual se o Pai estivesse inclinado aos partícularismos

terrestres.

A maioria dos que oferecem dádivas materiais não procede assim, ante as

casas da fé, por amor à obra divina, mas com o propósito deliberado de

comprar o favor do céu, eximindo-se ao trabalho de auto-aperfeiçoamento.

Nesse sentido, contudo, o Cristo forneceu preciosa resposta aos seus

tutelados do mundo.

Longe de pleitear quaisquer prerrogativas, não enviou substitutos ao

Calvário ou animais para sacrifício nos templos e, sim, abraçou, ele mesmo, a

cruz pesada, imolando-se em favor das criaturas e dando a entender que todos

os discípulos serão compelidos ao testemunho próprio, no altar da própria vida.

143

140

SAIBAMOS LEMBRAR

“Lembrai-vos das minhas prisões.” — Paulo. (COLOSSENSES,

CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 18.)

Nas infantilidades e irreflexões costumeiras, os crentes recordam apenas a

luminosa auréola dos espíritos santificados na Terra.

Supõem muitos encontrá-los, facilmente, além do túmulo, a fim de receberlhes

preciosas lembranças.

Não aguardam senão o céu, através de repouso brilhante na imensidade

cósmica...

Quantos se lembrarão de Paulo tão-somente na glorificação? Entretanto,

nesta observação aos colossenses, o grande apóstolo exorta os amigos a lhe

rememorarem as prisões, como a dizer que os discípulos não devem cristalizar

o pensamento na antevisão de facilidades celestes e, sim, refletir, seriamente,

no trabalho justo pela posse do reino divino.

A conquista da espiritualidade sublimada tem igualmente os seus

caminhos. É indispensável percorrê-los.

Antes de fixarmos a coroa resplandecente dos apóstolos fiéis, meditemos

nos espinhos que lhes feriram a fronte.

Paulo conseguiu atingir as culminâncias, entretanto, quantos golpes de

açoite, pedradas e ironias suportou, adaptando-se aos ensinamentos do Cristo,

em escalando a montanha!...

— Não mires, apenas, a superioridade manifesta daqueles a quem

consagras admiração e respeito. Não te esqueças de imitá-los afeiçoando-te

aos serviços sacrificiais a que se devotaram para alcançar os divinos fins.

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AMOR FRATERNAL

“Permaneça o amor fraternal.” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 13,

VERSÍCULO 1.)

As afeições familiares, os laços consangüíneos, as simpatias naturais

podem ser manifestações muito santas da alma, quando a criatura as eleva no

altar do sentimento superior, contudo, é razoável que o espírito não venha a

cair sob o peso das inclinações próprias.

O equilíbrio é a posição ideal.

Por demasia de cuidado, inúmeros pais prejudicam os filhos.

Por excesso de preocupações, muitos cônjuges descem às cavernas do

desespero, defrontados pelos insaciáveis monstros do ciúme que lhes

aniquilam a felicidade.

Em razão da invigílância, belas amizades terminam em abismo de sombra.

O apelo evangélico, por isto mesmo, reveste-se de imensa importância.

A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as

almas.

O homem que se sente filho de Deus e sincero irmão das criaturas não é

vitima dos fantasmas do despeito, da inveja, da ambição, da desconfiança. Os

que se amam fraternalmente alegram-se com o júbilo dos companheiros;

sentem-se felizes com a ventura que lhes visita os semelhantes.

As afeições violentas, comumente conhecidas na Terra, passam

vulcânicas e inúteis.

Na teia das reencarnações, os títulos afetivos modificam-se

constantemente. É que o amor fraternal, sublime e puro, representando o

objetivo supremo do esforço de compreensão, é a luz imperecível que

sobreviverá no caminho eterno.

145

142

REVIDES

“Na verdade é já realmente uma falta entre vós terdes demandas uns

contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? por que não sofreis,

antes, o dano?” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS,

CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 7.)

Nem sempre as demandas permanecem nos tribunais judiciários, no

terreno escandaloso dos processos públicos.

Expressam-se em muito maior escala no centro dos lares e das

instituições. AI se movimentam, através do desregramento mental e da

conversação em surdina, no lodo invisível do ódio que asfixia corações e anula

energias. Se vivem, contudo, é porque componentes da família ou da

associação as alimentam com o óleo da animosidade recalcada.

Aprendizes inúmeros se tornam vitimas de semelhantes perturbações, por

se acastelarem nos falsos princípios regenerativos.

De modo geral, grande parte prefere a atitude agressiva, de espada às

mãos, esgrimindo com calor na ilusória suposição de operar o conserto do próximo.

Prontos a protestar, a acusar e criticar nos grandes ruídos, costumam

esclarecer que servem à verdade. Por que motivo, porém, não exemplificam a

própria fé, suportando a injustiça e o dano heroicamente, no silêncio da alma

fiel, antes da opção por qualquer revide?

Quantos lares seriam felizes, quantas instituições se converteriam em

mananciais permanentes de luz se os crentes do Evangelho aprendessem a

calar para falar, a seu tempo, com proveito?

Não nos referimos aqui aos homens vulgares e, sim, aos discípulos de

Jesus.

Quanto lucrará o mundo, quando o seguidor do Cristo se sentir venturoso

em ser mero instrumento do bem nas Divinas Mãos, esquecendo o velho propósito

de ser orientador arbitrário do Serviço Celeste?

146

143

NÃO TIRANIZES

“E, com muitas parábolas semelhantes, lhes dirigia a palavra, segundo

o que podiam compreender.” (MARCOS, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO

33.)

Na difusão dos ensinamentos evangélicos, de quando em quando

encontramos pregadores rigorosos e exigentes.

Semelhante anomalia não se verifica apenas no quadro geral do serviço.

Na esfera particular, não raro, surgem amigos severos e fervorosos que reclamam

desesperadamente a sintonia dos afeiçoados com os princípios religiosos

que abraçaram.

Discussões acerbas se levantam, tocando a azedia venenosa.

Belas expressões afetivas são abaladas nos fundamentos, por ofensas

indébitas.

Contudo, se o discípulo permanece realmente possuído pelo propósito de

união com o Mestre, tal atitude é fácil de corrigir.

O Senhor somente ensinava aos que o ouviam, “segundo o que podiam

compreender”.

Aos apóstolos conferiu instruções de elevado valor símbológico, enquanto

que à multidão transmitiu verdades fundamentais, através de contos simples. A

conversação dEle diferia, de conformidade com as necessidades espirituais

daqueles que o rodeavam. Jamais violentou a posição natural de ninguém.

Se estás em serviço do Senhor, considera os imperativos da iluminação,

porque o mundo precisa de servidores cristãos e, não, de tiranos doutrinários.

147

144

FAZEI PREPARATIVOS

“Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí, fazei

preparativos.” — Jesus. (LUCAS, CAPÍTULO 22, VERSÍCULO 12.)

Aquele cenáculo mobilado, a que se referiu Jesus, é perfeito símbolo do

aposento interno da alma.

À face da natureza que oferece lições valiosas em todos os planos de

atividade, observemos que o homem aguarda cada dia, renovando sempre as

disposições do lar. Aqui, varrem-se detritos; acolá, ornamentam-se paredes. Os

móveis, quase sempre os mesmos, passam por processos de limpeza diária.

O homem consciencioso reconhecerá que a maioria das ações, na

experiência física, encerra-se em preparação incessante para a vida com que

será defrontado, além da morte do corpo.

Se isto ocorre com a feição material da vida terrena, que não dizer do

esforço propriamente espiritual para o caminho eterno?

Certamente, numerosas criaturas atravessarão o dia à maneira do

irracional, em movimentos quase mecânicos. Erguem-se do leito, alimentam o

corpo perecível, absorvem a atenção com bagatelas e dormem de novo, cada

noite.

O aprendiz sincero, todavia, sabe que atingiu o cenáculo simbólico do

coração. Embora não possa mudar de idéias diariamente, qual acontece aos

móveis da residência, dá-lhes novo brilho a cada instante, sublimando os

impulsos, renovando concepções, elevando desejos e melhorando sempre as

qualidades estimáveis que já possui.

O homem simplesmente terrestre mantém-se na expectativa da morte

orgânica; o homem espiritual espera o Mestre Divino, para consolidar a

redenção própria.

Não abandoneis, portanto, o cenáculo da fé e, aí dentro, fazei preparativos

em constante ascensão.

148

145

OBREIROS

“Procura apresentar-te a Deus aprovado como obreiro que não tem

de que se envergonhar.” — Paulo. (2ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, CAPÍTULO

2, VERSÍCULO 15.)

Desde tempos imemoriais, idealizam as criaturas mil modos de se

apresentarem a Deus e aos seus mensageiros.

Muita gente preocupa-se durante a existência inteira em como talhar as

vestimentas para o concerto celestial, enquanto crentes inumeráveis anotam

cuidadosamente as mágoas terrestres, no propósito de desfiá-las em rosário

imenso de queixas, diante do Senhor, à busca de destaque no mundo futuro.

A maioria dos devotos deseja iniciar a viagem, além da morte, com títulos

de santos; todavia, não há maneira mais acertada de refletirmos em nossa

posição, com verdade, além daquela em que nos enquadramos na condição de

trabalhadores.

O mundo é departamento da Casa Divina.

Cátedras e enxadas não constituem elementos de divisão humilhante, e

sim degraus hierárquicos para cooperadores diferentes.

O caminho edificante desdobra-se para todos.

Aqui, abrem-se covas na terra produtiva, ali, manuseiam-se livros para o

sulco da inteligência, mas o espírito é o fundamento vivo do serviço manifestado.

Classificam-se os trabalhadores em posições diferentes, contudo, o campo

é um só.

No centro das realidades, pois, não se preocupe ninguém com os títulos

condecorativos, mesmo porque o trabalho é complexo, em todos os setores de

ação dignificante, e o resultado é sempre fruto da cooperação bem vivida. Eis o

motivo pelo qual julgamos com Paulo que a maior vitória do discípulo será a de

apresentar-se, um dia, ao Senhor, como obreiro aprovado.

149

146

SEGUIR A VERDADE

“Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele

que é a cabeça, Cristo.” — Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO 4, VERSÍCULO

15.)

Porque a verdade participa igualmente da condição relativa, inúmeros

pensadores enveredam pelo negativismo absoluto, convertendo o materialismo

em zona de extrema perturbação intelectual.

Como interpretar a verdade, se ela parece tão esquiva aos métodos de

apreciação comum?

Alardeando superioridade, o cientista oficioso assevera que o real não vai

além das formas organizadas, à maneira do fanático que só admite revelação

divina no círculo dos dogmas que abraça.

Paulo, no entanto, oferece indicação proveitosa aos que desejam penetrar

o domínio do mais alto conhecimento.

É necessário seguir a verdade em caridade, sem o propósito de encarcerála

na gaiola da definição limitada.

Convertamos em amor os ensinamentos nobres recebidos. Verdade

somada com caridade apresenta o progresso espiritual por resultante do

esforço. Sem que atendamos a semelhante imperativo, seremos surpreendidos

por vigorosos obstáculos no caminho da sublimação.

Necessitamos crescer em tudo o que a experiência nos ofereça de útil e

belo para a eternidade, com o Cristo, mas não conseguiremos a realização,

sem transformarmos, diariamente, a pequena parcela de verdade possuída por

nós, em amor aos semelhantes.

A compreensão pede realidade, tanto quanto a realidade pede

compreensão.

Sejamos, pois, verdadeiros, mas sejamos bons.

150

147

NÃO É SÓ

“Mas agora despojai-vos também de todas estas coisas: da ira, da cólera,

da malícia, da maledicência, das palavras torpes de vossa boca.” —

Paulo. (COLOSSENSES, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 8.)

Na atividade religiosa, muita gente crê na reforma da personalidade, desde

que o discípulo da fé se desligue de certos bens materiais.

Um homem que distribua grande quantidade de rouparia e alimento entre

os necessitados é tido à conta de renovado no Senhor; contudo, isto constitui

modalidade da verdadeira transformação, sem representar o conjunto das

características que lhe dizem respeito.

Há criaturas que se despojam de dinheiro em favor da beneficência, mas

não cedem no terreno da opinião pessoal, no esforço sublime de renunciação.

Enormes fileiras de aprendizes proclamam-se dispostas à prática do bem;

no entanto, exigem que os serviços de benemerência se executem conforme

os seus caprichos e não segundo Jesus.

Em toda parte, ouvem-se fervorosas promessas de fidelidade ao Cristo;

todavia, ninguém conseguirá semelhante realização sem observar o conjunto

das obrigações necessárias.

Pequeno erro de cálculo pode trair o equilíbrio de um edifício inteiro. Eis

por que em se despojando alguém de algum patrimônio material, a benefício

dos outros, não se esqueça também de desintegrar, em derredor dos próprios

passos, os velhos envoltórios do rancor, do capricho doentio, do julgamento

apressado ou da leviandade criminosa, dentro dos quais afivelamos pesada

máscara ao rosto, de modo a parecer o que não somos.

151

148

CEIFEIROS

“Então disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas

poucos os ceifeiros.” — (MATEUS, CAPÍTULO 9, VERSÍCULO 37.)

O ensinamento aqui não se refere à colheita espiritual dos grandes

períodos de renovação no tempo, mas sim à seara de consolações que o

Evangelho envolve em si mesmo.

Naquela hora permanecia em torno do Mestre a turba de corações

desalentados e errantes que, segundo a narrativa de Mateus, se assemelhava

a rebanho sem pastor. Eram fisionomias acabrunhadas e olhos súplices em

penoso abatimento.

Foi então que Jesus ergueu o símbolo da seara realmente grande, ladeada

porém de raros ceifeiros.

É que o Evangelho permanece no mundo pôr bendita messe celestial

destinada a enriquecer o espírito humano, entretanto, a percentagem de

criaturas dispostas ao trabalho da ceifa é muito reduzida. A maioria aguarda o

trigo beneficiado ou o pão completo para a alimentação própria.

Raríssímos são aqueles que enfrentam os temporais, o rigor do trabalho e

as perigosas surpresas que o esforço de colher reclama do trabalhador

devotado e fiel.

Em razão disto, a multidão dos desesperados e desiludidos continua

passando no mundo, em fileira crescente, através dos séculos.

Os abnegados operários do Cristo prosseguem onerados em virtude de

tantos famintos que cercam a seara, sem a precisa coragem de buscarem por

si o alimento da vida eterna. E esse quadro persistirá na Terra, até que os bons

consumidores aprendam a ser também bons ceifeiros.

152

149

CRER EM VÃO

“Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho

anunciado, se não é que crestes em vão.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS

CORÍNTIOS, CAPÍTULO 15, VERSÍCULO 2.)

Qual acontece a muitas flores que não atingirão a frutescência na estação

adequada, existem inúmeras almas, nos serviços da crença, que não alcançam

em longos períodos de luta terrestre a iluminação de si mesmas, por haverem

crido em vão nos trilhos da vida.

Paulo de Tarso foi muito explícito quando asseverou aos coríntios que eles

seriam salvos se retivessem o Evangelho.

A revelação de Jesus é campo extenso onde há lugar para todos os

homens, em nos referindo aos serviços diversos.

Muitos chegam à obra, todavia, não passam além da letra, cooperando nas

organizações puramente intelectuais; uns improvisam sistemas teológicos,

outros contribuem na estatística e outros ainda se preocupam com a

localização histórica do Senhor.

É imperioso reconhecer que toda tarefa digna se reveste de utilidade a seu

tempo, de conformidade com os sentimentos do colaborador; contudo, no que

condiz com a vida eterna que o Cristianismo nos desdobra ao olhar, é

imprescindível retermos em nós o ensinamento do Mestre, com vistas à

necessária aplicação.

Cada aprendiz há de ser uma página viva do livro que Jesus está

escrevendo com o material evolutivo da Terra. O discípulo gravará o Evangelho

na própria existência ou então se preparará ao recomeço do aprendizado,

porqüanto, sem fixar em si mesmo a luz da lição, debalde terá crido.

153

150

É O MESMO

“Pois o mesmo Pai vos ama.” —Jesus. (JOÃO, CAPÍTULO 16,

VERSÍCULO 27.)

Ninguém despreze os valores da confiança.

Servo algum fuja ao benefício da cooperação. Quem hoje pode dar algo de

útil, precisará possivelmente amanhã de alguma colaboração essencial.

Todavia, por enriquecer-se alguém de fraternidade e fé, não olvide a

necessidade do desenvolvimento infinito no bem.

Os obreiros sinceros do Evangelho devem operar contra o favoritismo

pernicioso.

A lavoura divina não possui privilegiados. Em suas seções numerosas, há

trabalhadores mais devotados e mais fiéis; contudo, esses não devem ser

categorizados à conta de fetiches e, sim, respeitados e imitados por simbolos

de lealdade e serviço.

Criar ídolos humanos é pior que levantar estátuas destinadas à adoração.

O mármore é impassível mas o companheiro é nosso próximo de cuja condição

ninguém deveria abusar.

Pague cada homem o tributo de esforço próprio à vida.

O Supremo Senhor espera de nós apenas isto, a fim de converter-nos em

colaboradores diretos.

O próprio Cristo afirmou que o mesmo Pai que o distingue ama igualmente

a Humanidade.

O Deus que inspira o médico é o que ampara o doente.

Não importa que asiáticos e europeus o designem sob nomes diferentes.

Invariavelmente é o mesmo Pai.

Conservemos, pois, a luz da consolação, a bênção do concurso fraterno, a

confiança em nossos Maiores e a certeza na proteção deles; contudo, não

olvidemos o dever natural de seguir para o Alto, utilizando os próprios pés.

154

151

NINGUÉM SE RETIRA

“Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? tu

tens as palavras da vida eterna.” — (JOÃO, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 68.)

A medida que o Mestre revelava novas características de sua doutrina de

amor, os seguidores, então numerosos, penetravam mais vastos círculos no

domínio da responsabilidade.

Muitos deles, em razão disso, receosos do dever que lhes caberia,

afastaram-se, discretos, do cenáculo acolhedor de Cafarnaum.

O Cristo, entretanto, consciente das obrigações de ordem divina, longe de

violar os princípios da liberdade, reuniu a pequena assembléia que restava e

interrogou aos discípulos:

- Também vós quereis retirar-vos?

- Foi nessa circunstância que Pedro emitiu a resposta sábia, para sempre

gravada no edifício cristão.

Realmente, quem começa o serviço de espiritualidade superior com Jesus

jamais sentirá emoções idênticas, a distância dEle. A sublime experiência, por

vezes, pode ser interrompida, mas nunca aniquilada. Compelido em várias

ocasiões por impositivos da zona física, o companheiro do Evangelho sofrerá

acidentes espirituais submetendo-se a ligeiro estacionamento, contudo, não

perderá definitivamente o caminho.

Quem comunga efetivamente no banquete da revelação cristã, em tempo

algum olvidará o Mestre amoroso que lhe endereçou o convite.

Por este motivo, Simão Pedro perguntou com muita propriedade:

— Senhor, para quem iremos nós?

É que o mundo permanece repleto de filósofos, cientistas e reformadores

de toda espécie, sem dúvida respeitáveis pelas concepções humanas

avançadas de que se fazem pregoeiros; na maioria das situações, todavia, não

passam de meros expositores de palavras transitórias, com reflexos em

experiências efêmeras. Cristo, porém, é o Salvador das almas e o Mestre dos

corações e, com Ele, encontramos os roteiros da vida eterna.

155

152

DE QUE MODO?

“Que quereis? irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de

mansidão?” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 4,

VERSÍCULO 21.)

Por vezes, o apóstolo dos gentios, inflamado de sublimes inspirações,

trouxe aos companheiros interrogativas diretas, quase cruéis, se consideradas

tão-somente em sentido literal, mas portadoras de realidade admirável, quando

vistas através da luz imperecível.

Em todas as casas cristãs vibram irradiações de amor e paz. Jesus nunca

deixou os seguidores fiéis esquecidos, por mais separados caminhem no

terreno das interpretações.

Emissários abnegados do devotamento celestial espalham socorro

santificante em todas as épocas da Humanidade. A História é demonstração

dessa verdade inconteste.

A nenhum século faltaram missionários legítimos do bem.

Promessas e revelações do Senhor chegam aos portos do conhecimento,

através de mil modos.

Os aprendizes que ingressaram nas fileiras evangélicas, portanto, não

podem alegar ignorância de objetivo a fim de esconderem as próprias falhas.

Cada qual, no lugar que lhe compete, já recebeu o programa de serviço que lhe

cabe executar, cada dia. Se fogem ao trabalho e se escapam ao testemunho,

devem semelhante anomalia à própria vontade paralítica.

Eis por que é possível surja um momento em que o discípulo ocioso e

pedinchão poderá ouvir o Mestre, sem intermediários, exclamando de igual

modo:

— “Que quereis? irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de

mansidão?”

156

153

NÃO TROPECEMOS

“Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de

dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo.” — (JOÃO, CAPÍTULO 11,

VERSÍCULO 9.)

O conteúdo da interrogativa do Mestre tem vasta significação para os

discípulos da atualidade.

“Não há doze horas no dia?”

Conscientemente, cada qual deveria inquirir de si mesmo em que estará

aplicando tão grande cabedal de tempo.

Fala-se com ênfase do problema de desempregados na época moderna.

Entretanto, qualquer crise nesse sentido não resulta da carência de trabalho e,

sim, da ausência de boa-vontade individual.

Um inquérito minucioso nesse particular revelaria a realidade. Muita gente

permanece sem atividade por revolta contra o gênero de serviço que lhe

éoferecido ou por inconformação, em face dos salários.

Sobrevém, de imediato, o desequilíbrio.

A ociosidade dos trabalhadores provoca a vigilância dos mordomos e as

leis transitórias do mundo refletem animosidade e desconfiança.

Se os braços estacionam, as oficinas adormecem. Ocorre o mesmo nas

esferas de ação espiritual. Quantos aprendizes abandonam seus postos, alegando

angústia de tempo? quantos não se transferem para a zona da preguiça,

porque aconteceu isso ou aquilo, em pleno desacordo com os princípios superiores

que abraça?

E, por bagatelas, grande número de servidores vigorosos procuram a

retaguarda cheia de sombras. Mas aquele que conserva acuidade auditiva

ainda escuta com proveito a palavra do Senhor:

- Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia não tropeça.”

157

154

OS CONTRÁRIOS

“Que diremos pois à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem

será contra nós?” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 31.)

A interrogação de Paulo ainda representa precioso tema para a

comunidade evangélica dos dias que correm.

Perante nosso esforço desdobra-se campo imenso, onde o Mestre nos

aguarda a colaboração resoluta.

Muitas vezes, contudo, grande número de companheiros prefere

abandonar a construção para disputar com malfeitores do caminho.

Elementos adversos nos cercam em toda parte.

Obstáculos inesperados se desenham ante os nossos olhos aflitos, velhos

amigos deixam-nos a sós, situações favoráveis, até ontem, são metamorfoseadas

em hostilidades cruéis.

Enormes fileiras de operários fogem ao perigo, temendo a borrasca e

esquecendo o testemunho.

Entretanto, não fomos situados na obra a fim de nos rendermos ao pânico,

nem o Mestre nos enviou ao trabalho com o objetivo de confundir-nos através

de experiências dos círculos exteriores.

Fomos chamados a construir.

Naturalmente, deveremos contar com as mil eventualidades de cada dia,

suscetíveis de nascer das forças contrárias, dificultando-nos a edificação;

nosso dia de luta será assediado pela perturbação e pela fadiga. Isto é

inevitável num mundo que tudo espera do cristão genuíno.

Em razão de semelhante imperativo, entre ameaças e incompreensões da

senda, cabe-nos indagar, bem-humorados, à maneira do apóstolo aos gentios:

— “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

158

155

CONTRA A INSENSATEZ

“Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis

agora pela carne?” — Paulo. (GÁLATAS, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 3.)

Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa

compreensão com que iniciam o esforço na região superior, marchando em

sentido inverso para os círculos da inferioridade. Dão, assim, a idéia de

homens que partissem à procura de ouro, contentando-se, em seguida, com a

lama do charco.

Semelhantes fracassos se fazem comuns, nos vários setores do

pensamento religioso.

Observamos enfermos que se dirigem à espiritualidade elevada,

alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas intenções; conseguida a

cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as vantagens obtidas na

aquisição do dinheiro fácil. Alguns, depois de auxiliados por amigos das esferas

sublimadas, em transcendentes questões da vida eterna, pretendem atribuir a

esses mesmos benfeitores a função de policiais humanos, na pesquisa de

objetivos menos dignos.

Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos do bem; contudo, eis que

aparecem horas menos favoráveis e se entregam, inertes, ao desalento, reclamando

prêmio aos minguados anos terrestres em que tentaram servir na

lavoura do Mestre Divino e plenamente despreocupados dos períodos

multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor.

Tais anomalias espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos

discípulos procedem dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa.

Trabalhemos, pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que

prossigamos na tarefa começada, em companhia da humildade, portadora de

luz imperecível.

159

156

CÉU COM CÉU

“Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a

ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam.”

— Jesus. (MATEUS, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 20.)

Em todas as fileiras cristãs se misturam ambiciosos de recompensa que

presumem encontrar, nessa declaração de Jesus, positivo recurso de vingança

contra todos aqueles que, pelo trabalho e pelo devotamento, receberam

maiores possibilidades na Terra.

O que lhes parece confiança em Deus é Ódio disfarçado aos semelhantes.

Por não poderem açambarcar os recursos financeiros à frente dos olhos,

lançam pensamentos de critica e rebeldia, aguardando o paraíso para a desforra

desejada.

Contudo, não será por entregar o corpo ao laboratório da natureza que a

personalidade humana encontrará, automaticamente, os planos da Beleza

Resplandecente.

Certo, brilham santuários imperecíveis nas esferas sublimadas, mas é

imperioso considerar que, nas regiões imediatas à atividade humana, ainda

encontramos imensa cópia de traças e ladrões, nas linhas evolutivas que se

estendem além do sepulcro.

Quando o Mestre nos recomendou ajuntássemos tesouros no céu,

aconselhava-nos a dilatar os valores do bem, na paz do coração. O homem

que adquire fé e conhecimento, virtude e iluminação, nos recessos divinos da

consciência, possui o roteiro celeste. Quem aplica os princípios redentores que

abraça, acaba conquistando essa carta preciosa; e quem trabalha diariamente

na prática do bem, vive amontoando riquezas nos Cimos da Vida.

Ninguém se engane, nesse sentido.

Além da Terra, fulgem bênçãos do Senhor nos Páramos Celestiais,

entretanto, é necessário possuir luz para percebê-las.

É da Lei que o Divino se identifique com o que seja Divino, porque

ninguém contemplará o céu se acolhe o inferno no coração.

160

157

O FILHO EGOÍSTA

“Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo, há tantos anos,

sem jamais transgredir um mandamento teu, e nunca me deste um cabrito

para alegrar-me com os meus amigos.” — (LUCAS, CAPÍTULO 15,

VERSÍCULO 29.)

A parábola não apresenta somente o filho pródigo. Mais aguçada atenção

e encontraremos o filho egoísta.

O ensinamento velado do Mestre demonstra dois extremos da ingratidão

filial. Um reside no esbanjamento; o outro, na avareza. São as duas

extremidades que fecham o círculo da incompreensão humana.

De maneira geral, os crentes apenas enxergaram o filho que abandonou o

lar paterno, a fim de viver nas estroinices do escândalo, tornando-se credor de

todas as punições; e raros aprendizes conseguiram fixar o pensamento na

conduta condenável do irmão que permanecia sob o teto familiar, não menos

passível de repreensão.

Observando a generosidade paterna, os sentimentos inferiores que o

animam sobem à tona e ei-lo na demonstração de sovinice.

Contraria-o a vibração de amor reinante no ambiente doméstico; alega,

como autêntico preguiçoso, os anos de serviço em família; invoca, na posição

de crente vaidoso, a suposta observância da Lei Divina e desrespeita o genitor,

incapaz de partilhar-lhe o justo contentamento.

Esse tipo de homem egoísta é muito vulgar nos quadros da vida. Ante o

bem-estar e a alegria dos outros, revolta-se e sofre, através da secura que o

aniquila e do ciúme que o envenena.

Lendo a parábola com atenção, ignoramos qual dos filhos é o mais

infortunado, se o pródigo, se o egoísta, mas atrevemo-nos a crer na imensa

infelicidade do segundo, porque o primeiro já possuía a bênção do remorso em

seu favor.

161

158

GOVERNO INTERNO

“Antes subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando

aos outros, eu mesmo não venha de algum modo a ficar reprovado.”

— Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 9,

VERSÍCULO 27.)

Efetivamente, o corpo é miniatura do Universo.

É imprescindível, portanto, saber governá-lo. Representação em material

terrestre da personalidade espiritual, é razoável esteja cada um atento às suas

disposições. Não é que a substância passiva haja adquirido poder superior ao

da vontade humana, todavia, é imperioso reconhecer que as tendências

inferiores procuram subtrair-nos o poder de domínio.

É indispensável esteja cada homem em dia com o governo de si mesmo.

A vida interior, de alguma sorte, assemelha-se à vida de um Estado. O

espírito assume a auto-chefia, auxiliado por vários ministérios, quais os da

reflexão, do conhecimento, da compreensão, do respeito e da ordem. As idéias

diversas e simultâneas constituem apelos bons ou maus do parlamento íntimo.

Existem, no fundo de cada mente, extensas potencialidades de progresso e

sublimação, reclamando trabalho.

O governador supremo que é o espírito, no cosmo celular, redige leis

benfeitoras, mas nem sempre mobiliza os órgãos fiscalizadores da própria

vontade. E as zonas inferiores continuam em antigas desordens, não lhes

importando os decretos renovadores que não hostilizam, nem executam. Em se

verificando semelhante anomalia, passa o homem a ser um enigma vivo,

quando se não converte num cego ou num celerado.

Quem espera vida sã, sem autodisciplina, não se distancia muito do

desequilíbrio ruinoso ou total.

É necessário instalar o governo de nós mesmos em qualquer posição da

vida. O problema fundamental é de vontade forte para conosco, e de boavontade

para com os nossos irmãos.

162

159

A POSSE DO REINO

“Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer

na fé, e dizendo que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de

Deus.” — (ATOS, CAPÍTULO 14, VERSÍCULO 22.)

O Evangelho a ninguém engana, em seus ensinamentos.

É vulgar a preocupação dos crentes tentando subornar as forças divinas.

Não será, no entanto, ao preço de muitas missas, muitos hinos ou muitas sessões

psíquicas que o homem efetuará a sublime aquisição de espiritualidade

excelsa.

Naturalmente, toda prática edificante deve ser aproveitada por elemento de

auxilio, no entanto, compete a cada individualidade humana o esforço iluminativo.

A Boa Nova não distribui indulgências a preço do mundo e a criatura

encontra inúmeros caminhos para a ascensão.

Templos e instrutores se multiplicam e cada qual oferece parcelas de

socorro ou assistência, no serviço de orientação; contudo, a entrada e posse

na herança eterna se verificará através de justos testemunhos.

Isto não é acidental. É medida lógica e necessária.

Não se improvisam estátuas raras, sem golpes de escopro, como não se

colhe trigo sem campo lavrado.

Não poucos aprendizes costumam interpretar certas advertências do

Evangelho por excesso de exortação ao sofrimento, no entanto, o que lhes parece

obsessão pela dor é imperativo de educação da alma para a vida

imperecível.

Homem algum encontrará o estuário infinito das energias divinas, sem o

concurso das tribulações da Terra.

Personalidade sem luta, na Crosta Planetária, éalma estreita. Somente o

trabalho e o sacrifício, a dificuldade e o obstáculo, como elementos de progresso

e auto-superação, podem dar ao homem a verdadeira notícia de sua

grandeza.

163

160

A GRANDE LUTA

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim

contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas

deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares

celestiais.”- Paulo. (EFÉSIOS, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 12.)

Segundo nossas afirmativas reiteradas, a grande luta não reside no

combate com o sangue e a carne, propriamente, mas sim com as nossas

disposições espirituais inferiores.

Paulo de Tarso agiu divinamente inspirado, quando escreveu sua

recomendação aos companheiros de Éfeso.

O silencioso e incessante conflito entre os discípulos sinceros e as forças

da sombra está vinculado em nossa própria natureza, porqüanto nos

acumpliciávamos abertamente com o mal, em passado não remoto.

Temos sido declarados participantes das ações delituosas nos lugares

celestiais.

E, ainda hoje, entre os fluidos condensados da carne ou nas esferas que

lhes são próximas, agimos no serviço de auto-restauração em pleno paraíso.

A Terra é, igualmente, sublime degrau do Céu.

Quando alguém se reporta aos anjos caídos, os ouvintes humanos

guardam logo a impressão de um palácio soberbo e misterioso, de onde se

expulsam criaturas sábias e luminosas.

Não se verifica o mesmo, quando um homem culto se entrega ao

assassínio, à frente de uma universidade ou de um templo?

Geralmente o observador terrestre relaciona o crime, não se detendo,

porém, no exame do lugar sagrado e venerável em que se consumou.

A grande luta, a que o Apóstolo se refere, prossegue sem descanso.

As cidades e as edificações humanas são zonas celestiais. Nem elas e

nem as células orgânicas que nos servem, constituem os poderosos inimigos,

e, sim, as “hastes espirituais da maldade”, com as quais nos sintonizamos

através dos pontos inferiores que conservamos desesperadamente conosco,

vastas arregimentações de seres e pensamentos sombrios que obscurecem a

visão humana, e que operam com sutileza, de modo a não perderem os ativos

companheiros de ontem.

164

161

VÓS, QUE DIZEIS?

“E perguntou-lhes: E vós, quem dizeis que eu sou?” — (LUCAS,

CAPÍTULO 9, VERSÍCULO 20.)

Nas discussões propriamente do mundo, existirão sempre escritores e

cientistas dispostos a examinar o Mestre, na pauta de suas impressões

puramente intelectuais, sob os pruridos da presunção humana.

Esses amigos, porém, não tiveram contacto com a alma do Evangelho, não

superaram os círculos acadêmicos e nem arriscam títulos convencionais, numa

excursão desapaixonada através da revelação divina; naturalmente, portanto,

continuarão enganados pela vaidade, pelo preconceito ou pelo temor que lhes

são peculiares ao transitório modo de ser, até que se lhes renove a experiência

nas estradas da vida imperecível.

Entretanto, na intimidade dos aprendizes sinceros e fiéis, a pergunta de

Jesus reveste-se de singular importância.

Cada um de nós deve possuir opiniões próprias, relativamente à sabedoria

e à misericórdia com que temos sido agraciados.

Palestras vãs, acerca do Cristo, quadram bem apenas a espíritos

desarvorados no caminho da vida. A nós outros, porém, compete o testemunho

da intimidade com o Senhor, porque somos usufrutuários diretos de sua infinita

bondade. Meditemos e renovemos aspirações em seu Evangelho de Amor,

compreendendo a impropriedade de mútuas interpelações, com respeito ao

Mestre, porque a interrogação sublime vem dEle a cada um de nós e todos

necessitamos conhecê-lo, de modo a assinalá-lo em nossas tarefas de cada

dia.

165

162

MANIFESTAÇÕES ESPIRITUAIS

“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for

útil.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, CAPÍTULO 12, VERSÍCULO

7.)

Com a revivescência do Cristianismo puro, nos agrupamentos do

Espiritismo com Jesus, verifica-se idêntica preocupação às que torturavam os

aprendizes dos tempos apostólicos, no que se refere à mediunidade.

A maioria dos trabalhadores na evangelização inquieta-se pelo

desenvolvimento imediato de faculdades incipientes.

Em determinados centros de serviço, exigem-se realizações superiores às

possibilidades de que dispõem; em outros, sonha-se com fenômenos de

grande alcance.

O problema, no entanto, não se resume a aquisições de exterior.

Enriqueça o homem a própria iluminação Intima, intensifique o poder

espiritual, através do conhecimento e do amor, e entrará na posse de tesouros

eternos, de modo natural.

Muitos aprendizes desejariam ser grandes videntes ou admiráveis

reveladores, embalados na perspectiva de superioridade, mas não se

abalançam nem mesmo a meditar no suor da conquista sublime.

Inclinam-se aos proventos, mas não cogitam do esforço. Nesse sentido, é

interessante recordar que Simão Pedro, cujo espírito se sentia tão bem com o

Mestre glorioso no Tabor, não suportou as angústias do Amigo flagelado no

Calvário.

É justo que os discípulos pretendam o engrandecimento espiritual, todavia,

quem possua faculdade humilde não a despreze porque o irmão mais próximo

seja detentor de qualidades mais expressivas. Trabalhe cada um com o

material que lhe foi confiado, convicto de que o Supremo Senhor não atende,

no problema de manifestações espirituais, conforme o capricho humano, mas,

sim, de acordo com a utilidade geral.

166

163

AGRADECER

“E sede agradecidos.” — Paulo. (COLOSSENSES, CAPÍTULO 3,

VERSÍCULO 15.)

É curioso verificar que a multidão dos aprendizes está sempre interessada

em receber graças, entretanto, é raro encontrar alguém com a disposição de

ministrá-las.

Os recursos espirituais, todavia, em sua movimentação comum, deveriam

obedecer ao mesmo sistema aplicado às providências de ordem material.

No capitulo de bênçãos da alma, não se deve receber e gastar,

insensatamente, mas recorrer ao critério da prudência e da retidão, para que as

possibilidades não sejam absorvidas pela desordem e pela injustiça.

É por isso que, em suas instruções aos cristãos de Colossos, recomenda o

apóstolo que sejamos agradecidos.

Entre os discípulos sinceros, não se justifica o velho hábito de manifestar

reconhecimento em frases bombásticas e laudatórias. Na comunidade dos trabalhadores

fiéis a Jesus, agradecer significa aplicar proveitosamente as

dádivas recebidas, tanto ao próximo, quanto a si mesmo.

Para os pais amorosos, o melhor agradecimento dos filhos consiste na

elevada compreensão do trabalho e da vida, de que oferecem testemunho.

Manifestando gratidão ao Cristo, os apóstolos lhe foram leais até ao último

sacrifício; Paulo de Tarso recebe o apelo do Mestre e, em sinal de alegria e de

amor, serve à Causa Divina, através de sofrimentos inomináveis, por mais de

trinta anos sucessivos.

Agradecer não será tão-somente problema de palavras brilhantes; é sentir

a grandeza dos gestos, a luz dos benefícios, a generosidade da confiança e

corresponder, espontaneamente, estendendo aos outros os tesouros da vida.

167

164

O DIABO

“Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós, os doze? e um de vós é

diabo.” — (JOÃO, CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 70.)

Quando a teologia se reporta ao diabo, o crente imagina, de imediato, o

senhor absoluto do mal, dominando num inferno sem-fim.

Na concepção do aprendiz, a região amaldiçoada localiza-se em esfera

distante, no seio de tormentosas trevas...

Sim, as zonas purgatoriais são inúmeras e sombrias, terríveis e dolorosas,

entretanto, consoante a afirmativa do próprio Jesus, o diabo partilhava os

serviços apostólicos, permanecia junto dos aprendizes e um deles se

constituíra em representação do próprio gênio infernal. Basta isto para que nos

informemos de que o termo “diabo” não indicava, no conceito do Mestre, um

gigante de perversidade, poderoso e eterno, no espaço e no tempo. Designa o

próprio homem, quando algemado às torpitudes do sentimento inferior.

Daí concluirmos que cada criatura humana apresenta certa percentagem

de expressão diabólica na parte inferior da personalidade.

Satanás simbolizará então a força contrária ao bem.

Quando o homem o descobre, no vasto mundo de si mesmo, compreende

o mal, dá-lhe combate, evita o inferno íntimo e desenvolve as qualidades

divinas que o elevam à espiritualidade superior.

Grandes multidões mergulham em desesperas seculares, porque não

conseguiram ainda identificar semelhante verdade.

E, comentando esta passagem de João, somos compelidos a ponderar: —

“Se, entre os doze apóstolos, um havia que se convertera em diabo, não

obstante a missão divina do círculo que se destinava à transformação do

mundo, quantos existirão em cada grupo de homens comuns na Terra?”

168

165

FALSOS DISCURSOS

“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganandovos

com falsos discursos.” — (TIAGO. CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 22.)

Nunca é demasiado comentar a importância e o caráter sagrado da

palavra.

O próprio Evangelho assevera que no princípio era o Verbo, e quem

examine atentamente a posição atual do mundo reconhecerá que todas as

situações difíceis se originam do poder verbalista mal aplicado.

Falsos discursos enganaram indivíduos, famílias e nações. Acreditaram

alguns em promessas vãs, outros em teorias falaciosas, outros, ainda, em

perspectivas de liberdade sem obrigações. E raças, agrupamentos e criaturas,

identificando a ilusão, atritam-se, mutuamente, procurando a paternidade das

culpas.

Muito sangue e muita lágrima tem custado a criação do verbo humano.

Impossível, por agora, computar esse preço doloroso ou determinar quanto

tempo se fará necessário ao resgate preciso.

No turbilhão de lutas, todavia, o amigo do Cristo pode valer-se do tesouro

evangélico, em proveito de sua esfera individual.

Cumprir a palavra do Mestre em nós é o programa divino. Sem a execução

desse plano de salvação, os demais serviços sob nossa responsabilidade

Constituirão sublimada teologia, raciocínios brilhantes, magnífica literatura,

muita admiração e respeito do campo inferior do mundo, mas nunca a

realização necessária.

Eis o motivo pelo qual é sempre perigoso estacionar, no caminho, a ouvir

quem foge à realidade de nossos deveres.

169

166

CURA DO ÓDIO

“Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver

sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de

fogo sobre a sua cabeça.” — Paulo. (ROMANOS, 12, VERSÍCULO 20.)

O homem, geralmente, quando decidido ao serviço do bem, encontra

fileiras de adversários gratuitos por onde passe, qual ocorre à claridade invariavelmente

assediada pelo antagonismo das sombras.

Às vezes, porém, seja por equívocos do passado ou por incompreensões

do presente, é defrontado por inimigos mais fortes que se transformam em

constante ameaça à sua tranqüilidade.

Contar com inimigo desse jaez é padecer dolorosa enfermidade no íntimo,

quando a criatura ainda não se afeiçoou a experiências vivas no Evangelho.

Quase sempre, o aprendiz de boa-vontade desenvolve o máximo das

próprias forças a favor da reconciliação; no entanto, o mais amplo esforço parece

baldado. A impenetrabilidade caracteriza o coração do outro e os

melhores gestos de amor passam por ele despercebidos.

Contra essa situação, todavia, o Livro Divino oferece receita salutar. Não

convém agravar atritos, desenvolver discussões e muito menos desfazer-se a

criatura bem-intencionada em gestos bajulatórios. Espere-se pela oportunidade

de manifestar o bem.

Desde o minuto em que o ofendido esquece a dissensão e volta ao amor, o

serviço de Jesus é reatado; entretanto, a visão do ofensor é mais tardia e, em

muitas ocasiões, somente compreende a nova luz, quando essa se lhe

converte em vantagem ao círculo pessoal.

Um discípulo sincero do Cristo liberta-se facilmente dos laços inferiores,

mas o antagonista de ontem pode persistir muito tempo, no endurecimento do

coração. Eis o motivo pelo qual dar-lhe todo o bem, no momento oportuno, é

amontoar o fogo renovador sobre a sua cabeça, curando-lhe o ódio, cheio de

expressões infernais.

170

167

ENTENDIMENTO

“Transformai-vos pela renovação do vosso

entendimento.” — Paulo. (ROMANOS, CAPÍTULO 12,

VERSÍCULO 2.)

Quando nos reportamos ao problema da transformação espiritual, a

comunidade dos discípulos do Evangelho concorda conosco, quanto a

semelhante necessidade, mas nem todos demonstram perfeita compreensão

do assunto.

No fundo, todos anelam a modificação, no entanto, a maioria não aspira

senão à mudança de classificação convencional.

Os menos favorecidos pelo dinheiro buscam escalar o domínio das

possibilidades materiais, os detentores de tarefas humildes pleiteiam as

grandes posições e, num crescendo desconcertante, quase todos pretendem a

transformação indébita das oportunidades a que se ajustam, mergulhando na

desordem inquietante. A renovação indispensável não é a de plano exterior

flutuante.

Transformar-se-á o cristão devotado, não pelos sinais externos, e sim pelo

entendimento, dotando a própria mente de nova luz, em novas concepções.

Assim como qualquer trabalho terrestre pede a sincera aplicação dos

aprendizes que a ele se dedicam, o serviço de aprimoramento mental exige

constância de esforço no bem e no conhecimento.

Ainda aqui, é forçoso reconhecer que a disciplina entrará com fatores

decisivos.

Não te cristalizes, pois, em falsas noções que já te prejudicaram o dia de

ontem.

Repara a estrutura dos teus raciocínios de agora, ante as circunstâncias

que te rodeiam.

Pergunta a ti próprio quanto ganhaste no Evangelho para analisar

retamente esse ou aquele acontecimento de teu caminho. Faze isto e a

Bondade do Senhor te auxiliará na esclarecedora resposta a ti mesmo.

171

168

DE MADRUGADA

“E no primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro, de

madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra removida do sepulcro.” —

(JOÃO, CAPÍTULO 20, VERSÍCULO 1.)

Não devemos esquecer a circunstância em que Maria de Magdala recebe a

primeira mensagem da ressurreição do Mestre.

No seio de perturbações e desalentos da pequena comunidade, a grande

convertida não perde tempo em lamentações estéreis nem procura o sono do

esquecimento.

Os companheiros haviam quebrado o padrão de confiança. Entre o

remorso da própria defecção e a amargura pelo sacrifício do Salvador, cuja

lição sublime ainda não conseguiam apreender, confundiam-se em atitudes

negativas. Pensamentos contraditórios e angustiados azorragavam-lhes os

corações.

Madalena, contudo, rompe o véu de emoções dolorosas que lhe embarga

os passos. É imprescindível não sucumbir sob os fardos, transformando-os,

acima de tudo, em elemento básico na construção espiritual, e Maria resolve

não se acovardar, ante a dor. Porque o Cristo fora imolado na cruz, não seria

lícito condenar-lhe a memória bem-amada ao olvido ou à indiferença.

Vigilante, atenta a si mesma, antes de qualquer satisfação a velhos

convencionalismos, vai ao encontro do grande obstáculo que se constituía do

sepulcro, muito cedo, precedendo o despertar dos próprios amigos e encontra

a radiante resposta da Vida Eterna.

Rememorando esse acontecimento simbólico, recordemos nossas antigas

quedas, por havermos esquecido o “primeiro dia da semana”, trocando, em

todas as ocasiões, o “mais cedo” pelo “mais tarde”.

172

169

OLHOS

“Eles têm os olhos cheios de adultério.” — (2ª EPÍSTOLA A PEDRO,

CAPÍTULO 2, VERSÍCULO 14.)

“Olhos cheios de adultério” constituem rebelde enfermidade em nossas

lutas evolutivas.

Raros homens se utilizam dos olhos por lâmpadas abençoadas e poucos

os empregam como instrumentos vivos de trabalho santificante na vigília

necessária.

A maioria das criaturas trata de aproveitá-los, àfrente de quaisquer

paisagens, na identificação do que possuem de pior.

Homens comuns, habitualmente, pousam os olhos em determinada

situação apenas para fixarem os ângulos mais apreciáveis aos interesses

inferiores que lhes dizem respeito. Se atravessam um campo, não lhe anotam a

função benemérita nos quadros da vida coletiva e sim a possibilidade de lucros

pessoais e imediatos que lhes possa oferecer. Se enxergam a irmã afetuosa de

jornada humana, que segue não longe deles, premeditam, quase sempre, a

organização de laços menos dignos. Se encontram companheiros nos lugares

em que atendem a objetivos inferiores, não os reconhecem como possíveis

portadores de idéias elevadas, porém como concorrentes aos seus propósitos

menos felizes.

Ouçamos o brado de alarme de Simão Pedro, esquecendo o hábito de

analisar com o mal.

Olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas

mais diversas situações do caminho em que prosseguem.

Ninguém invoque a necessidade de vigilância para justificar as

manifestações de malícia. O homem cristianizado e prudente sabe contemplar

os problemas de si mesmo, contudo, nunca enxerga o mal onde o mal ainda

não existe.

173

170

A LÍNGUA

“A língua também é um fogo.” — (TIAGO, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO

6.)

A desídia das criaturas justifica as amargas considerações de Tiago, em

sua epístola aos companheiros.

O início de todas as hecatombes no Planeta localiza-se, quase sempre, no

mau uso da língua.

Ela está posta, entre os membros, qual leme de embarcação poderosa,

segundo lembra o grande apóstolo de Jerusalém.

Em sua potencialidade, permanecem sagrados recursos de criar, tanto

quanto o leme de proporções reduzidas foi instalado para conduzir.

A língua detém a centelha divina do verbo, mas o homem, de modo geral,

costuma desviá-la de sua função edificante, situando-a no pântano de cogitações

subalternas e, por isto mesmo, vemo-la à frente de quase todos os

desvarios da humanidade sofredora, cristalizada em propósitos mesquinhos, à

míngua de humildade e amor.

Nasce a guerra da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos. As

grandes tragédias sociais se originam, em muitas ocasiões, da conversação

dos sentimentos inferiores.

Poucas vezes a língua do homem há consolado e edificado os seus

irmãos; reconheçamos, porém, que a sua disposição é sempre ativa para

excitar, disputar, deprimir, enxovalhar, acusar e ferir desapiedadamente.

O discípulo sincero encontra nos apontamentos de Tiago uma tese

brilhante para todas as suas experiências. E, quando chegue a noite de cada

dia, é justo interrogue a si mesmo: — “Terei hoje utilizado a minha língua, como

Jesus utilizou a dele?”

174

171

LEI DO USO

“E quando estavam saciados, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei

os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.” — (JOÃO,

CAPÍTULO 6, VERSÍCULO 12.)

Observada a lei do uso, a miséria fugirá do caminho humano.

Contra o desperdício e a avareza é imperioso o trabalho de cada um,

porque, identificado o equilíbrio, o serviço da justiça económica estará

completo, desde que a boa-vontade habite com todos.

A passagem evangélica que descreve o trabalho de alimento à multidão

assinala significativas palavras do Senhor, quanto às sobras de pão,

transmitindo ensinamento de profunda importância aos discípulos.

Geralmente, o aprendiz sincero, nos primeiros deslumbramentos da fé

reveladora, deseja desfazer-se nas atividades de benemerência, sem base na

harmonia real.

Aí temos, indiscutivelmente, louvável impulso, mas, ainda mesmo na

distribuição dos bens materiais, é indispensável evitar o descontrole e o

excesso.

O Pai não suprime o inverno, porque alguns dos seus filhos se queixam do

frio, mas equilibra a situação, dando-lhes coberturas.

A caridade reclama entusiasmo, entretanto, exige também discernimento

generoso, que não incline o coração à secura.

Na grande assembléia de necessitados do monte, por certo, não faltariam

preguiçosos e perdulários, prontos a inutilizar a parte restante de pão, sem necessidade

justa. Jesus, porém, antes que os levianos se manifestassem,

recomendou claramente: — “Recolhei os pedaços que sobejaram, para que

nada se perca.” É que, em todas as coisas, o homem deverá reconhecer que o

uso é compreensível na Lei, desprezando o abuso que é veneno mortal nas

fontes da vida.

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172

QUE DESPERTAS?

“De sorte que transportavam os enfermos para as ruas e os

punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de

Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles.” — (ATOS,

CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 15.)

O conquistador de glórias sanguinolentas espalha terror e ruínas por onde

passa.

O político astucioso semeia a desconfiança e a dúvida.

O juiz parcial acorda o medo destrutivo.

O revoltado espalha nuvens de veneno sutil.

O maledicente injeta disposições malignas nos ouvintes, provocando o

verbo desvairado.

O caluniador estende fios de treva na senda que trilha.

O preguiçoso adormece as energias daqueles que encontra, inoculandolhes

fluidos entorpecentes.

O mentiroso deixa perturbação e insegurança, ao redor dos próprios

passos.

O galhofeiro, com a simples presença, inspira e encoraja histórias

hilariantes.

Todos nós, através dos pensamentos, das palavras e dos atos, criamos

atmosfera particular, que nos identifica aos olhos alheios.

A sombra de Simão Pedro, que aceitara o Cristo e a Ele se consagrara, era

disputada pelos sofredores e doentes que encontravam nela esperança e

alivio, reconforto e alegria.

Examina os assuntos e as atitudes que a tua presença desperta nos

outros. Com atenção, descobrirás a qualidade de tua sombra e, se te encontras

interessado em aquisição de valores iluminativos com Jesus, será fácil

descobrires as próprias deficiências e corrigi-las.

176

173

COMO TESTEMUNHAR

“Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e

ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e

Samaria, e até aos confins da Terra.” — (ATOS, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO

8.)

Realmente, Jesus é o Salvador do Mundo, mas não libertará a Terra do

império do mal, sem a contribuição daqueles que lhe procuram os recursos

salvadores.

O Divino Mestre, portanto, precisa de auxiliares com atribuições de

prepostos e testemunhas, em toda parte.

É impraticável o aprimoramento das almas, sem educação, e a educação

exige legiões de cooperadores.

Contudo, para desempenharmos a tarefa de representantes do Senhor, na

obra sublime de elevação, não basta o título externo, com vistas à escola religiosa.

Indispensável é a obtenção de bênçãos do Alto, por intermédio da

execução de nossos deveres, por mais difíceis e dolorosos.

Até agora, conhecemos à saciedade, na Terra, o poder de dominar,

governar, recusar e ferir, de fácil acesso no campo da vida.

Raras criaturas, porém, fazem por merecer de Jesus o poder celeste de

obedecer, ensinando, de amar, construindo para o bem, de esperar, trabalhando,

de ajudar desinteressadamente. Sem a recepção de semelhantes recursos,

que nos identificam com o Trabalhador Divino, e sem as possibilidades de refleti-

Lo para o próximo, em espírito e verdade, através do nosso esforço

constante de aplicação pessoal do Evangelho, podemos personificar

excelentes pregadores, brilhantes literatos ou notáveis simpatizantes da

doutrina cristã, mas não testemunhas dEle.

177

174

ESPIRITISMO NA FÉ

“E estes sinais seguirão aos que crerem; em meu nome expulsarão

os demônios; falarão novas línguas.” — Jesus. (MARCOS, CAPÍTULO 16,

VERSÍCULO 17.)

Permanecem as manifestações da vida espiritual em todos os

fundamentos da Revelação Divina, nos mais variados círculos da fé.

Espiritismo em si, portanto, deixa de ser novidade, dos tempos que correm,

para figurar na raiz de todas as escolas religiosas.

Moisés estabelece contacto com o plano espiritual no Sinai.

Jesus é visto pelos discípulos, no Tabor, ladeado por mortos ilustres.

O colégio apostólico relaciona-se com o Espírito do Mestre, após a morte

dEle, e consolida no mundo o Cristianismo redentor.

Os mártires dos circos abandonam a carne flagelada, contemplando visões

sublimes.

Maomé inicia a tarefa religiosa, ouvindo um mensageiro invisível.

Francisco de Assis percebe emissários do Céu que o exortam à renovação

da Igreja.

Lutero registra a presença de seres de outro mundo.

Teresa d’Avila recebe a visita de amigos desencarnados e chega a

inspecionar regiões purgatoriais, através do fenômeno mediúnico do

desdobramento.

Sinais do reino dos Espíritos seguirão os que crerem, afirma o Cristo. Em

todas as instituições da fé, há os que gozam, que aproveitam, que calculam,

que criticam, que fiscalizam... Esses são, ainda, candidatos à iluminação

definitiva e renovadora. Os que crêem, contudo, e aceitam as determinações

de serviço que fluem do Alto, serão seguidos pelas notas reveladoras da

imortalidade, onde estiverem. Em nome do Senhor, emitindo vibrações

santificantes, expulsarão a treva e a maldade, e serão facilmente conhecidos,

entre os homens espantados, porque falarão sempre na linguagem nova do

sacrifício e da paz, da renúncia e do amor.

178

175

TRATAMENTO DE OBSESSÕES

“E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém,

conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais

todos eram curados.” — (ÁTOS, CAPÍTULO 5, VERSÍCULO 16.)

A igreja cristã dos primeiros séculos não estagnava as idéias redentoras do

Cristo em prataria e resplendores do culto externo.

Era viva, cheia de apelos e respostas.

Semelhante a ela, o Espiritismo evangélico abre hoje as suas portas

benfeitoras a quem sofre e procura caminho salvador.

É curioso notar que o trabalho enorme dos espiritistas de agora, no socorro

às obsessões complexas e dolorosas, era da intimidade dos apóstolos. Eles

doutrinavam os espíritos perturbados, renovando pelo exemplo e pelo ensino,

não só os desencarnados sofredores, mas também os médiuns enfermos que

lhes padeciam as influências.

Desde as primeiras horas de tarefa doutrinária sabe a alma do Cristianismo

que seres invisíveis, menos equilibrados, vagueiam no mundo, produzindo

chagas psíquicas naqueles que lhes recebem a atuação, e não desconhece as

exigências do trabalho de conversão e elevação que lhe cabe realizar; os dogmas

religiosos, porém, impediram-lhe o serviço eficiente, há muitos séculos.

Em plena atualidade, todavia, ressurgem os quadros primitivos da Boa

Nova.

Entidades espirituais ignorantes e infortunadas adquirem nova luz e roteiro

novo, nas casas de amor que o Espiritismo cristão institui, vencendo preconceitos

e percalços de vulto.

O tratamento de obsessões, portanto, não étrabalho excêntrico, em nossos

círculos de fé renovadora. Constitui simplesmente a continuidade do esforço de

salvação aos transviados de todos os matizes, começado nas luminosas mãos

de Jesus.

179

176

NA REVELAÇÃO DA VIDA

“E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição

do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. —(ATOS,

CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 33.)

Os companheiros diretos do Mestre Divino não estabeleceram os serviços

da comunidade cristã sobre princípios cristalizados, inamovíveis. Cultuaram a

ordem, a hierarquia e a disciplina, mas amparavam também o espírito do povo,

distribuindo os bens da revelação espiritual, segundo a capacidade receptiva

de cada um dos candidatos à nova fé.

Negar, presentemente, a legitimidade do esforço espiritista, em nome da fé

cristã, é testemunho de ignorância ou leviandade.

Os discípulos do Senhor conheciam a importância da certeza na

sobrevivência para o triunfo na vida moral. Eles mesmos se viram radicalmente

transformados, após a ressurreição do Amigo Celeste, ao reconhecerem que o

amor e a justiça regem o ser além do túmulo. Por isso mesmo, atraíam

companheiros novos, transmitindo-lhes a convicção de que o Mestre

prosseguia vivo e operoso, para lá do sepulcro.

Em razão disso, o ministério apostólico não se dividia tão-somente na

discussão dos problemas intelectuais da crença e nos louvores adorativos. Os

continuadores do Cristo forneciam, “com grande poder, testemunho da

ressurreição do Senhor Jesus” e, em face do amor com que se devotavam à

obra salvacionista, neles havia “abundante graça.

O Espiritismo evangélico vem movimentar o serviço divino que envolve em

si, não somente a crença consoladora, mas também o conhecimento indiscutível

da imortalidade.

As escolas dogmáticas prosseguirão alinhando artigos de fé inoperante,

congelando as idéias em absurdos afirmativos, mas o Espiritismo cristão vem

restaurar, em suas atividades redentoras, o ensinamento da ressurreição

individual, consagrado pelo Mestre Divino, que voltou, Ele mesmo, das

sombras da morte, para exaltar a continuidade da vida.

180

177

GUARDEMOS SAÚDE MENTAL

“Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra.” —

Paulo. (COLOSSENSES, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO 2.)

O Cristianismo primitivo não desconhecia a necessidade da mente sã e

iluminada de aspirações superiores, na vida daqueles que abraçam no Evangelho

a renovação substancial.

O trabalho de notáveis pensadores de hoje encontra raízes mais longe.

Sabem agora, os que lidam com os fenômenos mediúnicos, que a morte da

carne não impõe as delícias celestiais.

O homem encontra-se, além do túmulo, com as virtudes e defeitos, ideais e

vícios a que se consagrava no corpo.

O criminoso imanta-se ao círculo dos próprios delitos, quando se não

algema aos parceiros na falta cometida.

O avarento está preso aos bens supérfluos que abusivamente amontoou.

O vaidoso permanece ligado aos títulos transitórios.

O alcoólatra ronda as possibilidades de satisfazer a sede que lhe domina

os centros de força.

Quem se apaixona pelas organizações caprichosas do “eu”, gasta longos

dias para desfazer as teias de ilusão em que se lhe segrega a personalidade.

O programa antecede o serviço.

O projeto traça a realização.

O pensamento é energia irradiante. Espraiemo-lo na Terra e prender-nosemos,

naturalmente, ao chão. Elevemo-lo para o Alto e conquistaremos a

espiritualidade sublime.

Nosso espírito residirá onde projetarmos nossos pensamentos, alicerces

vivos do bem e do mal. Por isto mesmo, dizia Paulo, sabiamente: — “Pensai

nas coisas que são de cima.”

181

178

COMBATE INTERIOR

“Tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e agora ouvis

estar em mim.” — Paulo. (FILIPENSES, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 30.)

Em plena juventude, Paulo terçou armas contra as circunstâncias comuns,

de modo a consolidar posição para impor-se no futuro da raça. Pelejou por

sobrepujar a inteligência de muitos jovens que lhe foram contemporâneos,

deixou colegas e companheiros distanciados. Discutiu com doutores da Lei e

venceu-os. Entregou-se à conquista de situação material invejável e conseguiua.

Combateu por evidenciar-se no tribunal mais alto de Jerusalém e

sobrepôs-se a velhos orientadores do povo escolhido. Resolveu perseguir

aqueles que interpretava por inimigos da ordem estabelecida e multiplicou

adversários em toda parte. Feriu, atormentou, complicou situações de amigos

respeitáveis, sentenciou pessoas inocentes a inquietações inomináveis,

guerreou pecadores e santos, justos e injustos...

Surgiu, contudo, um momento em que o Senhor lhe convoca o espírito a

outro gênero de batalha — o combate consigo mesmo.

Chegada essa hora, Paulo de Tarso cala-se e escuta...

Quebra-se-lhe a espada nas mãos para sempre.

Não tem braços para hostilizar e sim para ajudar e servir.

Caminha, modificado, em sentido inverso. Ao invés de humilhar os outros,

dobra a própria cerviz.

Sofre e aperfeiçoa-se no silêncio, com a mesma disposição de trabalho

que o caracterizava nos tempos de cegueira.

É apedrejado, açoitado, preso, incompreendido muitas vezes, mas

prossegue sempre, ao encontro da Divina Renovação.

Se ainda não combates contigo mesmo, dia virá em que serás chamado a

semelhante serviço.

Ora e vigia, prepara-te e afeiçoa o coração à humildade e à paciência.

Lembra-te, meu irmão, de que nem mesmo Paulo, agraciado pela visita

pessoal de Jesus, conseguiu escapar.

182

179

ENTENDAMOS SERVINDO

“Porque também nós éramos noutro tempo

insensatos.” — Paulo. (TITO, CAPÍTULO 3, VERSÍCULO

3.)

O martelo, realmente, colabora nos primores da estatuária, mas não pode

golpear a pedra, indiscriminadamente.

O remédio amargo estabelece a cura do corpo enfermo, no entanto,

reclama ciência na dosagem.

Nem mais, nem menos.

Na sementeira da verdade, igualmente, é indispensável não nos

desfaçamos em movimento impensado.

Na Terra, não respiramos num domicílio de anjos. Somos milhões de

criaturas, no labirinto de débitos clamorosos do passado, suspirando pela desejada

equação.

Quem ensina com sinceridade, naturalmente aprendeu as lições,

atravessando obstáculos duros.

Claro que a tolerância excessiva resulta em ausência de defesa justa,

entretanto, é inegável que para educarmos a outrem, necessitamos de imenso

cabedal de paciência e entendimento.

Paulo, incisivo e enérgico, não desconhecia semelhante realidade.

Escrevendo a Tito, lembra as próprias incompreensões de outra época

para justificar a serenidade que nos deve caracterizar a ação, a serviço do

Evangelho Redentor.

Jamais atingiremos nossos objetivos, torturando chagas, indicando

cicatrizes, comentando defeitos ou atirando espinhos à face alheia.

Compreensão e respeito devem preceder-nos a tarefa em qualquer parte.

Recordemos nós mesmos, na passagem pelos círculos mais baixos, e

estendamos braços fraternos aos irmãos que se debatem nas sombras.

Se te encontras interessado no serviço do Cristo, lembra-te de que Ele não

funcionou em promotoria de acusação e, sim, na tribuna do sacrifício até à

cruz, na condição de advogado do mundo inteiro.

183

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CRÊ E SEGUE

“Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao

mundo.” — Jesus. (JOÃO, CAPÍTULO 17, VERSÍCULO 18.)

Se abraçaste, meu amigo, a tarefa espiritista-cristã, em nome da fé

sublimada, sedento de vida superior, recorda que o Mestre te enviou o coração

renovado ao vasto campo do mundo para servi-lo.

Não só ensinarás o bom caminho. Agirás de acordo com os princípios

elevados que apregoas.

Ditarás diretrizes nobres para os outros, contudo, marcharás dentro delas,

por tua vez.

Proclamarás a necessidade de bom ânimo, mas seguindo, estrada a fora,

semeando alegrias e bênçãos, ainda mesmo quando incompreendido de todos.

Não te contentarás em distribuir moedas e benefícios imediatos. Darás

sempre algo de ti mesmo ao que necessita.

Não somente perdoarás. Compreenderás o ofensor, auxiliando-o a

reerguer-se.

Não criticarás. Encontrarás recursos inesperados de ser útil.

Não deblaterarás. Valer-te-ás do tempo para materializar os bons

pensamentos que te dirigem.

Não disputarás inutilmente. Encontrarás o caminho do serviço aos

semelhantes em qualquer parte.

Não viverás simplesmente no combate palavroso contra o mal. Reterás o

bem, semeando-o com todos.

Não condenarás. Descobrirás a luz do amor para fazê-la brilhar em teu

coração, até o sacrifício.

Ora e vigia.

Ama e espera.

Serve e renuncia.

Se não te dispões a aproveitar a lição do Mestre Divino, afeiçoando a

própria vida aos seus ensinamentos, a tua fé terá sido vã.

Fim